Como realizar o manejo da enxaqueca hemiplégica?

A característica marcante da enxaqueca hemiplégica é a fraqueza unilateral que acompanha a crise de enxaqueca, uma manifestação da aura motora. A aura da enxaqueca hemiplégica é provavelmente causada pela depressão cortical disseminada, uma onda de despolarização neuronal e glial que se espalha pelo córtex cerebral.

Subtipos de enxaquecas hemiplégicas: familiar x esporádica

Dentre as enxaquecas hemiplégicas familiares (EHF), três merecem destaque – são canalopatias numeradas de acordo com o gene envolvido:

  • A enxaqueca hemiplégica familiar tipo 1 (EHF1) é causada por mutações no gene CACNA1A;
  • Enxaqueca hemiplégica familiar tipo 2 (EHF2) é causada por mutações no gene ATP1A2;
  • E a enxaqueca hemiplégica familiar tipo 3 (EHF3) é causada por mutações no gene SCN1A.

Como esses tipos são transmitidos em um padrão autossômico dominante, o filho de um pai com enxaqueca hemiplégica familiar tem 50% de chance de herdar a mutação, embora a penetração dessas mutações seja variável. As mutações no gene PRRT2 não são claramente identificadas como causa da EHF.

Os pacientes que são o primeiro membro da família a ter enxaqueca hemiplégica são classificados como portadores do tipo esporádica.

A enxaqueca hemiplégica é um distúrbio raro. As formas familiar e esporádica ocorrem com igual prevalência e a idade média de início é de 12 a 17 anos.

Sintomas motores

Geralmente começam na mão e gradualmente se espalham no braço e depois na face. As características unilaterais da enxaqueca hemiplégica podem mudar de dimídio entre ou durante as crises. No entanto, sinais motores bilaterais ocorrem em até um terço dos pacientes, afetando os dois lados sucessivamente ou simultaneamente. O grau de fraqueza motora pode variar de leve a grave.

Em uma minoria, a fraqueza motora ou outros sintomas da aura podem se desenvolver de forma aguda (isto é, em menos de cinco minutos) e podem mimetizar um acidente vascular cerebral. As auras da enxaqueca hemiplégica costumam ser prolongadas; 41 a 58% dos pacientes têm auras com duração maior que 60 minutos e 2 a 8% têm auras com duração ≥ 24 horas.

O exame neurológico

Durante uma crise, a presença de um sinal de Babinski ou hiperreflexia podem ser notados. Entre as crises, a maioria dos pacientes tem um exame neurológico normal.

A maioria das pessoas com enxaqueca hemiplégica familiar tipo 1 e uma minoria do tipo 2 podem apresentar achados cerebelares, incluindo nistagmo evocado pelo olhar, disartria ou ataxia da marcha ou dos membros.

Critérios diagnósticos

A Classificação Internacional de Distúrbios da Dor de Cabeça, terceira edição (ICHD-3), para enxaqueca hemiplégica exige que as crises cumpram os critérios para enxaqueca com aura e apresentem adicionalmente sintomas de aura complexos que envolvam a fraqueza motora.

Os critérios para enxaqueca hemiplégica familiar exigem adicionalmente que pelo menos um parente de primeiro ou segundo grau tenha sofrido crises cumprindo os critérios para ela. Os critérios para o tipo esporádica especificam que nenhum parente de primeiro ou segundo grau apresentou crises cumprindo os mesmos critérios.

Embora os critérios da ICHD-3 exijam sintomas de aura totalmente reversíveis, em pacientes com enxaqueca hemiplégica os sintomas motores podem ser prolongados (por exemplo, até 72 horas) e raramente podem levar a déficits neurológicos permanentes.

Tratamento

O tratamento da enxaqueca hemiplégica envolve tratamento farmacológico com agentes normalmente usados para abortar ou prevenir a enxaqueca que não potencializam o risco de vasoconstrição cerebral. Devido à presença de déficit neurológico associado, pacientes com crises graves necessitam de internação.

Para pacientes com aura prolongada ou frequente, o verapamil é uma opção. Para os que necessitam de profilaxia, flunarizina, topiramato ou amitriptilina podem ser indicados. Já nos pacientes com enxaqueca hemiplégica familiar, é sugerido acetazolamida. A lamotrigina e a toxina botulínica são opções para aqueles que não respondem à terapêutica de primeira linha. Para crises graves, o uso de corticoide pode ser benéfico.

Triptanos e derivados da ergotamina são contraindicados na enxaqueca hemiplégica devido ao potencial de vasoconstrição cerebral, porém alguns especialistas argumentam que a contraindicação deve ser reconsiderada. Os betabloqueadores são outro grupo de drogas que são evitados como terapia preventiva.

Fonte: https://pebmed.com.br/como-realizar-o-manejo-da-enxaqueca-hemiplegica/

Autor(a):

Felipe Resende Nobrega
Residência Médica em Neurologia (UNIRIO) • Mestre em Neurologia (UNIRIO) • Professor de Clínica Médica da UNESA

Referências bibliográficas:

  • Uchitel J, Helseth A, Prange L, et al. The epileptology of alternating hemiplegia of childhood. Neurology 2019; 93:e1248.
  • Schwedt TJ, Zhou J, Dodick DW. Sporadic hemiplegic migraine with permanent neurological deficits. Headache 2014; 54:163.
  • Zarcone D, Corbetta S. Shared mechanisms of epilepsy, migraine and affective disorders. Neurol Sci 2017; 38:73.

Doença do refluxo gastresofágico: revisão recente

A doença do refluxo gastresofágico (DRGE), apesar de possuir alguns diagnósticos diferenciais, pode ser facilmente caracterizada durante a história clínica do paciente. Durante a endoscopia, o refluxo pode ser visualizado assim como suas complicações mais frequentes como esofagite ou até mesmo estenoses.

