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O que é a dor?

A dor pode ser descrita como uma sensação desagradável de intensidade leve, moderada ou intensa. A experiência é individual, podendo ser desencadeada por questões físicas ou emocionais.

Entre adultos brasileiros, a prevalência de dor crônica – aquela de longo prazo – chega a 40%, segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Dor Crônica, do Ministério da Saúde. Diante desse índice, é importante conhecer as causas e formas de gerenciar esse incômodo, que tem grande impacto no dia a dia das pessoas afetadas.

Qual a definição de dor?

Entre as definições de dor mais aceitas globalmente está a da Associação Internacional para Estudos da Dor (IASP). Segundo a organização, trata-se de “uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou semelhante àquela associada a uma lesão tecidual real ou potencial”.

Para chegar a esse conceito, a IASP contou com a contribuição de 14 profissionais da área médica. O grupo elaborou um documento no qual apresenta também análises, recomendações e notas explicativas sobre a dor.

É importante notar que não há como medir a intensidade da dor, sobretudo porque é uma sensação individual. No entanto, os profissionais da área médica costumam usar escalas analógicas numéricas para que os pacientes avaliem a intensidade do incômodo de zero a 10 ou de zero a 100.

O que causa a dor?

A dor é uma forma de proteção do corpo diante de um perigo iminente. Geralmente, ela ocorre quando os nervos que detectam lesões no tecido (reais ou potenciais) transmitem a informação pela coluna espinhal até chegar ao cérebro. Dessa forma, a manifestação funciona como um limite de segurança, a fim de evitar danos maiores ao corpo.

Em geral, a dor se manifesta quando surge algum problema de saúde, ou seja, é considerada um sintoma. Pode atingir qualquer parte do corpo e, a depender da intensidade, exigir tratamento médico imediato.  

É importante destacar que, por ser uma sensação subjetiva, a manifestação da dor nem sempre está atrelada a essa conexão neural. Problemas psicológicos e fatores sociais podem desencadear a experiência por meio de mecanismos ainda mais complexo no cérebro.

Quais são os tipos de dor?

A dor é uma experiência individual, mas pode ser classificada de acordo com a sua intensidade e durabilidade. Há o tipo crônico, agudo e disruptivo. Confira mais sobre cada um:

Dor crônica ou persistente – esse tipo de dor ocorre por um longo período – em geral, mais de três meses. Com relação à intensidade, varia entre leve e moderada. Por ser persistente, o incômodo surge mesmo quando não há danos ao tecido. É uma condição que exige tratamento, pois interfere na vida de modo global.

Dor aguda – é intensa e permanece por menos tempo (horas ou dias). É um sintoma de que o corpo está sendo ferido e, geralmente, some com a cicatrização do ferimento.

Dor disruptivanesse caso, mesmo com tratamento, a dor permanece.  É denominada disruptiva porque interrompe o alívio proporcionado por medicamentos. Costuma aparecer de forma rápida e pode prevalecer por até uma hora. Geralmente, ela tem a mesma causa da dor crônica e difere dela apenas na intensidade.

Entre dor aguda, dor disruptiva e dor crônica, esta última é a que mais causa impactos negativos e sofrimento aos pacientes, embora seja possível controlá-la. A dor crônica pode causar:

  • Imobilidade;
  • Alterações do sono;
  • Problemas nutricionais;
  • Dependência de medicamentos;
  • Incapacidade para o trabalho;
  • Medo;
  • Depressão;
  • Frustração.

Quais condições de saúde podem causar dor crônica?

