IMPACTO DO USO DE ANTIBIÓTICOS NA MICROBIOTA NOS PRIMEIROS 1000 DIAS
Desde sua descoberta ao final da década de 1920, os antibióticos vêm sendo um pilar para o tratamento de infecções na medicina moderna. Eles são essencialmente diferentes de todas as outras drogas, afetam não apenas o indivíduo a quem são ministrados, mas também toda a comunidade em seu entorno. Sabidamente, seu uso recorrente gera resistência à sua própria ação, assim, a utilização desta classe de medicamentos reside na interseção da saúde pessoal e pública.1
Os antibióticos não apenas beneficiam um indivíduo no tratamento de sua infecção, beneficiam também a comunidade na prevenção da disseminação desse agente infeccioso, conforme supracitado. Entretanto, a aplicação indiscriminada da terapia com antibióticos gera um custo para a comunidade no que se refere à resistência de seus efeitos terapêuticos. Nesse contexto, encontra-se uma nova característica para o cenário do tratamento com antibióticos: o dano colateral do medicamento em bactérias que normalmente vivem em humanos saudáveis, a nossa microbiota.1
O desenvolvimento da microbiota intestinal é especialmente importante durante os primeiros anos de vida, quando o microbioma adulto ainda não se formou. Estudos indicam que países em fase avançada de modernização, onde o uso de antibióticos é maior, apresentam uma desvantagem: a perda da diversidade microbiana intestinal ao longo do tempo. Além disso, nas crianças pequenas, a exposição a antibióticos está associada ao aumento do risco de uma variedade de doenças, incluindo obesidade, diabetes tipos 1 e 2, doenças inflamatórias intestinais, doença celíaca, alergias e asma.1,2
O desenvolvimento de diarreia associada a antibióticos (DAA) bem como a possibilidade de disbiose transitória podem ser estimulados, em curto prazo, pelo uso excessivo de antibióticos. Na população pediátrica, a incidência de DAA é de 5% a 30%. Os antibióticos mais comumente ligados à DAA incluem cefalosporinas, clindamicina, penicilinas de amplo espectro, como amoxicilina e ampicilina, e fluoroquinolonas, como ciprofloxacino e levofloxacino.2
Na maioria dos casos de DAA, não se encontra um agente infeccioso específico. No entanto, o Clostridium difficile é responsável pelos casos mais graves. A DAA geralmente é autolimitada, no entanto, se for causada por C. difficile, pode levar a colite pseudomembranosa, com risco de internação e morte, sobretudo nos extremos da idade (lactentes e idosos).2
Revisões sistemáticas já estabelecem o papel de prevenção da administração de probióticos frente ao quadro de diarreia causada pelo uso excessivo de antibióticos, por exemplo. A justificativa para o uso de probióticos é baseada na premissa de que a DAA resulta da ruptura da microbiota intestinal comensal causada pela terapia antibiótica.2
Com base nos estudos publicados, é apropriado iniciar a administração de probióticos precocemente, de preferência simultânea ao tratamento com antibióticos, antes que ocorra a modificação da microbiota intestinal e o crescimento excessivo de patógenos. Também pode ser interessante continuar a administração de probióticos durante e após o tratamento com antibióticos.2
Referências
1 – Indrio F, Martini S, Francavilla R, Corvaglia L, Cristofori F, Mastrolia SA, et al. . Blaser MJ. Antibiotic use and its consequences for the normal microbiome. Science. 2016; 352 (6285): 544-5.
2 – Szajewska H, Kołodziej M. Systematic review with meta-analysis: Lactobacillus rhamnosus GG in the prevention of antibiotic-associated diarrhoea in children and adults. Aliment Pharmacol Ther. 2015; 42 (10): 1149-57.