“Brain fog”, disbiose e probióticos: o que há de novo?

Os distúrbios psiquiátricos encontram-se entre as principais causas de atendimento médico e podem levar a incapacidade laboral e a piora da qualidade de vida dos pacientes. A depressão e a ansiedade merecem destaque no rol destes distúrbios, e nem sempre o diagnóstico das mesmas é fácil. Acreditamos que o Brain fog precisa ser incluído nesta linha de raciocínio diagnóstico. É fundamental alargar o horizonte para novas abordagens diagnósticas e terapêuticas, sendo está uma área promissora para estudos médicos.

O que é Brain fog?

Não é uma doença propriamente em si, mas um sintoma de outras condições patológicas médicas. É caracterizado como uma disfunção cognitiva em que podem estar presentes: alterações de memória, falta de clareza mental, distração fácil e/ou diminuição da capacidade de concentração. Mas quais seriam as suas causas? Estresse crônico, má qualidade de sono, alterações hormonais como na menopausa, andropausa ou gravidez, hábito ou deficiência alimentar; como deficiência de vitamina B12, medicamentos, intoxicações e/ou condições patológicas, tais como diabetes, anemia e depressão; podem estar etiopatogenicamente implicadas. O diagnóstico de síndrome da fadiga crônica, uma doença altamente debilitante com queixas clínicas heterogêneas também precisa ser considerado.

Relação com outras doenças

A relação do Brain fog e da síndrome da fadiga crônica com a disbiose da microbiota intestinal já foram aventadas, podendo estar relacionadas a alterações da relação bidirecional eixo cérebro-intestino. A importância que o Sistema Nervoso Entérico, uma complexa rede neuronal do sistema nervoso periférico e autonômico, precisa ser destacada. O microbioma intestinal, as células imunitárias, aliados à estrutura neuronal entérica possuem a capacidade de modular o Sistema Nervoso Central e estão alterados na disbiose. Podemos concluir que a esta interação inclui vias neurais, humorais e imunológicas e o papel da microbiota é de extrema relevância. Vários estudos mostram que uma comunicação alterada entre a microbiota e o eixo cérebro-intestino, pode estar relacionada a doenças tais como distúrbios neuropsiquiátricos, ansiedade, depressão e até autismo. É sabido que na disbiose há uma alteração do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, níveis alterados de triptofano, ácidos graxos de cadeia curta, e que pode influenciar o funcionamento intestinal.

A disbiose pode também contribuir para perpetuar esta disfunção/inflamação, prejudicando ainda mais a comunicação cérebro-intestino. O papel das tight junctions na manutenção da eubiose intestinal também precisa ser destacado, uma vez que as mesmas mantêm a integridade do epitélio intestinal regulando a passagem de íons, solutos e água. Por se tratarem de barreira semipermeável bloqueiam a livre difusão de proteínas, lipídeos e de produtos patogênicos. Alguns estudos demonstraram que a permeabilidade intestinal alterada pode levar a distúrbios inflamatórios crônicos e hipoteticamente permitir que o Brain fog se manifeste. Nestes casos pode-se pesquisar o supercrescimento bacteriano do Intestino delgado através do teste do hidrogênio expirado. Caso presente deverá ser tratado com antibióticos e a resposta clínica será avaliada. Alguns autores incluem no tratamento o uso de probióticos.

Probióticos

Segundo a Food and Agriculture Organization e World Health Organization, os mesmos são definidos como microrganismos vivos que, se em quantidade adequada, conferem benefício para a saúde. Há anos vários estudos já demostraram que os probióticos podem desempenhar um papel importante em várias áreas da medicina, como dermatologia, pediatria e gastrenterologia, por exemplo. Por outra lado, o estudo de sua atuação nos distúrbios psiquiátricos é bem mais recente, surgindo o conceito de psicobióticos. Os mesmos são definidos como probióticos que em tese possuem um papel benéfico e poderiam influenciar positivamente a saúde mental.

Psicobióticos no combate à depressão

Logan & Katzman em 2005, foram pioneiros a propor a eficácia do uso de psicobióticos como terapia adjuvante na depressão. Segundo os mesmos, estes probióticos apresentariam ação sistêmica atenuando citocinas inflamatórias e estimulando centros cerebrais que participam do processamento da informação neural. Estes centros levam a respostas autonômicas, neuroendócrinas e comportamentais.

Autores investigaram o efeito dos probióticos em indivíduos com diagnóstico de Transtorno Depressivo Maior, utilizando a ferramenta de Avaliação do Grau Depressivo. Foi constatada a diminuição desta pontuação no grupo que utilizou os probióticos em relação ao grupo controle. As cepas as mais citadas como benéficas na melhora dos sintomas depressivos e cognitivos foram Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei, Lactobacillus helveticus, Bifidobacterium lactis, Bifidobacterium longum e Bifidobacterium bifidum em concentrações entre 108 e 1010UFC/dia, com efeitos mensuráveis a partir da quarta semana de suplementação. Estes resultados devem ser avaliados com ressalva devido a multifatoriedade fisiopatológica da depressão e por variáveis de difícil controle na análise dos grupos de estudo. Destacam-se a baixa qualidade metodológica de alguns estudos, uma vez que vários têm um grupo heterogêneo ou com poucos indivíduos incluídos e as cepas usadas variaram entre os estudos.

Brain Fog na pandemia

Neste momento de pandemia, o número de pacientes que têm procurado os serviços de saúde com depressão, ansiedade ou sinais sugestivos de Brain fog tem crescido muito. Considerando também que a prevalência de transtornos depressivos no Brasil atinge 6% da população e que até 40% dos pacientes que utilizam antidepressivos não respondem como esperado ao tratamento ou uso de terapias adjuvantes como psicobióticos surge como interessante opção. Não há na literatura estudos sobre a atuação dos psicobióticos no Brain fog, mas a suplementação de pacientes com culturas probióticas desponta como uma possibilidade terapêutica e o seu uso futuro parece bastante promissor.

Fonte: https://pebmed.com.br/brain-fog-disbiose-e-probioticos-o-que-ha-de-novo/

Autor(a): Vera Lucia Angelo Andrade

Graduação em Medicina pela UFMG em 1989 • Residência em Clínica Médica/Patologia Clínica pelo Hospital Sarah Kubistchek • Gastroenterologista pela Federação Brasileira de Gastroenterologia • Especialista em Doenças Funcionais e Manometria pelo Hospital Israelita Albert Einstein • Mestre e Doutora em Patologia pela UFMG • Responsável pelo Setor de Motilidade da Clínica SEDIG BH desde 1995 • http://lattes.cnpq.br/0589625731703512

Referências bibliográficas: 

  • M Hornig. Can the light of immunometabolism cut through “brain fog”? The Journal of Clinical Investigation, 2020; 1102-1103. doi: 10.1172/JCI134985
  • Logan AC, Katzman M. Major depressive disorder: Probiotics may be an adjuvant therapy. Med Hypotheses. 2005 [cited 2018 Sept 14];64(3):533-8. doi: 1016/j.mehy.2004.08.019
  • Moraes ALF, Bueno RGAL, Fuentes-Rojas M, Antunes AEC. Suplementações com probióticos e depressão: estratégia terapêutica? Rev Ciênc Med. 2019;28(1):31-47
  • Silvestre C. O diálogo entre o cérebro e o intestino – Qual o papel dos probióticos?. Trabalho Final de Mestrado Integrado em Medicina . Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa – Clínica Universitária de Psiquiatria. 2015. Disponível em https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/26287/1/CarinaRFSilvestre.pdf. (Acesso 06/11/20)
  • World Health Organization. Depression and other common mental disorders: Global health estimates. Geneva: WHO; 2017.