A dor crônica pode se manifestar em diversas regiões do corpo devido a complicações de saúde graves ou menos severas. De acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Dor Crônica do Ministério da Saúde, a lombalgia, que atinge a parte inferior da coluna, é a dor crônica mais comum entre os brasileiros, seguida de dores no joelho, ombro, cabeça, pernas. A dor crônica pode ser causada por diversas doenças, tais como:

  • Artrite;
  • Enxaqueca;
  • Fibromialgia;
  • Câncer;
  • AIDS;
  • Doenças cardíacas;
  • Tuberculose;
  • Doença cerebrovascular;
  • Doenças hepáticas. ;

No caso do câncer, a dor surge em todas as fases da doença e pode ser o primeiro indício para o diagnóstico. Se apresenta de modo complexo, sendo menos ou mais frequente de acordo com a região atingida pelas células cancerígenas. Vale mencionar que cerca de um terço desses pacientes, ainda que curados, podem continuar sentindo dor.

Como a dor é tratada?

A dor pode ser tratada de diferentes maneiras, de acordo com sua classificação e relação com doenças. Como ela pode ser indício de uma doença, a recomendação é procurar um médico, evitando a automedicação, que pode apresentar riscos e mascarar o problema de saúde. O tratamento pode envolver:

  • Uso de medicamentos – a exemplo dos analgésicos.
  • Abordagens não farmacológicas – envolve, por exemplo, a prática de exercícios físicos e terapia cognitivo-comportamental;
  • Educação do paciente explicar as causas, o tratamento recomendado, além de abordar comportamentos que podem favorecer ou não a dor;
  • Abordagens invasivas – quando há necessidade de intervenções cirúrgicas e administração de medicamentos que não seja por via oral;
  • Programas de gerenciamento de dor: junção de terapias e uso de fármacos para pessoas com dor crônica.

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Referências


Qual a relação entre dor crônica e dor neuropática?

A dor neuropática é um dos principais tipos de dor crônica – aquelas que persistem por meses ou anos. Causada por uma lesão ou disfunção do sistema nervoso, ela atinge cerca de 3 a 17% da população mundial. Se não diagnosticada a tempo, a pessoa pode ter sua qualidade de vida reduzida e perder a capacidade até de realizar tarefas cotidianas. A dor é um sinal de alerta muito importante de que algo no organismo não está funcionando como deveria. Continue a leitura para saber mais sobre o assunto.

O que é dor neuropática?

A dor neuropática é uma dor intensa nos nervos do corpo, resultado de uma disfunção do sistema nervoso, no qual as fibras nervosas danificadas enviam sinais errados para os centros de dor. Pode ser acompanhada por outros sintomas e mais de um nervo pode estar envolvido, o que leva a uma dor generalizada, afetando o tronco, as pernas e os braços. A dor pode ser intermitente ou contínua e a sua intensidade pode ser de leve a muito intensa, dependendo da causa e dos nervos que estão envolvidos.

Um exemplo de dor neuropática é a chamada síndrome do membro fantasma. Essa condição rara ocorre quando um braço ou uma perna foi removido por causa de uma doença ou lesão, mas o cérebro ainda recebe mensagens de dor dos nervos que originalmente carregavam impulsos do membro ausente. Esses nervos então falham e causam dor.

O que causa a dor neuropática?

A dor neuropática acontece quando uma espécie de “curto-circuito” altera os sinais nervosos, que são então interpretados no cérebro anormalmente, podendo causar sensações bem dolorosas. Cerca de 30% de todas as dores nos nervos (dor neuropática) são causadas por diabetes, mas outras doenças como alcoolismo e herpes zoster podem ser a causa.

Causas comuns de dor neuropática incluem:

  • Pressão do nervo ou lesão do nervo após cirurgia ou trauma;
  • Infecções virais;
  • Câncer, malformações vasculares;
  • Condições neurológicas, como esclerose múltipla;
  • Condições metabólicas, como diabetes;
  • Efeito colateral de certos medicamentos;
  • Amputação;
  • Quimioterapia;
  • Problemas no nervo facial;
  • Infecção por HIV ou AIDS;
  • Mieloma múltiplo;
  • Compressão do nervo ou da medula espinhal por hérnia de disco ou por artrite na coluna;
  • Herpes-zóster (cobreiro);
  • Sífilis;
  • Problemas de tireoide.