Uma revisão recente foi publicada no JAMA, com ênfase no tratamento clínico da DRGE e resume de forma objetiva alguns pontos importantes na terapêutica. Vamos dividir em duas partes para abordar todos os pontos.

Métodos

Metanálise com estudos relacionados a DRGE. Houve uma ênfase para em ensaios clínicos, revisões sistemáticas e guidelines, publicados entre janeiro de 2015 e setembro de 2020. Ao total foram levantados 114 artigos, sendo 9 ensaios clínicos, 23 metanálises e 7 guidelines.

Resultados

A prevalência DRGE apesar de variar conforme a região e o estudo analisado, está em torno de 13,3% nos adultos chegando a 22,1% no sul da Ásia. Mesmo na população adulta há diferença entre as faixas etárias e nos estudos que fizeram esta comparação a prevalência nos menores que 50 anos era de 14% enquanto nos maiores que 50 anos chegava a 17,3%. Alguns estudos mostraram um discreto predomínio do sexo feminino, porém na análise global não houve diferença.

A obesidade é um importante fator para desencadear a DRGE, uma metanálise demostrou 22,1% de DRGE nos obesos e 14,2% dos não obesos. Diversos são os fatores relacionados a isto e o aumento da pressão intra-abdominal, além de níveis elevados de estrogênio e também maior prevalência de hérnia de hiato contribuem em conjunto para este achado.

Uma revisão também associou o uso de tabaco com o desenvolvimento de DRGE, e na análise foi demostrado que os fumantes possuem uma razão de chance de 1,26 de possuírem refluxo quando comparada aos não fumantes. O tabaco aumenta o tempo de clearance de eventuais refluxos fisiológicos, além de diminuir o tônus do esfíncter inferior.

Por estranho que pareça a infecção por H. pylori é protetora na questão de desenvolvimento de DRGE, visto que a infecção crônica gera uma atrofia da mucosa gástrica e com isto diminuição da produção de ácido pelas células parietais. Dados compilados de 4 estudos demostraram que a erradicação do H. pylori estava associada a um risco relativo de 1,46 vezes para o desenvolvimento de DRGE.

Os sintomas de DRGE, apesar de típicos, possuem alguns diagnósticos diferenciais entre eles e a própria gastrite. Sintomas que surgem durante a atividade física devem ter especial atenção quanto a doenças coronarianas.

Consequências da doença do refluxo gastresofágico

Esofagite é a complicação mais frequente e está presente entre 18 a 25 % dos pacientes com GERD. Importante ressaltar que alguns pacientes podem apresentar esofagite e serem assintomáticos. Os casos confirmados de esofagites devem ser tratados com inibidores de bomba de prótons (IBP) por longo prazo, visto que a suspensão pode reativar sintomas. A dose deve ser titulada para a menor dose que alivie sintomas. A esofagite não tratada acarreta estenoses esofágicas.

Talvez uma das temidas consequências da DRGE é a metaplasia intestinal no esófago, também chamada de esófago de Barrett, devido a sua evolução para displasia e correlação direta com adenocarcinoma esofágico. Dentre os pacientes com DRGE a prevalência é de 7,2% sendo que 13,9% apresentam displasia. O risco de evolução para adenocarcinoma é baixo em pacientes sem displasia, porém, elava consideravelmente quando a displasia está presente. Neste contexto, as endoscopias devem ser realizadas a cada 6 meses naqueles que apresentam displasia e a cada 3 a 5 anos nos casos sem displasia. Assim como na esofagite, os pacientes devem manter IBP por longo prazo.

Para levar para casa

A DRGE é bastante frequente e certamente subdiagnosticada, visto que a automedicação é frequente nesta patologia. Importante lembrar das consequências danosas que um tratamento inadequado a longo prazo pode acarretar e toda vez que nos depararmos com um caso de longa duração é fundamental uma investigação mais profunda, mesmo que os pacientes tenham sintomas controlados.

Fonte: https://pebmed.com.br/doenca-do-refluxo-gastresofagico-revisao-recente/

Autor(a): Felipe Victer

Cirurgião geral ⦁ Hospital Universitário Pedro Ernesto ⦁ Hospital Universitário Clementino fraga filho (UFRJ) ⦁ Felllow do American College of Surgeons ⦁ Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões ⦁ Membro da Sociedade Americana de Cirurgia Gastrointestinal e Endoscópica (Sages) ⦁ Ex-editor adjunto da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (2016 a 2019)

Referências bibliográficas:

  • Maret-Ouda J, Markar SR, Lagergren J. Gastroesophageal Reflux Disease: A Review. JAMA. 2020;324(24):2536–2547. doi:1001/jama.2020.21360
  • Graham DY, Tansel A. Interchangeable Use of Proton Pump Inhibitors Based on Relative Potency. Clin Gastroenterol Hepatol. 2018;16(6):800-808.e7. doi:1016/j.cgh.2017.09.033

Relação da alimentação, microbiota e imunidade no tratamento de crianças com sintomas de doenças respiratórias (não necessariamente SARS-CoV-2)

No Brasil, cada estado da federação tem autonomia para determinar as fases da quarentena e estratégias de isolamento devido à pandemia pelo SARS-CoV-2.  Autoridades públicas determinaram as datas de reabertura de escolas e de setores do comércio conforme o atendimento a critérios sanitários: média da taxa de ocupação de leitos de UTI exclusivos para pacientes com coronavírus, número de novas internações no mesmo período e o número de óbitos.1,3