Universo das polineuropatias pela eletroneuromiografia

A polineuropatia (PNP) é caracterizada por uma desordem generalizada nos nervos periféricos. Tem uma prevalência estimada de 2-8% na população global. O quadro clínico, geralmente, é rico, com alterações motoras (alteração de força), sensitivas (formigamentos) e/ou autonômicas (tonturas, mal-estar). Pode ser de caráter hereditário ou adquirido, e, na maioria dos casos, tem predomínio distal (mãos e pés) com progressão ascendente.

Transtornos de nervos periféricos e eletroneuromiografia ENMG

O nervo é formado de células chamadas neurônios (Figura 1). Os nervos funcionam como se fossem fios de eletricidade: saem da medula e vão até os músculos e mandam sinais para fazê-los contrair. Esse “fio” é chamado de axônio e ele é coberto por uma “capa” chamada mielina. Essa capa faz a transmissão de informações ser mais rápida. Existem fios que transmitem informações de sensibilidade (fibras sensitivas), outros que transmitem informações de movimento (fibras motoras) e outros que transmitem informações para as vísceras (autonômicas).

Figura 1: Neurônio motor, compondo a unidade motora

O estudo pela Eletroneuromiografia (ENMG) é capaz de localizar onde é a lesão e qual tipo de fibra mais acometida.

Quais as 7 perguntas-chave para diagnóstico da polineuropatia pela enmg?

Como pedir enmg para estudo de polineuropatia?

A ENMG deve ser uma extensão do exame físico e serve para direcionar a hipótese diagnóstica.

Um exame eletrodiagnóstico completo requer estudo da neurocondução sensitiva e motora, em múltiplos nervos, idealmente, nos membros superiores e inferiores, sempre bilateral e pode ser feito até em face. Depois vem a miografia (estudo neurofisiológico dos músculos com agulha) para avaliar sinais neurogênicos (desnervação ativa ou reinervação).

Em suma, no pedido deve vir escrito “eletroneuromiografia de membros superiores e inferiores”, pode-se acrescentar “face” e “teste de fibras autonômicas” (reflexo cutâneo-simpático) se houver suspeita clínica.

Vale a pena lembrar que a ENMG avalia fibras de grosso calibre (A e B) e não consegue avaliar fibras finas – fibras de diâmetro reduzido (Aδ) e fibras não mielinizadas (C). Estas últimas são responsáveis pelo aviso de “dor”. Portanto, em frente a quadros de dor neuropática ou polineuropatia de fibras finas, a ENMG pode não ser esclarecedora.

Fonte: https://pebmed.com.br/universo-das-polineuropatias-pela-eletroneuromiografia/

Autor(a): Carmen Orrú
Médica Neurofisiologista Clínica e Fisiatra (Medicina Física e Reabilitação) pela FMUSP-SP
Membro da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação
E-mail para contato: contato@dracarmenorru.com.br
Site: dracarmenorru.com.br
Instagram: @Dra Carmen Orru @dracarmenorru

Referência bibliográfica:
⦁ Preston DC, Shapiro BE. Electromyography and Neuromuscular Disorders: Clinical- Electrophysiologic Correlations, 3rd. W.B. Saunders Company; 2012.

Epilepsia: conheça o guia básico de prescrição de drogas anti-epilépticas [Purple Day]

Neste artigo daremos continuidade às postagens especiais do Purple Day, data criada para lembrar do combate à epilepsia, hoje abordaremos as drogas anti-epilépticas (DAE). A escolha de qual droga DAE escolher pode parecer complicada, a priori, mas o estabelecimento de uma abordagem sistemática facilita o processo.

Comecemos com o seguinte:

Definindo princípios básicos:

  1. Escolha de DAE adequada para tipo de crise ou síndrome epiléptica
  2. Considerar perfil de efeitos adversos da DAE e perfil do paciente (transtornos de humor, enxaqueca, dor crônica, obesidade, mulheres em idade fértil, idosos)
  3. Comodidade posológica (correlação direta com adesão terapêutica)
  4. Avaliação do custo/preço

Deve-se ter sempre em mente que a monoterapia é a melhor escolha uma vez que polifarmácia associa-se à menor adesão terapêutica (e maior risco de “crises de escape”), maior risco de efeitos colaterais e interações medicamentosas.

Quando se optar por trocar uma DAE, mantê-la até que a nova droga esteja em nível sérico terapêutico. Lembre-se: a única forma de determinar que uma DAE é ineficaz é aumentando a dose até que as crises estejam sob controle ou haja efeitos adversos.

Conheça as principais DAEs:

Fenobarbital

Mecanismo de ação: Liga-se ao receptor GABA-A, prolongando tempo de abertura do canal de cloro. Metabolização hepática, com cerca de 25% da dose eliminada, intacta, na urina

Meia-vida: 80-100 horas (permite uso único, “bedtime”, reduzindo sedação)

Importante: É um potente indutor enzimático (P450), aumentando o metabolismo de medicações que que passam por esse sistema, reduzindo sua concentração plasmática.
É eficaz no tratamento de crises FOCAIS e TÔNICO-CLÔNICAS GENERALIZADAS, mas não o é para crises de ausência.

Principais efeitos adversos: Sedação, redução de concentração, mudanças de humor (sobretudo, depressão). Em crianças, pode levar à hiperatividade. O uso crônico pode levar a osteopenia/osteoporose, contratura de Dupuytren, fibromatose plantar e “ombro congelado”

Gravidez: Categoria D (teratogenicidade com risco de mal-formações cardíacas)

Fenitoína

Mecanismo de ação: Estimula saída de sódio neuronal, estabilizando o limiar contra hiperexcitabilidade.
Biodisponibilidade reduzida com coadministração de cálcio e antiácidos. Taxa de ligação proteica de aproximadamente 90%. Lembrar que a fração livre pode aumentar em insuficiências renal e hepática, desnutrição, gravidez, idosos e na presença de drogas com alta taxa de ligação, como valproato.

Metabolização hepática (P450). O metabolismo da fenitoína é saturável, resultando em cinética não-linear, ou seja, a concentração plasmática aumenta até um ponto dentro da faixa terapêutica em que a meia-vida passa a aumentar, com elevação do nível plasmático desproporcional ao aumento da dose.

A fenitoína é um potente indutor enzimático, reduzindo a eficácia de drogas metabolizadas pelo sistema P450. Uma série de drogas reduzem seu metabolismo, levando ao seu acúmulo, dentre as quais: amiodarona, fluoxetina, fluvoxamina, isoniazida e antifúngicos azólicos.

É eficaz para crises focais e tônico-clônicas generalizadas. Não é eficaz para crises mioclônicas generalizadas ou ausência, podendo até levar a piora do quadro.

Vias de administração:

  • EV: associa-se à reações locais, como flebite, celulite e até síndrome da “luva roxa”. Associação com hipotensão e arritmias (monitorização e taxa de infusão não deve ultrapassar 50mg/min).
  • IM: contra-indicada por conta de absorção errática e formação de abscesso estéril.
    Efeitos adversos: Ataxia cerebelar, disartria, nistagmo, diplopia. A longo prazo, associa-se com hiperplasia gengival, acne, hirsutismo, atrofia cerebelar, osteopenia, anemia e neuropatia periférica. Reações idiossincráticas incluem o rash alérgico e, raramente, síndrome de Stevens- Jhonson, necrólise epidermóide tóxica ou síndrome de hipersensibilidade.

Carbamazepina

Mecanismo de ação: Semelhante à fenitoína (canal de sódio). Biodisponibilidade adequada. Importante indutor enzimático.

A carbamazepina tem autoindução (induz seu próprio metabolismo), resultando em menores meia vida e concentração plasmática. Atentar para risco de acúmulo quando coadministração com inibidores da CYP3A4, a exemplo de macrolídeos, fluoxetina. O uso com valproato aumenta metabólito ativo da carbamazepina.

É eficaz para crises focais e tônico-clônicas generalizadas. Pode piorar ausência, crises mioclônicas e atônicas.