Quais são os sintomas de dor neuropática?

Os sintomas de dor neuropática podem incluir:

  • Dor intermitente ou contínua, de intensidade leve a muito intensa. Algumas pessoas podem até achar difícil usar roupas grossas, pois mesmo uma leve pressão pode agravar a dor;
  • Dor espontânea (dor que vem sem estimulação): queimação, pontada ou dor tipo choque elétrico; formigamento, dormência ou sensação de alfinetes e agulhas;
  • Dor evocada, provocada por estímulos normalmente não dolorosos, como frio, escovação suave contra a pele, pressão etc.;
  • Dificuldade em detectar corretamente as temperaturas;
  • Problemas para dormir;
  • Problemas emocionais devido a distúrbios do sono e dor.

Qual a relação entre dor crônica e dor neuropática?

A dor neuropática é um dos principais tipos de dor crônica. A dor crônica é aquela que persiste por processos patológicos crônicos, de forma contínua ou recorrente. Ela implica alto impacto social, sendo frequentemente associada com outras doenças crônicas.

Em suma, se o desconforto persiste por mais de três meses e provoca incômodo constante e perda funcional, pode ser classificado como dor crônica.

  • No Brasil, a dor crônica afeta entre 28% e 41% da população.

Como a dor neuropática é diagnosticada?

Geralmente, o médico realiza o diagnóstico de dor neuropática a partir dos seguintes passos:

Avaliação dos sintomas e fatores de risco – o médico, inicialmente, realizará uma entrevista, na qual o paciente descreverá a dor, quando ocorre ou se algo específico a desencadeia. O especialista também investigará a presença de fatores de risco para dor neuropática, como a presença de uma doença crônica.

Realização de exames – o médico também realizará um exame físico e pode solicitar exames laboratoriais e testes para avaliar a função do sistema nervoso.

O diagnóstico de dor neuropática normalmente é sugerido quando a dor é desproporcional ao tipo de lesão tecidual e se forem detectadas alterações durante o exame neurológico. Às vezes, nenhuma causa identificável é encontrada.

Como a dor neuropática é tratada?

Atualmente, não existe cura para a dor neuropática. O tratamento tem como objetivo o alívio dos sintomas e, geralmente, envolve uma abordagem com múltiplos profissionais e uma combinação de terapias.

A dor neuropática não responde muito bem aos tratamentos habituais para a dor, sendo necessário o uso de medicamentos específicos prescritos pelo médico. A estimulação elétrica dos nervos envolvidos na dor neuropática pode controlar significativamente os sintomas. Outros tipos de terapias também podem ajudar com a dor neuropática, tais como:

  • Fisioterapia;
  • Terapia de relaxamento;
  • Massoterapia;
  • Acupuntura.

Importante: existem vários tratamentos disponíveis para a dor neuropática e, muitas vezes, é um processo de “tentativa e erro” para encontrar a melhor opção para um indivíduo. Cada pessoa é diferente e o médico levará em consideração as necessidades de cada um. Portanto, nunca se automedique. O profissional de saúde pode sugerir o encaminhamento a uma clínica de dor para avaliação, manejo e aconselhamento sobre como viver com dor crônica.

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IM/ACP 2021: como fazer o manejo ambulatorial da dor crônica?

Começou o Internal Medicine Meeting da American College of Physicians (IM/ACP 2021), um dos maiores encontros de Medicina Interna da atualidade. Estamos juntos realizando a cobertura do evento, que devido às limitações da pandemia, está em formato virtual.

Neste post, vamos revisar estratégias ambulatoriais de abordagem à dor crônica, com base na palestra realizada por Michael Ashburn, professor de Anestesia e Terapia Intensiva da University of Pensylvania.

Que intervenções não opioides têm mostrado redução de dor crônica?