A reabertura das escolas iniciou-se com as atividades do Ensino Médio e deve respeitar limites máximos de alunos e protocolos sanitários. Diante dessa nova etapa de retorno às aulas, a saúde das crianças torna-se especificamente um ponto de atenção a todos, em especial no que se refere às crianças que apresentem problemas usuais de imunidade e sintomas de doenças respiratórias (não necessariamente SARS-CoV-2).2,3

Segundo o Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, as evidências científicas atuais disponíveis mostram que as infecções pelo SARS-CoV-2 parecem afetar as crianças com menos frequência e menos gravidade do que adultos. No entanto, como a maioria das crianças infectadas não apresenta sintomas ou os sintomas são menos graves, os testes diagnósticos não são realizados em muitos casos, fazendo com que o número real de crianças infectadas seja subestimado. A  importância das crianças na cadeia de transmissão do vírus permanece incerta.5

As recomendações médicas indicam que crianças não devem ir às escolas caso apresentem indicativos de problemas de imunidade, imunidade baixa, possuam doenças crônicas, assim como alguns dos seguintes sintomas (ainda que possam não resultar em diagnóstico por infecção pelo SARS-CoV-2), a saber:2

  • teve um ou mais dos seguintes sintomas: febre (medida ou referida), calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos (perda do olfato), distúrbios gustativos (perda do paladar), diarreia e dor no corpo;
  • teve contato nos últimos 14 dias com alguém que testou positivo para Covid-19 (ficou a menos de 1 metro de distância por ao menos 15 minutos) e
  • teve sintomas de gripe.

Com o retorno às atividades presenciais, todas as crianças, em especial aquelas que apresentem problemas usuais de imunidade e sintomas de doenças respiratórias, devem ser supervisionadas quanto à necessidade de readequação alimentar. O cuidado com a alimentação familiar precisa ser redobrado, especialmente quando a criança frequenta creches e pré-escolas e essas unidades escolares oferecem as principais refeições do dia. A orientação alimentar pelo pediatra tem papel decisivo na construção da base nutricional, se estendendo à família como um todo.6

A atuação do sistema imunológico, contra infecções virais como a que ocorre pelo SARS-CoV-2, perpassa pelas escolhas alimentares. Cerca de 70 a 80% das células imunológicas estão localizadas no sistema gastrointestinal, ou seja, a funcionalidade do sistema imunológico tem direta relação com o estabelecimento de uma microbiota intestinal equilibrada. Em bebês e crianças, é necessário que ocorra um processo de colonização microbiana altamente sincronizada, para garantir que os microrganismos corretos estejam presentes no trato gastrointestinal. Nesse sentido, o uso de probióticos é recomendado conforme a orientação médica para cada caso.7  

Durante o quadro de quarentena flexível e relaxamento das medidas de isolamento social, o respeito às condutas para controle da disseminação do vírus se torna imprescindível como ação preventiva no cuidado com as crianças. Quando se tratar de condição grave, as regras para afastamento temporário devem ser consideradas. A liberação para retorno de estudantes afastados com sinais e/ou sintomas de doenças respiratórias é de responsabilidade médica.6

Para as situações em que o diagnóstico for confirmado, segundo o Protocolo Brasileiro para Diagnóstico e Manejo de Pacientes Pediátricos com Covid-19, a conduta terapêutica segue com a identificação, isolamento e tratamento conforme severidade do caso, a saber: casos suspeitos, casos leves, pacientes graves e pacientes graves com dispneia e/ou hipóxia.4

Referências

1 – Portal do Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Atos Normativos. Súmulas, Pareceres e Resoluções. Secretarias. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/atos-normativos–sumulas-pareceres-e-resolucoes?id=12816. Acesso em: 25 out. 2020.

2 – Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Notícias. Volta Segura da Educação. Disponível em: https://www.educacao.sp.gov.br/noticias/volta-segura-retorno-opcional-em-sp-partir-de-8-de-setembro-tire-duvidas/. Acesso em: 25 out. 2020.

3 – Plano SP. Governo do Estado de São Paulo. Retomada Consciente. 2020. Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/planosp/. Acesso em: 25 out. 2020.

4 – DE CASTRO, Roberta Esteves Vieira. Protocolo Brasileiro par Diagnóstico e Manejo de Pacientes Pediátricos com Covid-19. 2020. Disponível em: https://pebmed.com.br/protocolo-brasileiro-para-diagnostico-e-manejo-de-pacientes-pediatricos-com-covid-19/. Acesso em: 25 out. 2020.

5 – SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria. Infecção em crianças pelo Coronavírus (Covid-19). Departamento Científico de Infectologia. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/doencas/infeccao-em-criancas-pelo-coronaviruscovid-19/. Acesso em: 25 out. 2020.

6 – SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria – O Ano Letivo de 2020 e a Covid-19.

Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22514c-NA_-_O_Ano_Letivo_de_2020_e_a_COVID-19.pdf/ Acesso em: 25 out. 2020.

7 – Especialistas da SBP debatem o impacto da microbiota intestinal pós-Covid. Disponível em:  https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/especialistas-da-sbp-debatem-o-impacto-da-microbiota-intestinal-pos-covid/. Acesso em: 25 out. 2020.

Suplementação de probiótico ajuda o sistema digestivo de bebês?

Segundo uma pesquisa publicada no jornal Pediatric Research, a suplementação de Bifidobacterium longum subspecies infantis (B. infantis) no primeiro mês pós-natal, em combinação com o leite materno, resultou em colonização estável que persistiu até, pelo menos, um ano após o nascimento da criança, isto é, o probiótico pode persistir no intestino de bebês por até um ano, tendo um importante papel para um sistema digestivo saudável.