Efeitos adversos: Náuseas, cefaleia, tontura, sedação, fadiga. Doses altas podem levar a diplopia, nistagmo, incoordenação e tremor. Risco de hiponatremia. Uso a longo prazo leva a ganho ponderal e ostepenia. Casos raros de alteração de hematopoiese. Reações idiossincrásicas, como rash, são menos comuns que com uso da fenitoína. Exceção à portadores de HLA-B1502 (asiáticos e descendentes).

A carbamazepina é a droga mais efetiva em crises focais, porém por conta de perfil farmacocinético vem sendo substituída por novas DAEs, como a lamotrigina.

Ácido valproico/divalproato

Mecanismo de ação: Múltiplos, incluindo potencialização efeito GABAérgico, bloqueio de canais de cálcio tipo-T e bloqueio de canais de sódio.

Metabolização hepática. Meia-vida em adultos em torno de 14 horas. Potente inibidor enzimático.
É eficaz para crises focais e generalizadas, inclusive ausência e crises mioclônicas.
Efeitos adversos: Sintomas gastrointestinais, fadigam tremor, ganho ponderal, rarefação de pilificação, edema periférico, trombocitopenia. O uso crônico em idosos pode levar a parkinsonismo reversível, alteração de marcha e demência.

Há risco de teratogenicidade relacionado a doses elevadas da droga (preconiza-se evitar seu uso em mulheres em idade fértil).

É a DAE mais efetiva para epilepsias generalizadas genéticas e primeira escolha em homens com crises generalizadas. É tão efetiva quanto a etossuximida no tratamento de ausência generalizada, porém opta-se por esta última por melhor perfil de tolerabilidade.

Lamotrigina

Mecanismo de ação: bloqueio de canal de sódio. Metabolização hepática. Meia-vida de cerca de 24 horas, quando em monoterapia; mais de 48 horas se uso concomitante de valproato e cerca de 12 horas se usada com indutor enzimático. Estrógenos (atenção para uso de pílula anticoncepcional combinada) e gestação aumentam a metabolização da lamotrigina. O uso concomitante com valproato está associado a sinergia, com bom desfecho terapêutico.

Apesar de seu amplo espectro de ação, a FDA limita sua indicação a crises focais, crises generalizadas tônico-clônicas e Síndrome de Lennox-Gastaut. Pode melhorar ou exacerbar crises mioclônicas.

Efeitos adversos: Dado risco de reações cutâneas, a titulação deve ser feita de forma lenta e assistida. Pode haver tontura, diplopia, náuseas/vômitos, cefaleia e tremor. Baixo risco de teratogenicidade (uso liberado durante gestação).

Topiramato

Mecanismo de ação: antagonista dos receptores AMPA/cainato, aumento da atividade GABAérgica e bloqueio de canais de sódio voltagem dependentes. 70% da dose é eliminada intacta na urina. É eficaz em crises focais e tônico-clônicas generalizadas.

Efeitos adversos: Lentificação cognitiva, redução de atenção e memória, com prejuízo de função executiva e redução de fluência verbal. Pode haver sedação, fadiga, tontura, ataxia e depressão. Há relato de nefrolitíase (atentar para histórico do paciente e orientar aumento de ingesta hídrica). Parestesias em extremidades associam-se à inibição de anidrase carbônica (costumam durar apenas durante período de titulação de dose). Relato de perda ponderal.

Gravidez: Associa-se a maior risco de ocorrência de fendas orais em concepto. É eficaz em crises focais e tônico-clônicas generalizadas (não é primeira escolha por alterações cognitivas associadas).

Levetiracetam

Mecanismo de ação: Ligação à proteína sináptica SV2A, com menor liberação de neurotransmissores.
Não tem metabolismo hepático, sendo 66% da dose excretada intacta na urina e o resto é hidrolisado em componentes inativos. Meia-vida de cerca de 8 horas. Não há interação medicamentosa significativa.

É efetiva em crises focais, crises generalizadas tônico-clônicas e mioclônicas. Efeitos adversos: Sonolência, tontura e astenia. Alterações do humor têm sido relatadas, sendo depressão mais frequente em adultos e irritabilidade, em crianças.

Fonte: PEBMED – https://pebmed.com.br/epilepsia-conheca-guia-basico-de-prescricao-de-drogas-anti-epilepticas-purple-day/

Autora: Marianna Pinheiro Moraes De Moraes

Graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia- Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2013 • Residência em Neurologia pelo Hospital São Rafael (SUS-BA), conclusão em fevereiro/2019 • Médica Plantonista e Diretora Clínica do Hospital Maternidade Luis Eduardo Magalhães/ Água Fria-BA • Médica Plantonista do Hospital Municipal Joselito Vieira Neves/ Anguera-BA • Médica Plantonista do Hospital Aliança/ Salvador-BA

Referências:

  • Abou-Khalil, B. W. (2016). Antiepileptic Drugs. CONTINUUM: Lifelong Learning in Neurology, 22(1, Epilepsy), 132–156.doi:10.1212/con.0000000000000289.
  • Purple book
  • Elza Márcia Targas Yacubian/Guilca Contreras-Caicedo/Loreto Ríos-Pohl. Tratamento medicamentoso das epilepsias. Leitura Médica Ltda., 2014.
  • Cendes, F. e Morita, M. Purple Book: Guia prático para tratamento de epilepsias. Phoenix Comunicação Integrada, 2016.

Miastenia e mobilidade: o que é importante saber

A fraqueza muscular, característica da doença, pode reduzir a mobilidade, mas não necessariamente ser um impedimento para dirigir ou usar transporte público.

A Miastenia Gravis é uma doença autoimune e rara, que tem entre os principais sintomas a fraqueza muscular e a fadiga. Isso acontece porque afeta a transmissão neuromuscular, ou seja, há uma súbita interrupção da comunicação natural entre nervos e músculos, dificultando ou até impedindo que a pessoa execute movimentos de forma voluntária. Porém, com a doença estabilizada, os miastênicos podem dirigir, usar transportes públicos e andar de avião.

“Dirigir é possível sim, desde que cada pessoa respeite os seus limites e não dirija se estiver se sentindo mal ou sem condições naquele momento. Para os condutores de automóveis, a recomendação é optar por carros com direção hidráulica e câmbio automático. Em alguns casos, porém, é necessário que os carros sejam adaptados de acordo com a necessidade de cada um, sendo que essa avaliação é realizada pelo médico”, diz o Dr. Eduardo Estephan, médico neurologista e diretor científico da Abrami (Associação Brasileira de Miastenia).

Por isso, vale estar por dentro de algumas peculiaridades para quem pretende solicitar a CNH (carteira nacional de habilitação) especial, principalmente, pelo desconhecimento sobre a flutuação dos sintomas da Miastenia Gravis. Nem sempre os miastênicos apresentam fraqueza muscular incapacitante e isso faz toda a diferença na hora de conquistar esse direito.

“Quando a pessoa carrega peso ou faz muitas atividades que exigem esforço físico no mesmo dia, a fraqueza muscular se manifesta mais fortemente e é preciso descansar para se restabelecer. Nesse caso, dirigir não é uma boa ideia, pois é preciso usar as pernas e os braços, mesmo com carro automático. Portanto, cada pessoa precisa conhecer os seus próprios limites para não correr riscos”, explica Andrea Amarante de Oliveira, presidente da Abrami (Associação Brasileira de Miastenia). 

Qual é a diferença entre a CNH comum e a especial? 

A carteira de habilitação especial dedicada ao público descreve as adaptações ou necessidades do condutor e concede alguns benefícios. Para consegui-la, a pessoa tem que passar por uma junta médica que irá examinar a extensão de sua deficiência e, para ser válida, a perícia deve ser marcada em uma clínica credenciada ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Se aprovado pelos médicos, o candidato deve realizar as aulas teóricas, o exame de legislação e as aulas práticas, assim como qualquer outro aspirante a motorista.