O primeiro ponto abordado pelo palestrante, foi que o tratamento da dor crônica passa por várias esferas de abordagem, incluindo depressão, ansiedade, distúrbio do sono, questões familiares, limitações físicas. Vale também considerar que boa parte das pessoas que têm dor crônica apresentam estados anormais de dor (dor neuropática e dor miofascial). Neste contexto, deve-se focar no paciente e na sua experiência de sofrimento. Pensar apenas em nociceptores não trará os melhores impactos em pacientes que apresentam uma dor complexa.

É importante que sejam rastreadas e tratadas situações como: depressão, catastrofização da dor e ansiedade. Foram sugeridos respectivamente as seguintes escalas: PHQ-9, Pain Catastrophizing Scale e GAD-7 para rastreio. O efeito do tratamento dessas questões não é pequeno. O palestrante citou redução da dor em 45% quando tratada a depressão, 33% com o tratamento da catastrofização da dor e 12% com tratamento de ansiedade.

Há evidências de que a terapia cognitiva-comportamental tem valor para condições de dor crônica, ela inclui abordagem educacional sobre dor crônica, higiene do sono, pensamentos inapropriados e prevenção de recaídas. A frequência sugerida é de seis a oito sessões individuais ou em grupo. Além disso, citou efeitos positivos com a prática de mindfullness.

Os exercícios também foram ressaltados com uma opção de terapia. Modalidades passivas ajudam, porém acabam tendo efeito mais curto. O desafio é fazer com que o paciente esteja engajado em atividade física em sua rotina.

Quando decidir pelo uso temporário de opioides?

Para responder esta questão, o Dr Michael Ashburn trouxe alguns conceitos importantes para dor aguda:

  • O tratamento apropriado da dor é importante, porém carrega risco significativo de malefícios.
  • As expectativas do paciente e do prescritor são um ponto crítico.
  • O tratamento multimodal deve ser um ponto central (anestésicos locais, analgésicos não opioides, opioides em uso curto).
  • Opioides devem ser usados com muito cuidado e atenção, de preferência com uma data de término bem documentada. Não facilite a transição entre uso agudo e uso crônico de opioides.

Opioides para dor crônica: menos é mais

  • O efeito dos opioides é modesto, com média de alívio não sendo maior que 40%.
  • Opioides podem ser prejudiciais aos pacientes.
  • Devem ser administrados no contexto de cuidado integrado.
  • Deve-se avaliar os riscos cuidadosamente antes de prescrever: risco de abuso/dependência; risco de comprometimento respiratório (distúrbio respiratório associado ao sono, patologias respiratórias, outras medicações depressoras do sistema respiratório); risco de falência de tratamento (dor generalizada, cefaleia crônica diária); risco específico de cada medicação (metadona).

Mensagem prática

  • No tratamento da dor crônica deve-se avaliar várias esferas, incluindo depressão, ansiedade, distúrbio do sono, questões familiares, limitações físicas. O foco deve ser no paciente e na sua experiência de sofrimento, não apenas em nociceptores.
  • O tratamento multimodal deve ser um ponto central (anestésicos locais, analgésicos não opioides, opioides em uso curto).
  • Opioides devem ser usados com muito cuidado e atenção, de preferência com uma data de término bem documentada.

Fonte

https://pebmed.com.br/im-acp-2021-como-fazer-o-manejo-ambulatorial-da-dor-cronica/

Autor(a)

Dayanna de Oliveira Quintanilha

Editora associada do Portal PEBMED ⦁ Especialista em Clínica Médica pela Universidade Federal Fluminense (UFF) ⦁ Graduação em Medicina pela UFF ⦁ Contato: dayquintan@hotmail.com ⦁ Instagram: @dayquintan

Referência Bibliográfica

  • Michael Ashburn, MD MPH MBA. Palestra Managing Chronic Pain in the Outpatient Setting – ACP meeting 2021.