O leite materno fornece um amplo espectro de moléculas biologicamente ativas que auxiliam no desenvolvimento e maturação do intestino e do sistema imunológico inato e adaptativo, além de apoiar o crescimento da microbiota intestinal protetora. O B. infantis é uma bifidobactéria intestinal que ajuda na digestão de oligossacarídeos encontrados no leite materno. A bactéria já foi comumente encontrada em bebês amamentados com leite materno, mas praticamente desapareceu nos países industrializados. Estudos recentes relataram uma microbiota intestinal disfuncional em lactentes em aleitamento materno. Acredita-se que a redução dramática se deva a fatores como o aumento do uso de antibióticos, alimentação com fórmula e parto cesáreo. O uso de probióticos tem sido aplicado na tentativa de restaurar a microbiota intestinal. No entanto, pesquisas mostraram que a colonização foi transitória, inconsistente entre os indivíduos ou não impactou positivamente o intestino do hospedeiro.

Análise atual

Pesquisadores da University of California Davis realizaram um estudo de acompanhamento de 2 anos para um ensaio randomizado controlado em que bebês de 7 dias de vida receberam 1,8 × 1010 unidades formadoras de colônias de B. infantis EVC001 diariamente durante 21 dias ou apenas leite materno não suplementado. No estudo de acompanhamento, as mães (n = 48) coletaram as fezes do bebê aos 4, 6, 8, 10 e 12 meses de vida do bebê e completaram um questionário de dieta saudável. Em um estudo anterior, denominado IMPRINT, os pesquisadores avaliaram bebês saudáveis, a termo, amamentados com o mesmo suplemento de probiótico durante o mesmo período de 21 dias consecutivos, também começando no sétimo dia pós-natal e observaram colonização persistente de B. infantis nas fezes do bebê um mês após a suplementação.

Os cientistas observaram que a presença de B. infantis nas fezes foi 2,5 a 3,5 unidades log mais altas aos 6 a 12 meses de vida no bebê no grupo que recebeu a suplementação em comparação ao grupo amamentado com leite materno sem o suplemento (P < 0,01) e esta relação se fortaleceu com a exclusão de bebês que consumiram fórmula infantil e antibióticos. Os bebês do grupo que receberam o probiótico apresentaram significativamente mais Bifidobacteriaceae e menos Bacteroidaceae e Lachnospiraceae (P < 0,05). Não houve diferenças nas condições de saúde entre os dois grupos. Bacteroidaceae é uma família de bacilos Gram-negativos, anaeróbios obrigatórios e não esporulados, comumente encontrados no cólon adulto humano saudável. Enquanto a maioria dos membros desta família são considerados comensais, algumas espécies, como Bacteroides fragilis, incluem cepas patogênicas. A família Bacteroidaceae também contêm um conjunto expandido de genes codificados em loci de utilização de polissacarídeos, permitindo o consumo de ambos alimentos dietéticos polissacarídeos, bem como glicanos derivados do hospedeiro. Especificamente, Bacteroides thetaiotaomicron e B. fragilis, comuns no intestino neonatal, lançam mão de um grande conjunto de loci de utilização de polissacarídeo de degradação de mucina para catabolizar oligossacarídeos. Além disso, evidências atuais sugerem que a espécie Ruminococcus gnavus, que pertence à família Lachnospiraceae, pode desempenhar um papel fundamental na alergia e no desenvolvimento imunológico em bebês e na inflamação no intestino de pacientes adultos com doença de Crohn.

Mensagem final

A relevância desse estudo está no fato de que a colonização em longo prazo de um probiótico após a interrupção de seu consumo não havia sido demonstrada anteriormente. Esses resultados apoiam a importância de combinar um microrganismo específico com uma fonte de carboidrato que ele consome seletivamente, fornecendo assim um nicho ecológico aberto para que a bactéria possa ocupar. Os pesquisadores observaram que bebês amamentados com uma suplementação de uma cepa específica de B. infantis (EVC001) que utiliza com eficiência todas as estruturas do oligossacarídeo no leite humano por um breve período resultou em colonização sustentada um ano após a suplementação. A microbiota intestinal na primeira infância desempenha um papel crítico no desenvolvimento do sistema imunológico e na programação metabólica que tem impactos para a saúde por toda a vida. Mudanças na composição da microbiota intestinal com bactérias menos protetoras e patógenos potenciais mais elevados associados a um estilo de vida ocidental parecem aumentar os riscos de desenvolvimento de doenças alérgicas, inflamatórias e autoimunes. Com base nesses resultados, os pesquisadores frisam a necessidade de grandes ensaios clínicos para determinar se a suplementação de B. infantis EVC001 nos primeiros anos de vida previne o desenvolvimento dessas doenças na criança até a idade adulta.

Fonte:  PEBMED

https://pebmed.com.br/suplementacao-de-probiotico-ajuda-o-sistema-digestivo-de-bebes/

Autora: Roberta Esteves Vieira de Castro. Doutora em Medicina pela UERJ, mestre em Saúde Materno-Infantil pela UFF e pós-graduanda em neurointensivismo pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino

Referências bibliográficas:

O’Brien CE, Meier AK, Cernioglo K, et al. Early probiotic supplementation with B. infantis in breastfed infants leads to persistent colonization at 1 year [published online ahead of print, 2021 Mar 24]. Pediatr Res. 2021;10.1038/s41390-020-01350-0. doi:10.1038/s41390-020-01350-0

A dança traz benefícios para a saúde física e mental para miastênicos

Uma rotina que inclui a prática de exercícios diários como caminhada, ioga ou exercício de fortalecimento muscular melhora a condição de saúde do portador de Miastenia Gravis.