No exame prático, o carro em que o candidato fará a prova é vistoriado por um perito do Detran. Se ele estiver adaptado às necessidades do motorista, o teste é realizado normalmente. O candidato também poderá usar o seu próprio veículo para realizar o exame de direção e, caso não tenha, deverá realizar a prova num carro da autoescola. Quando aprovado, o campo das observações na CNH Especial será preenchido com a letra correspondente à adaptação necessária a ele. Geralmente, pessoas com miastenia, após passarem pela avaliação do perito do Detran, têm que dirigir carro com transmissão automática e direção hidráulica obrigatoriamente.

Parece um trâmite simples, mas na realidade não é tão simples assim. Segundo relatos de pessoas com miastenia que já passaram por esse processo, é preciso ter atenção para que o laudo dado pelo médico antes mesmo do processo começar seja bem preenchido, pois a interpretação do perito pode resultar em um pedido negado. “A paresia (perda parcial da motricidade), decorrente da miastenia, é o que enquadra o condutor como deficiente físico e concede o direito da CNH especial. Dependendo do grau de paresia que o médico colocar no laudo, mesmo que seja um sintoma flutuante (que se manifesta de vez em quando), o médico do órgão competente (Detran) que fará a avaliação pode considerar que aquela pessoa não está apta a dirigir. Isso acontece também em casos onde o miastênico apresenta ptose (pálpebra caída) – mesmo a moderada, que não compromete totalmente a visão, pode ser avaliada como incapacitante, resultando em um pedido indeferido pelo médico”, esclarece Andrea.

O desconhecimento da doença, em geral, pode acarretar em solicitações negadas aos miastênicos e, por isso, vale prestar muita atenção na hora de preencher dados em formulários e responder as perguntas, sejam relacionadas à CNH especial ou a outras situações. “Muitas autoescolas, por exemplo, não têm conhecimento sobre a miastenia e, geralmente, fazem o encaminhamento para uma autoescola especializada, sem necessidade, gerando custos muito maiores para fazer as aulas em um carro adaptado e conseguir a habilitação especial. O valor da renovação da carteira especial, por exemplo, é quatro vezes maior que o da CNH comum”, reforça Andrea.

Outro detalhe importante é o uso da carteira de habilitação especial para casos específicos, como o rodízio, por exemplo. Na cidade de São Paulo, o rodízio de carros é determinado pelo número da placa e os condutores com CNH especial podem solicitar isenção. Nesse caso, a liberação do rodízio é do carro, então se outra pessoa estiver dirigindo, a pessoa que tem a isenção não precisa estar junto, em caso de fiscalização. Já para o uso de vagas para deficiente, a credencial vale para a pessoa e não para o carro, ou seja, se outro condutor estiver dirigindo, mesmo que o carro seja adaptado, a pessoa com esse direito precisa esta junto.

Facilitadores de mobilidade

Usar o transporte público, como ônibus, trem ou metrô, é um desafio para miastênicos e pessoas com deficiência em geral. Isso acontece porque a frota de ônibus adaptados é pequena, inclusive em grandes metrópoles, como São Paulo, e pela falta de acessibilidade nos trens e metrôs, como rampas e elevadores próximos à plataforma e aos locais de embarque e desembarque. Em outros estados ou cidades menores, os meios de locomoção mais utilizados são as vans e motos, dificultando ainda mais a mobilidade. 

De acordo com Andrea, mesmo para pessoas com a doença compensada, há dificuldade para entrar e sair dos ônibus devido à altura da escada e à falta de apoio para se segurar. Mas o problema não para por aí: na hora de levantar para descer do ônibus, com o veículo ainda em movimento, é preciso cuidado para não cair, pois o movimento das pernas tanto para sentar quanto para levantar exige cuidado. “O apoio de uma bengala pode facilitar e dar a firmeza necessária para se movimentar até o assento, que geralmente fica próximo da entrada, e as alças que servem para apoio, tanto nos ônibus quanto nos metrôs, também são facilitadores importantes para manter o corpo equilibrado”.

Muitas vezes, pessoas com a doença compensada que usam os assentos especiais em transportes públicos são mal vistas por não terem uma deficiência aparente. A vergonha e o medo de um julgamento errôneo, muitas vezes, fazem com que os miastênicos desistam de pegar um ônibus, trem ou metrô.  Para que não se sintam intimidadas ou deixem de usufruir de seus direitos, a Abrami criou uma carteirinha, que pode ser utilizada por todos os miastênicos, independentemente de serem associados à entidade. “Nela estão todos os dados necessários para a identificação da pessoa, o que é muito importante em casos de emergência, além da cópia do laudo médico com a descrição da doença e da lista de medicamentos que não são recomendados para aquela pessoa, já que a doença exige uma série de restrições importantes de serem relatadas”, explica Andrea. 

Para tornar essa iniciativa viável para todos, a Cellera Farma investiu em um aplicativo para que a carteirinha seja digital. Para solicitá-la basta baixar o app e preencher um cadastro com todas as informações necessárias. “O aplicativo facilita muito e dá segurança para as pessoas com miastenia, tanto para inclusão e usufruto de seus direitos, quanto para avisar a empresa em caso de falta de um medicamento bastante utilizado pelas pessoas com Miastenia Gravis, em algum ponto de venda. Dessa forma, a empresa consegue ter mais agilidade na reposição ou mesmo avisar em quais locais é possível encontrar a medicação naquele momento”, finaliza Andrea.

Informações para a imprensa 

VV4 PR – Comunicação e Estratégia

Valéria Vargas – RP 

valeria@vv4pr.com.br

 Tel: +5511 99286-0839

Transtorno depressivo em adolescentes: tratar com antidepressivos, psicoterapia ou os dois?

Já é de conhecimento público a crescente prevalência do transtorno depressivo maior no mundo, o que inclui a população infanto-juvenil. Por isso, mais estudos sobre o tema dedicados a essa faixa etária tem sido elaborados. Neste mês de julho, o Lancet Psychiatry lançou uma metanálise avaliando os tratamentos para depressão na infância e adolescência.

A presença do transtorno nesse grupo pode se apresentar de forma bastante heterogênea, como agressividade, irritabilidade ou recusa em ir para a escola. Dessa forma, pode influenciar em diversos setores da vida dos jovens, como na sua socialização ou no seu desenvolvimento acadêmico. Também pode precipitar o desenvolvimento de comorbidades, como transtornos alimentares, tabagismo, abuso de substâncias, uso de substâncias ilícitas e ideação suicida, além de ser considerada como uma das principais causas de morte nesta população. Por consequência, viemos observando um aumento das indicações de psicoterapia e de prescrição de medicações.

Contudo, alguns trabalhos anteriores vêm questionando os reais benefícios da terapia disponível quando comparamos a depressão a outros transtornos mentais (como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ou os transtornos ansiosos). Este estudo foi realizado com a intenção de esclarecer um pouco as melhores abordagens nestes casos.

Tratamento do transtorno depressivo em crianças e adolescentes

De início, os autores optaram por atualizar a pesquisa de seus dois trabalhos anteriores com estudos sobre a monoterapia com antidepressivos e psicoterapia. Para o tratamento combinado foram feitas pesquisas em diversas bases de dados (LiLACS, PubMed, Cochrane, etc) cujo foco foram ensaios clínicos randomizados, publicados até 01/01/2019. Foram avaliados estudos que comparavam qualquer intervenção (medicação, psicoterapia ou ambos) com alguma forma de controle ou qualquer outra intervenção ativa para o tratamento agudo de crianças e adolescentes até 18 anos com diagnóstico de transtorno depressivo maior, distimia ou outros transtornos depressivos especificados.

Além da pesquisa em bases eletrônicas também foram feitas pesquisas manuais de trabalhos publicados, não publicados, em andamento (mas registrados), jornais científicos importantes e conferências. Também fizeram contato com autores e com a indústria farmacêutica solicitando relatórios dos trabalhos originais ou material não publicado. Não houve restrição de língua. Apesar de ser um estudo financiado, os autores declararam que o financiador não teve qualquer influência em nenhuma etapa da produção do trabalho.