Um artigo escrito pelo pesquisador Nils Erik Gilhus, professor de Neurologia da Universidade de Bergan, na Noruega, e publicado no PubMed em dezembro de 2020, mostrou que exercícios físicos são seguros para pacientes com Miastenia Gravis. Com dados em estudos, o artigo mostrou que o treinamento físico aumenta a força muscular em pacientes com a doença. A função muscular respiratória, segundo o artigo, também melhora com o treinamento de resistência em pacientes com Miastenia Gravis.

Outro artigo realizado por pesquisadores indianos na área de Neurologia Clínica, e publicado em 2019 pela Karger (editora de revistas e livros científicos), mostrou que a prática regular de exercícios físicos, de leve a moderada intensidade, durante 30 minutos, melhora a qualidade de vida dos miastênicos.

Isso porque a Mistenia Gravis é uma doença neuromuscular caracterizada pela súbita interrupção da comunicação natural entre nervos e músculos, causando fraqueza muscular. Como ela afeta a parte do músculo que se conecta com o nervo, a doença dificulta que a pessoa execute movimentos do cotidiano de forma voluntária.

Essa fraqueza pode acometer qualquer músculo, mas existem alguns grupos musculares que são mais frequentemente acometidos pela doença. Destaque para a fadiga muscular de braços e pernas, queda das pálpebras, visão dupla e dificuldade para falar, mastigar e engolir.

Mas quando o paciente leva uma rotina que inclui a prática de exercícios, é possível comprovar e constatar tais afirmações dos estudos e ir além. Não são apenas a caminhada, a ioga ou o exercício de fortalecimento muscular que melhoram a condição de saúde do portador de Miastenia Gravis. A dança tem o poder de transformar a vida dessas pessoas. Quem faz essa afirmação é Andrea Passarelli, especialista em Dança pela Faculdade Paulista de Artes, coordenadora do projeto Entre Nessa, de Oficinas Socioculturais da Nova Transformar (SP), e do Clube dos Paraplégicos de São Paulo.

Andrea Passarelli é especialista em Práticas Artísticas e Terapêuticas, Interfaces da Arte e da Saúde pelo setor de Terapia Ocupacional da USP (Universidade de São Paulo), também é parceira da ABRAMI (Associação Brasileira da Miastenia), ela trabalha com portadores da doença há 23 anos. “A dança traz muitos benefícios para a saúde física e mental para todas as pessoas, mas aos portadores de miastenia ela tem funções ainda maiores. Melhora a postura e o fortalecimento da musculatura. A prática também leva a liberação de serotonina e endorfina, hormônios ligados a sensação de bem-estar, que para os miastênicos é essencial para que eles continuem a desenvolver o trabalho de conscientização corporal, sem sentir dor”, afirma a especialista.

“A Miastenia Gravis estando compensada, todos os pacientes recebem a recomendação de fazer alguma atividade física, e a dança é uma delas. Os pacientes com o grau da doença muito leve, no caso da miastenia ocular, têm indicações e benefícios de fazer algum exercício físico como todas as pessoas”, recomenda Eduardo Estephan, neurologista do Ambulatório de Miastenia do Hospital das Clínicas (SP) e do Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital Santa Marcelina (SP), e parceiro da ABRAMI. “Quem apresenta a doença de forma generalizada, com fraqueza nos músculos, também colhe os benefícios, em especial o de conseguir se movimentar com mais facilidade porque a atividade física auxilia no fortalecimento da musculatura. Sem contar que melhora a capacidade motora. Ou seja, a dança sendo realizada dentro de uma rotina melhora a resistência muscular até para que o paciente possa realizar as atividades do dia a dia com mais facilidade”, recomenda o especialista.

A dança melhora o desempenho motor

Para a professora Andrea Passarelli, existe uma didática diferenciada na maneira de conduzir a aula para os portadores de Miastenia, a começar pela supervisão individual, orientando para que o aluno preste atenção aos sinais do corpo e respeite o seu limite. “Procuro também fazer uma combinação de atividades alternadas, algumas que requerem mais o uso da força muscular, outras aeróbicas, como é o caso da dança em si, sem esquecer dos exercícios de alongamento que também são de baixo impacto”, explica.

Segundo a professora, essa alternância da dança com os demais exercícios melhoram o desempenho motor e, consequentemente, impactam positivamente nos aspectos funcionais do corpo como um todo.

A professora enfatiza a importância da dança já que na modalidade é possível trabalhar todos os músculos do corpo, além de ser uma forma de comunicação e expressão. “A dança traz motivação, alegria, prazer, além de aumentar a socialização e o relacionamento. Ela é capaz de unir pessoas de todas as faixas etárias”, relata Andrea, que recomenda a prática para portadores de Miastenia a partir de 18 anos.

É preciso avaliar caso a caso

Como não há um padrão único de sintomas da Miastenia Gravis, é preciso avaliar em cada caso o grupo de músculos acometidos pela doença e seu estágio, bem como se a doença está bem compensada para definir se o paciente pode iniciar a prática da dança.

Ou seja, de acordo com os especialistas não há restrições para o paciente miastênico praticar a modalidade. No entanto, isso vai depender da condição física e do respectivo quadro da doença. Por isso, a recomendação é conversar primeiro com o médico, para se certificar que a doença esteja compensada para que possa fazer a indicação da prática.

Para mais informações sobre miastenia, acesse o site: https://www.miastenia.com.br/abrami/

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Informações para a imprensa
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Uso de parabióticos como adjuvante em pacientes com COVID-19

Uso de probióticos como adjuvante em pacientes com COVID-19

Pacientes com COVID -19 apresentam alta incidência de sintomas gastrointestinais como anorexia, náuseas, diarreia, vômitos e dor abdominal. A presença de RNA viral nas fezes confirma essa teoria e inúmeros estudos demonstram que esses pacientes podem apresentar um pior prognóstico. Clique e assista o vídeo para entender mais sobre o assunto.