Foram incluídos antidepressivos autorizados e em dose terapêutica de diferentes classes: inibidores seletivos da recaptação de serotonina (sertralina, paroxetina, escitalopram, citalopram e fluoxetina), inibidores seletivos da recaptação de serotonina e noradrenalina (duloxetina, venlafaxina e desvenlafaxina), tricíclicos (nortriptilina, desipramina, imipramina, amitriptilina e clomipramina) e de outras classes (vilazodona, mirtazapina e nefazodona).

Além disso, foram usadas diferentes técnicas de psicoterapia (terapia cognitivo-comportamental, terapia comportamental, terapia de família, psicodinâmica, terapia de apoio, interpessoal, focada na resolução de problemas, dentre outras) em diferentes formatos e através de diferentes vias (presencial, através da internet, em grupo ou individual) e a combinação de ambos. O controle farmacológico sempre foi obtido através de placebo e o psicoterápico foi feito com listas de espera, placebo psicológico ou tratamento padrão.

Os estudos feitos apenas com antidepressivos em monoterapia eram ensaios clínicos duplo-cegos com grupo controle. Já aqueles que avaliavam a psicoterapia ou a combinação (medicação + terapia) os observadores foram mascarados ou os pacientes foram avaliados através de escalas.

Para reduzir a heterogeneidade foram excluídos os estudos com algumas características, como aqueles com amostras inferiores a 10 pacientes e duração inferior a 4 semanas. Também foram excluídos pacientes com transtorno bipolar, depressão psicótica, resistentes ao tratamento ou que não preenchessem os critérios para transtorno depressivo. Em compensação, foram aceitos pacientes com as seguintes comorbidades: transtornos ansiosos e TDAH.

Os desfechos primários avaliados foram eficácia e aceitação (avaliada por todas as medidas de descontinuação). Já o desfecho secundário foi suicidalidade (entendido como ideação ou comportamento suicida). Para todas as análises tentou-se avaliar os desfechos em torno de 8 semanas. Quando não disponíveis foram usadas informações entre quatro e 16 semanas, com preferência aos dados mais próximos da oitava semana.

Limitações

Dentre uma série de limitações descritas pelos autores, destacamos algumas. Primeiramente deve-se considerar que a qualidade da maioria dos estudos foi considerada baixa ou muito baixa. Além disso, alguns trabalhos não relataram adequadamente como se deu a alocação e a ocultação. Também ressaltam a impossibilidade de realização de se fazer estudos duplo-cego com psicoterapia.

Adicionalmente deve-se contar o efeito da exclusão dos estudos em que os pacientes apresentavam sintomas subclínicos de depressão (mesmo essa população representando uma parcela significativa de pacientes nos consultórios e hospitais); depressão psicótica ou pacientes cujo quadro era resistente ao tratamento. Estudos observacionais foram igualmente excluídos e deve-se considerar que há poucos trabalhos sobre prevenção e recaída da depressão na faixa etária em questão.

Um viés de marketing relacionado à indústria farmacêutica pode ter contribuído para diferentes desfechos num mesmo estudo, apesar de os autores terem adotado medidas para reduzir este viés. Apesar dos esforços para coletar material não-publicado, é possível que alguns trabalhos tenham ficado de fora. Os autores também encontraram dificuldade em quantificar alguns desfechos como a descontinuação por efeitos adversos de um fármaco e a presença de efeitos adversos associados à psicoterapia.

Finalmente, é importante considerar as características de cada fármaco, como a dose necessária para se obter uma resposta e a meia-vida de uma medicação, ou seja, fatores que interferem com a titulação das drogas e o tempo necessário para alcançar a dose terapêutica.

Para mais detalhes sobre este trabalho, acesse o artigo original. A referência para isso pode ser encontrada na bibliografia.

Resultados e Discussão

Foram incluídos 71 ensaios clínicos para análise neste trabalho, totalizando 9.510 pacientes. Os trabalhos foram publicados entre 1986 e 2018, tendo sido comparados 16 antidepressivos, sete formas de psicoterapia, cinco terapias combinadas e três controles psicológicos ou uso de placebo. Desses, 4.081 pacientes foram alocados no tratamento com antidepressivos, 1.575 foram alocados para psicoterapia, 553 para o tratamento combinado e 3.301 para controle psicológico ou com placebo.

A idade dos participantes variou entre três e 20 anos (2 estudos incluíram pacientes até 20 anos, mas foram incluídos porque a idade média dos participantes era inferior a 18 anos, assim como a maioria dos pacientes). Da amostra, 57,2% era composta por mulheres e a duração média do tratamento agudo foi de oito semanas. Os participantes foram distribuídos de forma randômica em três ou mais grupos em dez dos 71 estudos e em 41 estudos os pacientes selecionados eram tratados em regime ambulatorial.

A maioria dos trabalhos foram feitos na América do Norte, seguidos pela Europa, Ásia, Austrália, América do Sul, diferentes continentes ou em foram feitos em outras áreas ou não tiveram seu local especificado. Dos 9.510 participantes 75,5% tiveram transtorno depressivo maior com gravidade de moderada a grave, com valores documentados em algumas escalas (Children’s Depression Rating Scale, Children’s Depression Inventory e Beck Depression Inventory). Do total, 33,8% dos estudos foram financiados pela indústria farmacêutica. Foram colhidas informações não publicadas de 11 dos 71 artigos.

Risco de vieses: 45,1% do material foi avaliado com alto risco de vieses, 45,1% como moderado e 9,9% como baixo.

Em termos de eficácia, apenas a terapia combinada de fluoxetina com terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a fluoxetina em monoterapia foram mais eficazes do que o placebo e os controles psicológicos. A terapia combinada de fluoxetina + terapia cognitivo-comportamental (TCC) mostrou-se mais eficaz do que a TCC ou a terapia psicodinâmica isoladas. Já a psicoterapia interpessoal foi mais eficaz do que os controles psicológicos, mas com baixa confiança.

No entanto, o uso de nortriptilina e a lista de espera foram piores do que outras intervenções, mas a interpretação dos dados da nortriptilina pode ser limitada a algumas inconsistências encontradas na metodologia da análise. Em termos de aceitação, a nefazodona e a fluoxetina foram menos descontinuadas do que a sertralina, a desipramina e a imipramina.

A imipramina foi mais associada à descontinuação do que o placebo, a vilazodona, a desvenlafaxina e a combinação de fluoxetina + TCC. A venlafaxina foi associada a um aumento significativo de ideação e comportamento suicida quando comparada ao placebo e outras 10 intervenções (fluoxetina, citalopram, escitalopram, duloxetina, imipramina, desvenlafaxina, fluoxetina + TCC, terapia de família, TCC isolada e placebo + TCC).

Esses achados são bem diferentes daqueles encontrados na população adulta, onde todos os antidepressivos descritos possuem eficácia documentada maior que o placebo, assim como as psicoterapias são superiores aos controles psicológicos.

Os autores especulam que tais diferenças poderiam estar relacionadas à aspectos do neurodesenvolvimento (como alterações hormonais, especialmente no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal); o fato de haverem poucos estudos com pacientes mais jovens; as diferenças de métodos de estudo nessas duas populações (talvez crianças e adolescentes respondam mais ao placebo) e por fatores relacionados às técnicas de psicoterapia (que muitas vezes são adaptações de técnicas originalmente desenvolvidas para adultos).

É necessário relembrar que em 2004 a Food and Drug Administration (FDA) colocou um alerta nos antidepressivos sobre seu uso em crianças, pois alguns trabalhos teriam destacado que essas medicações poderiam aumentar a ideação e o comportamento suicida. Como já colocado encontrou-se que a venlafaxina parece estar associada a um aumento significativo do risco de comportamento e ideação suicida em crianças e adolescentes, o que seria consistente com achados anteriores. Isso também pode ter ocorrido em consequência a uma maior notificação de dados sobre a venlafaxina.