Alergias e imunomodulação – benefícios dos probióticos

O trato gastrointestinal funciona como uma barreira contra antígenos de microrganismos e alimentos. A geração de regulação imunofisiológica no intestino depende do estabelecimento da microbiota. Intervenções terapêuticas baseadas no consumo de culturas de microrganismos vivos benéficos, que atuam como probióticos, foram introduzidas como forma de reequilibrar a resposta imunológica dada pelo hospedeiro, a qual tem um papel crítico na defesa do organismo contra infecções. Além disso, essa terapia tem papel como agente interferente em respostas alérgicas, geralmente manifestadas através de casos de dermatite atópica e de alergias alimentares.1

Entre os possíveis mecanismos de ação  da terapia probiótica está a promoção de uma barreira de defesa intestinal não imunológica, que inclui a normalização da permeabilidade intestinal. Outro possível mecanismo da terapia probiótica é a melhora da barreira imunológica do intestino, particularmente por meio das respostas da imunoglobulina A (IgA) intestinal e do alívio das respostas inflamatórias intestinais, que produzem um efeito estabilizador do intestino. Muitos efeitos probióticos são mediados por regulação imunológica, particularmente por meio do controle do equilíbrio de citocinas pró-inflamatórias e antiinflamatórias. Esses dados mostram que os probióticos podem ser usados ​​como ferramentas inovadoras para aliviar a inflamação intestinal, normalizar a disfunção da mucosa e diminuir as reações de hipersensibilidade.1,2

Efeitos regulatórios distintos foram detectados em indivíduos saudáveis ​​e em pacientes com doenças inflamatórias. Estes resultados sugerem que propriedades imunomoduladoras específicas de bactérias probióticas devem ser caracterizadas ao desenvolver aplicações clínicas, conforme necessidades individuais de cada perfil e considerando, portanto, os tipos de populações-alvo.2

Em um estudo duplo-cego, randomizado e controlado por placebo, a administração de probiótico pré-natal a mães que tinham pelo menos um parente de primeiro grau (ou parceiro) com eczema atópico, rinite alérgica ou asma, e contínua administração pós-natal por 6 meses para seus bebês resultou em dados concretos para determinar a influência do produto na prevenção primária de doenças atópicas. Eczema atópico recorrente crônico, que é o principal sinal de doença atópica nos primeiros anos de vida, foi avaliado. A frequência de eczema atópico no grupo probiótico foi metade da do grupo placebo, portanto, no contexto da imunomodulação, a administração de probiótico foi eficaz na prevenção da doença atópica precoce em crianças de alto risco.3

Os efeitos da administração de probióticos na resposta imune oral em adolescentes e adultos com tipos específicos de alergia, como ao pólen de bétula combinada com síndrome de alergia oral, foram avaliados em ensaio clínico internacional. Os resultados apontaram que probióticos têm efeitos imunoestimulantes na mucosa oral, vistos como níveis aumentados de imunoglobulina A (IgA) específica do alérgeno na saliva.4

 

A prevalência de doenças alérgicas em bebês, cujos pais e irmãos não têm alergia, é de aproximadamente 10% e chega a 20-30% naqueles com um parente de primeiro grau alérgico, segundo pesquisas científicas recentes. A microbiota intestinal pode modular as respostas imunológicas e inflamatórias sistêmicas e, assim, influenciar o desenvolvimento de sensibilização e alergia. Foi relatado que probióticos modulam as respostas imunológicas e sua suplementação foi proposta como uma intervenção preventiva. As recomendações sobre a suplementação de probióticos para a prevenção da alergia têm como objetivo embasar médicos e outros profissionais de saúde em suas decisões sobre o uso de probióticos na gravidez e durante a amamentação e, também, se devem ser administrados aos bebês.5

Referências

1 – Isolauri E, Sütas Y, Kankaanpää P, Arvilommi H, Salminen S. Probiotics: effects on immunity. American Journal of Clinical Nutr. 2001; 73(2 Suppl): 444S-50S.

2 – Kalliomäki M, Salminen S, Arvilommi H, Kero P, Koskinen P, Isolauri E. Probiotics in primary prevention of atopic disease: a randomised placebo-controlled trial. Lancet. 2001; 357(9262): 1076-9.

3 – Pelto L, Isolauri E, Lillus E, Nuutila J, Salminen S. Probiotic bacteria down-regulate the milk-induced inflammatory response in milkhypersensitive subjects but have an immunostimulatory effect in healthy subjects. Clin Exp Allergy. 1998; 28(12): 1474-9.

4 – Piirainen L, Haahtela S, Helin T, Korpela R, Haahtela T, Vaarala O. Effect of lactobacillus rhamnosus GG on rBet v1 and rMal d1 specific IgA in the saliva of patients with birch pollen allergy. Annals of Allergy, Asthma and Immunology. 2008; 100(4): 338-42.

5 – Fiocchi A, Pawankar R, Cuello-Garcia C, Ahn K, Al-Hammadi S, Agarwal A, et al. World Allergy Organization-McMaster University Guidelines for Allergic Disease Prevention (GLAD-P): Probiotics. World Allergy Organ J. 2015; 8(1): 4.

Anticonvulsivantes são eficazes no tratamento da dor lombar crônica?

O uso de anticonvulsivantes para tratar lombalgia aumentou nos últimos anos, apesar das evidências conflitantes. Um novo artigo do Canadian Medical Association Journal (CMAJ) objetivou determinar a eficácia e tolerabilidade de topiramato, gabapentina ou pregabalina no tratamento da dor lombar crônica.