A despeito disso, os autores escrevem que duas bases de dados norte-americanas com informações de mais de 220 mil jovens com depressão entre 2004 e 2009 mostraram que a aparente associação entre o uso de antidepressivos e as tentativas de suicídio e autoinjúria diminuíram e não foram estatisticamente significativas. No entanto, ainda sugere-se que os médicos assistentes monitorem seus pacientes com cautela ao iniciarem uma medicação antidepressiva.

Autora:


Paula Benevenuto Hartmann

Médica pela Universidade Federal Fluminense (UFF) ⦁ Psiquiatra pelo Hospital Universitário Antônio Pedro/UFF ⦁ Mestranda em Psiquiatria e Saúde Mental pela Universidade do Porto, Portugal.

Referência bibliográfica:

  • Zhou X, et al. Comparative efficacy and acceptability of antidepressants, psychotherapies, and their combination for acute treatment of children and adolescents with depressive disorder: a systematic review and network meta-analysis. Lancet Psychiatry 2020; 7: 581–601.

Mulheres miastênicas podem ter piora nos sintomas durante e após a gravidez?

A atividade da doença é o indicador mais importante para planejar a gravidez, recomendada a partir do terceiro ano após o diagnóstico de Miastenia Gravis

A Miastenia Gravis, doença autoimune crônica mais prevalente da transmissão neuromuscular, é mais comum em mulheres entre a segunda e terceira década de vida, período que coincide com o de maior fertilidade e desejo de engravidar.  Caracterizada por ter como principais sintomas a fraqueza muscular e a fadiga, a Miastenia Gravis se manifesta de forma mais ativa no início da doença, quando as crises são mais comuns. 

De acordo com o Dr. Eduardo Estephan, médico neurologista e diretor científico da Abrami (Associação Brasileira de Miastenia), a recomendação para as mulheres miastências que desejam ter filhos é que “a gravidez seja planejada a partir do 3º ano da doença, quando a atividade da miastenia está mais estável e controlada. O curso da doença deve ser bem monitorado durante toda a gestação, com atenção aos medicamentos de uso regular para não prejudicar o feto”, explica o especialista. 

O momento de maior atenção e quando os cuidados devem ser redobrados é o do parto, já que o esforço físico é mais exigido pelas futuras mães, o que pode piorar o quadro. O parto normal é recomendado apenas para mulheres com a doença compensada e os trabalhos de parto prolongados devem ser evitados. “A principal força exigida da mãe no parto normal é a da contração uterina, que não é afetada pela miastenia, e fadigas musculares leves não costumam atrapalhar o parto. Já a cesária é mais indicada para mães que apresentam quadros mais intensos de Miastenia Gravis ou crise miastência durante a gestação”, diz o médico.

Sinais de piora dos sintomas podem ocorrer em um terço dos casos e, geralmente, acontecem no primeiro trimestre e nos primeiros trinta dias de puerpério, período em que há maior demanda da mãe, com muitas atividades diárias nos cuidados com o bebê e noites mal dormidas. No puerpério, o manejo adequado deve ser feito com a manutenção das drogas nas doses usadas antes da gestação, suficientes para manter a paciente com quadro estável.

Um estudo publicado no Neurology – jornal cientifico da American Academy of Neurology –  realizado durante 33 anos na Noruega envolvendo 127 nascimentos de mulheres com Miastenia Gravis e 1.9 milhões de nascimentos de mulheres sem a doença (grupo de controle), confirmou que mulheres com MG tiveram o dobro da taxa de partos por cesariana (17,3%) em comparação ao grupo de controle (8,6%) e a ruptura prematura das membranas amnióticas ocorreu três vezes mais (5,5%) em miastênicas do que na população em geral (1,7%). A causa da ruptura das membranas não está bem estabelecida, podendo ser secundária ao uso de corticosteroide ou relacionada a algum processo infeccioso.

Ainda de acordo com a pesquisa, apenas 27 das 127 crianças nascidas de mulheres miastênicas apresentaram complicações neonatais e apenas 5 apresentaram defeitos congênitos graves, número considerado não significativo quando comparado a todos os nascimentos. Além disso, as mortes neonatais não aumentaram de forma expressiva, assim como não houve uma taxa maior de prematuridade.

Foi constatado também que cerca de 15% dos bebês nascidos de mães miastênicas podem desenvolver a doença através da troca de anticorpos entre a mãe e o recém-nascido. Na pesquisa, a MG neonatal ocorreu em 4% dos recém-nascidos, porém 8% tiveram sintomas observados seguidos ao nascimento.

Entretanto, os sintomas podem desaparecer em até três semanas de vida, embora possam se manifestar de forma leve nesse período. “Choro fraco, dificuldade de sucção, tônus enfraquecido, fraqueza generalizada, dificuldade respiratória e pálpebra caída (ptose) são os principais e, em geral, não precisam ser tratados. Quanto à amamentação, não há contraindicações por motivo da doença. Os médicos, porém, precisam avaliar se algum dos medicamentos administrados pode passar para o leite e fazer mal ao bebê”, esclarece o Dr. Eduardo.

Outro estudo, conduzido por médicos da Universidade de Brasília e do Hospital Universitário de Brasília, apontou que a gravidez pode atuar de forma imprevisível sobre o curso da Miastenia Gravis. Em uma revisão de 322 gestações, em 225 mulheres miastênicas, foi observada exacerbação da doença em 41%, remissão em 29% e nenhuma alteração em 30% dos casos.  

Diante desse cenário, as mulheres com Miastenia Gravis não devem ser desencorajadas a dar à luz, apenas devem se planejar para engravidar e ter um acompanhamento médico criterioso, principalmente, com acesso rápido em caso de complicações. 

Dr. Eduardo Estephan – Médico neurologista do Ambulatório de Miastenia do Hospital das Clínicas e do Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital Santa Marcelina, ambos de São Paulo.

Para mais informações sobre miastenia, acesse o site: https://www.miastenia.com.br/abrami/

Informações para a imprensa
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Tel: +5511 99286-0839

8 benefícios da prescrição digital para o seu consultório

Em tempos de pandemia, o uso de novas tecnologias facilita a rotina dos profissionais de saúde e possibilita a manutenção da prestação dos serviços médicos. Um bom exemplo disso é a prescrição digital, recurso essencial neste momento de isolamento social.

Você já implementou esta ferramenta no seu consultório? Ainda não? Então, este artigo é leitura obrigatória. Nele, você irá entender como ela funciona e também conhecerá os principais benefícios de oferecê-la aos seus pacientes.

O que é a prescrição digital?

No dia-a-dia de um consultório médico, o profissional prescreve fisicamente medicamentos para o tratamento dos pacientes que, posteriormente, se dirigem até a farmácia mais próxima, apresentam este documento e adquirem o fármaco solicitado.

No entanto, com os diversos protocolos de segurança estabelecidos para evitar a disseminação do novo coronavírus, esse procedimento padrão precisa ser modificado para resguardar tanto a saúde do paciente, quanto a do médico e dos farmacêuticos.

Neste sentido, a prescrição digital tem se mostrado um recurso imprescindível, ganhando grande notoriedade. Isso porque, ao dispor dessa funcionalidade, a receita médica é preparada eletronicamente e enviada para o e-mail do paciente.

Assim, não há mais a necessidade de se deslocar até o consultório para receber a receita, permitindo que todo o atendimento seja feito por telemedicina. Com isso, o paciente fica seguro em sua casa.

No entanto, para usufruir deste recurso, você precisa dispor de um sistema que ofereça um bom nível de proteção de dados. Ademais, de acordo com a Lei n.º 13.989/2020, a prescrição online só tem validade jurídica quando assinada por meio do certificado digital ICP-Brasil.

Além disso, nos principais softwares médicos do mercado, a ferramenta de prescrição digital é integrada com um banco de dados que contém todas as informações necessárias sobre milhares de medicamentos. 

Enfim, como você pode perceber, esta inovação tecnológica traz diversas facilidades para a rotina de consultórios médicos e também para os pacientes. Porém, se você ainda não está convencido sobre a eficácia desse recurso, conheça os principais benefícios de implementá-lo.

Quais os benefícios obtidos com a prescrição digital?

Com o aumento no número de casos de pacientes com a Covid-19 e a lotação nos leitos hospitalares das grandes cidades brasileiras, as pessoas estão buscando limitar o contato presencial com terceiros.

Nesse sentido, há um considerável crescimento na quantidade de atendimentos realizados à distância. Em consequência disso, há também uma grande demanda pela ferramenta de prescrição digital.

Segundo pesquisa da revista Medicina S/A, o Portal Receita Médica da Certisign apresentou crescimento de 1.230% na utilização do recurso de prescrição online. Essa expansão é facilmente explicada pelas vantagens oferecidas pelo recurso. A seguir, listamos as mais importantes:

1) Otimização da rotina do consultório

Com a alta demanda por atendimentos, os profissionais de saúde precisam buscar novas alternativas para otimizar a rotina e, com isso, ganhar tempo para cumprir seus compromissos. Para isso, a implementação da prescrição digital pode ser uma excelente medida.

Isso porque esta ferramenta torna o preenchimento das informações mais ágil e preciso, reduzindo o tempo que antes era gasto com a prescrição física. Assim, você terá maior disponibilidade para cuidar de assuntos mais urgentes.

2) Redução de custos

Quando ouvimos a palavra “tecnologia”, automaticamente associamos a algo que irá exigir um grande investimento. Porém, no caso da prescrição digital, esse pensamento não retrata a realidade. 

Na verdade, a funcionalidade trará economia para o consultório médico. Em primeiro lugar, não haverá mais a necessidade de confeccionar grandes volumes de receituários. Segundo que, com o envio eletrônico da receita, você reduz a despesa com suprimentos para impressão.

3) Melhora a qualidade do atendimento

Em uma rotina padrão de atendimento, parte do tempo da consulta é gasto com o preenchimento do prontuário do paciente, ficha de anamnese e com a prescrição de medicamentos, procedimentos ou exames.

Ainda, com a prescrição digital, você elimina pelo menos um desses gargalos. Dessa forma, ganha mais tempo para se dedicar ao paciente, melhorando a condução da consulta e, consequentemente, a experiência dele.

4) Diminuição de erros

A prescrição de medicamentos é, tradicionalmente, alvo de muitas reclamações dos pacientes, principalmente em função da ilegibilidade da famosa “letra de médico”. Porém, além do difícil entendimento, essa situação pode ocasionar erros que afetarão a saúde do paciente.

Por outro lado, com a prescrição digital, toda a receita é preenchida eletronicamente, facilitando a leitura do paciente e também do farmacêutico. Além disso, por ser integrada a um banco de dados, o médico terá acesso a todas as informações necessárias antes de prescrever um medicamento.

5) Garantia jurídica

Com a prescrição eletrônica, você também contribui com o combate à disseminação de receituários falsos. Isso porque o documento emitido digitalmente recebe certificação de autenticidade, que pode ser verificada no ato da compra de medicamentos.

Ademais, por ser uma receita assinada digitalmente, ela atende as normas do ICP-Brasil (Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras). Com isso, todas as informações são registradas e armazenadas no sistema para posterior conferência.

6) Acessibilidade

Por ser uma funcionalidade integrada a softwares médicos e/ou plataformas de telemedicina, a prescrição digital pode ser realizada de qualquer lugar, bastando apenas um dispositivo conectado à internet.

Além disso, o paciente também não precisará mais carregar consigo a receita. Como o documento é encaminhado para o seu e-mail, ele pode acessá-lo pelo celular no momento da compra do medicamento.

7) Maior satisfação do paciente

Uma das principais vantagens de oferecer a prescrição digital é o impacto positivo que você causa na experiência do paciente. Seja pela agilidade, praticidade ou pela acessibilidade da receita eletrônica, ele deixará a consulta satisfeito com o atendimento.

Isso porque se sentirá valorizado e respeitado por você. Dessa maneira, a tendência é de que se fidelize ao seu consultório e que se torne um promotor da sua marca. Com isso, você será beneficiado com o ganho de autoridade e a maior demanda de pacientes.

8) Aumento na segurança das informações

O sistema de prescrição digital é submetido a diversos protocolos de segurança que evitam o vazamento de dados dos pacientes e a alteração não autorizada da receita. A proteção dessas informações é ainda maior nos softwares em nuvem.

Por serem alocados em servidores externos, esses sistemas contam com criptografia de dados, rotina de backups diários e controle de acesso por senha. Assim, você minimiza as chances de sofrer um ataque cibernético e mantém a integridade dos dados dos pacientes.

Então, como você pode perceber, a prescrição digital é uma ferramenta essencial para o momento em que vivemos, oferecendo segurança para o médico e para o paciente. Portanto, não perca tempo e implemente essa funcionalidade no seu consultório o quanto antes.

Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e direção

Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e direção

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno da infância caracterizado por níveis excessivos de hiperatividade e impulsividade e/ou desatenção. Para a maioria das crianças, o TDAH persiste na adolescência, período em que muitos tiram a habilitação para dirigir. Habilidades que são críticas na condução de veículos são frequentemente prejudicadas em indivíduos com TDAH. Nos Estados Unidos, por exemplo, as taxas de licenciamento entre adolescentes com TDAH são mais baixas do que entre os adolescentes sem o transtorno.

Direção e TDAH

Estudos epidemiológicos iniciais sugerem um aumento do risco de acidente entre motoristas adolescentes com TDAH, mas com limitações metodológicas substanciais. Recentemente, Curry e colaboradores (2017) conduziram o primeiro estudo longitudinal para avaliação do risco de acidente entre motoristas adolescentes com TDAH na comunidade. Análises iniciais desse estudo mostraram que a taxa de risco de envolvimento em um primeiro acidente foi 36% maior entre os motoristas com TDAH em comparação a outros adolescentes. Infelizmente, pesquisas sobre os mecanismos comportamentais específicos subjacentes a este elevado risco de acidente são escassas, limitando a capacidade de desenvolver esforços de prevenção de acidentes baseados em evidências para motoristas novatos com TDAH.

Diante disso, Curry e colaboradores (2019) efetuaram o estudo Traffic Crashes, Violations, and Suspensions Among Young Drivers With ADHD, com o objetivo de comparar as taxas mensais de tipos específicos de falhas, violações e suspensões nos primeiros quatro anos de licenciamento de motoristas com e sem TDAH. Os indivíduos foram identificados a partir das seis práticas de cuidados primários de New Jersey dentro da rede do Children’s Hospital of Philadelphia (CHOP), que atende diferentes populações socioeconômicas, étnicas e raciais.

O banco de dados foi elaborado a partir de consulta aos prontuários eletrônicos do CHOP para selecionar pacientes que nasceram entre 1987 e 1997. Eles eram pacientes ambulatoriais da unidade CHOP em Nova Jersey e, para estabelecer residência em New Jersey, fizeram uma visita à rede CHOP como residentes em New Jersey dentro de 4 anos após terem se tornado elegíveis para dirigir (nos Estados Unidos, a habilitação para dirigir é permitida para jovens a partir de 16 anos) e mantiveram um endereço em New Jersey em sua última visita ao CHOP.

Foram identificados 1769 adolescentes com TDAH (12%). Em análises ajustadas, esses adolescentes foram 62% mais propensos a ter um acidente no primeiro mês de habilitação em comparação a adolescentes sem TDAH; em 4 anos após a habilitação, a taxa de acidentes foi 37% maior. Embora raros, acidentes com lesões e os relacionados ao álcool foram mais comuns em motoristas com TDAH. Aos 4 anos de acompanhamento, os adolescentes com TDAH foram 47% mais propensos a violações de trânsito (inclusive por dirigir negligentemente, com excesso de velocidade e utilizando eletrônicos) e violações relacionadas a álcool/drogas. Os adolescentes que obtiveram a sua habilitação aos 17 anos tiveram resultados semelhantes aos que atrasaram o licenciamento para os 18 anos ou mais.