Para isso, pesquisadores analisaram nove estudos, de cinco bancos de dados, com 859 pacientes com dor lombar não específica, ciática ou claudicação neurogênica, que compararam o uso de topiramato, gabapentina, pregabalina e placebo. Os desfechos foram dor autorrelatada, incapacidade (disability) e eventos adversos.

Anticonvulsivantes na dor lombar

Em 14 de 15 comparações os anticonvulsivantes não foram eficazes para reduzir a dor ou incapacidade na dor lombar ou dor radicular. Os pesquisadores encontraram evidência de alta qualidade de nenhum efeito da gabapentina e pregabalina versus placebo na dor lombar crônica. O nível de evidência foi alto para o aumento do risco de eventos adversos pelo uso da gabapentina e pregabalina. Esse aumento no risco não foi encontrado para o uso de topiramato.

Para os autores, esses achados indicam que os anticonvulsivantes são ineficazes para o tratamento da dor lombar crônica.

Fonte: https://pebmed.com.br/anticonvulsivantes-sao-eficazes-no-tratamento-da-dor-lombar-cronica/

Autor(a):  Redação PEBMED

Referências Bibliográficas:

Anticonvulsants in the treatment of low back pain and lumbar radicular pain: a systematic review and meta-analysis. Oliver Enke, Heather A. New, Charles H. New, Stephanie Mathieson, Andrew J. McLachlan, Jane Latimer, Christopher G. Maher, C.-W. Christine Lin. CMAJ Jul 2018, 190 (26) E786-E793; DOI: 10.1503/cmaj.171333

Fisioterapia é fundamental para a qualidade de vida dos miastênicos

A Miastenia Gravis é uma doença neuromuscular rara e de difícil diagnóstico, caracterizada pela súbita interrupção da comunicação natural entre nervos e músculos, causando fraqueza muscular. Ela pode acometer pessoas de qualquer faixa etária, mas segundo dados do Ministério da Saúde, há o predomínio maior em mulheres. Os picos de ocorrência da doença variam entre 20 e 34 anos para a população feminina, e de 70 a 75 anos para homens. A doença afeta a parte do músculo que se conecta com o nervo e leva o paciente a ter dificuldade em executar movimentos simples do cotidiano de forma voluntária. 

Essa fraqueza pode acometer qualquer músculo, mas existem alguns grupos musculares que são mais frequentemente acometidos pela doença. Dentre eles, destaque para a fadiga muscular de braços e pernas, queda das pálpebras, visão dupla e dificuldade para falar, mastigar e engolir. Em casos graves, os músculos da respiração podem ser atingidos, resultando em insuficiência respiratória.

Para prevenir o agravamento da doença, impedindo que o paciente possa até deixar de movimentar os músculos afetados pela Miastenia, a indicação de fisioterapia especializada é fundamental no tratamento. “Pequenas crises diárias vão deixando os músculos e o corpo cada vez mais debilitados, podendo aumentar a dificuldade de deglutição e respiração. Isso sem contar que em algumas crises o paciente perde o movimento total ou em alguma parte do corpo”, alerta Anne Dias, fisioterapeuta do Ambulatório de Cuidados Integrativos para pacientes com Miastenia pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), especialista em Microfisioterapia, e fisioterapeuta parceira da ABRAMI (Associação Brasileira de Miastenia).

Embora não exista cura para a Miastenia Gravis, os medicamentos reduzem a produção de anticorpos contra as estruturas musculares e as sessões de fisioterapia motora ajudam a fortalecer a musculatura do corpo. Já a fisioterapia respiratória é indicada para os casos de crises miastênicas. “Primeiro você estabiliza a doença com as medicações. E com a fisioterapia, o paciente vai recuperando tanto suas funções respiratórias como motoras, por isso ela é fundamental ao tratamento de miastenia”, recomenda o médico neurologista Eduardo Estephan, especialista em Doenças Neuromusculares dos Hospital das Clínicas, do Hospital Santa Marcelina e diretor científico da Associação Brasileira de Miastenia (ABRAMI). De acordo com o neurologista, mesmo com a doença estabilizada, muitas vezes os músculos perdem a força por desuso.

A fisioterapeuta Anne Dias afirma que tão logo o diagnóstico da doença seja feito é preciso que o paciente procure um fisioterapeuta, de preferência que ele seja especializado em abordagem integrativa, pois segundo ela, os exercícios de reabilitação no local afetado podem causar mais fadiga, agravando os sintomas.

Dores flutuantes

É comum que pacientes com Miastenia gravis apresentem dificuldades e debilidades nos movimentos. “As dores são ‘flutuantes’. Ora dói em uma parte do corpo; em outro momento a dor está em outro lugar. Em alguns dias dói, em outros ela desaparece. Essa condição dificulta ainda mais os movimentos, causando mais fadiga e fraqueza muscular”, afirma a fisioterapeuta.

Mas é importante ressaltar que a dor não é um sintoma da Miastenia. Ela é consequência do esforço e do movimento incorreto que o paciente faz por causa da sua condição clínica de fraqueza e fadiga muscular. “Esse esforço excessivo causa uma despolarização sustentada da membrana das células e um encurtamento dos sarcômeros. O sarcômero é um dos componentes básicos dos músculos que permite a contração muscular. Com este encurtamento, podem aparecer no corpo os chamados pontos gatilhos”, afirma.  Pontos gatilhos são pequenos segmentos de fibras musculares contraídas, que são mais sensíveis à pressão. Esta condição, também é conhecida como síndrome dolorosa miofascial, muito confundida também com a fibromialgia.