Recomendações para o motorista jovem com TDAH

O estudo conclui que os motoristas adolescentes com TDAH apresentam um risco de colisão particularmente elevado em seus primeiros meses de habilitação, e o envolvimento em comportamentos de direção evitáveis ​​e de risco provavelmente está por trás disso. Estudos prospectivos para medir objetivamente os comportamentos de condução arriscados entre motoristas novatos com TDAH e examinar até que ponto quais desses comportamentos medeiam os resultados de condução são vitais para informar as estratégias de prevenção. O desenvolvimento de abordagens preventivas abrangentes para reduzir o risco de acidentes é fundamentalmente necessário.

Além de destacar a necessidade de os adolescentes com TDAH tomarem seus medicamentos quando planejarem dirigir, este estudo sugere que as habilidades de direção devem ser um alvo da terapia do transtorno, particularmente no primeiro mês após a habilitação. Para ajudar a reduzir as reações automáticas impulsivas, as crianças com TDAH, geralmente, precisam ter habilidades ensinadas passo a passo e praticadas repetidas vezes –  e as habilidades de condução de veículos não são diferentes. Os autores sugerem incentivar as famílias a encontrar um centro de terapia local que tenha um especialista certificado em reabilitação de condutores com este propósito. Limites em torno do uso de tecnologia e do uso de substâncias também são importantes.

Fonte: PEBMED – 

Autora: Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.

Referências: 

Doenças relacionadas às estações mais frias podem agravar sintomas em miastênicos

A bactéria pneumococo e os vírus Influenza e H1N1 figuram entre os desencadeadores de problemas respiratórios, mais comuns no outono e no inverno, e podem potencializar os sintomas relacionados à miastenia.

A Miastenia Gravis (MG), doença rara e de difícil diagnóstico, pode acometer pessoas em qualquer faixa etária, desde o nascimento até a terceira idade. Por ser autoimune e afetar a junção neuromuscular, a fraqueza e a fadiga da musculatura esquelética estão entre os principais sintomas, mas em alguns casos, a evolução da miastenia pode provocar fraqueza respiratória. Muitas vezes, esses sintomas se confundem com outras comorbidades, em especial nos idosos, dificultando o diagnóstico em pessoas acima de 60 anos e aumentando a progressão da doença.  

“Durante o outono e o inverno, as dores articulares tendem a aumentar e podem se tornar mais intensas em pacientes miastênicos, que já apresentam fraqueza muscular. É necessário redobrar os cuidados e prevenir também as doenças respiratórias, mais comuns nessa época do ano, evitando a disfasia (alteração na fala e compreensão) e o aumento da dificuldade em eliminar secreções orais, típicas da gripe e das alergias”, explica o Dr. Eduardo Estephan, médico neurologista e diretor científico da Abrami (Associação Brasileira de Miastenia).

Segundo o artigo científico denominado “Miastenia Gravis: implicações Anestésicas”, publicado na revista Brasileira de Anestesiologia, a fraqueza respiratória isolada ou combinada com a paralisia da deglutição é a complicação mais temida, bastante comum na crise miastênica. Além da fadiga, a presença de infecção – principalmente respiratória – pode levar à insuficiência grave, mesmo nos pacientes sem queixa anterior. 

De acordo com o Dr. Eduardo Estephan, embora a doença se manifeste com mais frequência em mulheres abaixo dos 50 anos, a Miastenia Gravis pode acometer pessoas de qualquer faixa etária, apresentando características diferentes em cada uma. 

A Miastenia neonatal (transitória) ocorre em 20% a 50% dos recém-nascidos de mães miastênicas. Dificuldade para a sucção, alterações respiratórias e faciais e pálpebra caída (ptose) são sintomas que podem aparecer logo após o nascimento ou entre 12 e 48 horas depois. A Miastenia Infantil ou congênita é decorrente de uma alteração genética e é rara quando a mãe não tem a doença, sendo mais comum em homens e com evolução de baixa mortalidade. Apenas 4% dos casos de miastenia ocorrem antes dos 10 anos de idade e 24% depois dos 20 anos. A Miastenia Jovem acomete mais mulheres do que homens e acontece por uma desordem autoimune, diferente da forma infantil, que apresenta um componente genético. Nesse caso, a doença tem um curso lento, com tendência à remissão.

Em adultos, a incidência é de aproximadamente 1 a cada 20.000 adultos, e mais comum em mulheres com menos de 50 anos. Após essa idade, há uma equivalência entre homens e mulheres, porém a doença tende a ser mais agressiva em homens, com baixa remissão e alta mortalidade. Em 3/4 dos pacientes que apresentam ptose (pálpebra caída) ou diplopia (visão dupla) como sintomas iniciais, a doença pode se generalizar com fraqueza da musculatura da faringe, resultando em outras complicações. 

“Aproveitando a chegada do outono, vale ressaltar a importância da vacinação, que é recomendada, em geral, para miastênicos idosos e não idosos. Deve ser considerada a imunização contra a gripe sazonal e H1N1 e contra pneumococo, bactéria considerada uma das principais causas de pneumonia e meningite em adultos, entre outras doenças”, reforça o especialista.

Vacinas Contra Covid-19 e Gripe: qual é o tempo de espera entre uma e outra?

Tanto a gripe quanto a covid-19 afetam o sistema respiratório e podem trazer complicações, sequelas e levar à morte. Portanto, as vacinas diminuem os riscos à saúde e, no caso dos pacientes miastênicos, elas podem ter um efeito menor devido ao comprometimento do sistema imunológico. Mesmo assim, a recomendação é que todos sejam imunizados contra as duas enfermidades. 

Geralmente, a campanha de vacinação contra a gripe prioriza os idosos. Neste ano, devido à pandemia, eles foram transferidos para uma segunda etapa para que não haja conflito com o calendário de vacinação contra a Covid-19.

O grupo de pessoas acima de 60 anos deve começar a ser imunizado a partir de 11 de maio, quando a maioria já estiver protegida contra o coronavÍrus, de acordo com as expectativas. Já os indivíduos com comorbidades ou deficiências permanentes receberão a vacina entre os dias 09 de junho e 09 de julho.

“Entre as duas imunizações, é importante priorizar a vacina contra a Covid-19 e, na sequência, tomar a vacina contra a influenza, respeitando o prazo indicado entre as duas. Esse intervalo é importante para evitar efeitos colaterais inesperados ou até uma resposta imunológica menos eficiente, embora saibamos que nos pacientes imunossuprimidos o efeito das vacinas pode ser menor”, explica o Dr. Eduardo.

Vacina Coronavac / Butantan

A indicação é aguardar de 14 a 28 dias entre a primeira e a segunda dose desta mesma vacina.

É necessário esperar mais duas semanas para ser imunizado contra a gripe, que exige apenas uma dose.

Vacina AstraZeneca / Oxford

Nesse caso, a ordem da vacinação muda, pois o prazo entre a primeira e a segunda dose é de três meses. É indicado que, após a primeira dose desta vacina contra a Covid-19, a pessoa aguarde duas semanas para receber a vacina contra a gripe. A segunda dose da vacina contra a covid-19 será aplicada somente após dois meses e meio, não havendo interferência entre as duas.

Informações para a imprensa 

VV4 PR – Comunicação e EstratégiaValéria Vargas – RP – valeria@vv4pr.com.br – Tel: +5511 99286-0839

Nortriptilina em foco: Dor crônica e neuropática

Os podcasts a seguir foram desenvolvidos pelo Dr. Ricardo Kobayashi, ortopedista especializado em dor e Ex-Presidente do Comitê de Dor da SBOT. Escute os podcasts e entenda um pouco mais sobre epidemiologia, quadro clínico, diagnóstico, tipos de tratamentos e dicas práticas que podem auxiliar no dia a dia de sua conduta.