Cuidados integrativos

A miastenia é uma doença que não tem cura, mas com o acompanhamento médico, medicação e a ajuda do fisioterapeuta, o paciente consegue conviver com a doença com mais qualidade de vida.

E a função do fisioterapeuta é avaliar e tratar o paciente nas suas dificuldades e debilidades em diversas fases da doença. Os protocolos mais indicados nos quadros de crises miastênicas é a terapia manual e técnicas com toque sutil sobre a pele. “Pesquisas já comprovaram que técnicas com toque sutil de até 5 miligramas (intensidade de um cartão postal sobre a pele), atuam no sistema nervoso central. Este tipo de toque recrutam as fibras aferentes C tátil, que atuam no córtex insular e no sistema límbico. Elas regulam o corpo como um todo, do sistema imunológico até a melhora do estresse”, avalia Anne Dias.

De acordo com a fisioterapeuta, estas fibras atuam também nos interoreceptores, causando uma melhora da percepção do próprio corpo, função fisiológica que permite perceber estados internos (como a fome e a exaustão).  “Este tratamento fisioterapêutico, entre outros da fisioterapia integrativa, oferecem inúmeros benefícios, em especial na melhora no quadro do paciente com miastenia”, afirma a especialista.

A microfisioterapia no tratamento da Miastenia Gravis

A microfisioterapia é uma técnica francesa de terapia manual de toque sutil, baseada na Embriologia. “Ela é capaz de encontrar no corpo o agente agressor que está impactando o organismo, causando o problema”, explica Anne Dias.

Hoje em dia sofremos agressões externas, desde a ambientais (poluição, toxinas, vírus, bactérias), até agressões internas (excesso de emoções, estresse, alimentação inadequada), entre outros. “O agressor quando entra no corpo deixa uma marca, uma cicatriz, chamada cicatriz patogênica. Através desta técnica é possível encontrar este agente agressor e ajudar o corpo a eliminá-lo e a se autocorrigir”, explica a fisioterapeuta.

Com isso, a microfisioterapia ajuda o paciente como um todo:  contribui para a restauração dos movimentos, no controle da fadiga e da fraqueza muscular, na melhora da respiração, da percepção da dor e na regulação do sistema imunológico. Por ser uma técnica de toque sutil, mesmo o paciente debilitado pode realizar a sessão.

Para mais informações sobre miastenia, acesse o site: https://www.miastenia.com.br/abrami/

O uso do probiótico Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®) na prevenção da dermatite atópica

Nas últimas décadas, diversos estudos foram realizados com objetivo de correlacionar a composição da microbiota intestinal (MI) com diversas enfermidades. Dentre as doenças hipoteticamente beneficiadas pelo uso de probióticos, destacam-se as doenças alérgicas, como a dermatite atópica (DA), uma doença crônica da pele que apresenta lesões com prurido intenso associada a um ressecamento importante, mais evidentes em regiões de flexura. Essa suposta interligação entre intestino e pele é atribuída ao papel de modulação da resposta imunológica pela MI, o que pode auxiliar na prevenção e no tratamento de doenças de fundo alérgico e imunológico.  

O papel dos próbióticos 

O papel dos probióticos no tratamento da DA ainda não é completamente esclarecido, além do que a microbiota intestinal dos pacientes atópicos parece ser, de fato, diferente dos indivíduos não-alérgicos. A ação de diversas cepas foi avaliada em uma série de pesquisas, ainda sem resultados amplamente reprodutíveis. Possíveis justificativas para essa falta de correlação incluem o desenho dos estudos, os probióticos avaliados, a posologia utilizada, a janela de oportunidade, os fatores que interferem na suplementação dos probióticos (fatores ambientais, idade do paciente, dieta realizada, a presença obesidade e outras comorbidades, e também a etnia), entre outros.  

Dentre os diversos probióticos avaliados no contexto da DA, o Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®) é uma das cepas mais bem estudadas, com uma quantidade considerável de evidências correlacionando esses assuntos.  

Um estudo duplo-cego, controlado, envolvendo 62 gestantes com história familiar positiva para DA, foi realizado para avaliar a ação dos LGG® no desenvolvimento de DA em crianças cujas mães utilizaram o probiótico durante a gestação e a amamentação. Esse estudo demonstrou que filhos de mães que receberam LGG® nessa fase, apresentaram menor risco de desenvolver DA nos primeiros 2 anos de vida.  

Outro estudo duplo-cego randomizado, conduzido com 27 bebês entre 4 e 6 meses, diagnosticados com eczema atópico, demonstrou melhora clínica significativa após 2 meses de uso de LGG®. Vários outros estudos com LGG® corroboram os resultados descritos, sendo os achados mais promissores aqueles relacionados à prevenção da DA.  

O uso dos probióticos é seguro, com efeitos colaterais raros relacionados principalmente ao trato gastrointestinal, como constipação, flatulência, náuseas e soluços. O cuidado na prescrição dos probióticos deve ser maior em pacientes imunossuprimidos, uma vez que eles podem, teoricamente, apresentar risco de infecções potencialmente graves (sepse, endocardite, abscesso hepático) pelas bactérias que compõem as medicações. 

Diante da possibilidade de prevenir o surgimento da DA e de melhorar seu controle clínico de forma segura, o uso de probióticos – sendo o LGG® um dos mais amplamente estudados – tem se mostrado útil no manejo da doença. A prescrição deve ser individualizada para cada paciente. Além disso, novos estudos com um tempo maior de acompanhamento devem ser realizados, para avaliação prospectiva a longo prazo dos efeitos benéficos e, também, de potenciais efeitos colaterais.  

Autor(a): Gabriela Guimarães Moreira Balbi 

Graduada em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) • Pediatra pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) • Reumatologista pediatra pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM) 

Referências bibliográficas:  

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