Probióticos
26/03/2025
Cientistas modificam genes de bactérias da microbiota intestinal para tratar hipertensão

Estudo aponta alternativa promissora no controle da pressão arterial por meio da manipulação da flora intestinal

Um estudo publicado na revista Pharmacological Research, em outubro de 2023, trouxe um avanço significativo sobre o controle da hipertensão, condição que afeta cerca de 1,28 bilhão de adultos em todo o mundo. A pesquisa mostra que a introdução de bactérias com genes modificados na microbiota intestinal pode ser a chave para reduzir níveis elevados de pressão arterial.

Durante os testes em laboratório com ratos, os micro-organismos geneticamente alterados foram capazes de produzir uma substância inibidora de um hormônio associado à elevação da pressão. Ainda são necessárias mais investigações, mas os resultados apontam para um caminho promissor no tratamento de uma das doenças crônicas que mais provoca mortes prematuras no mundo.

Neste artigo, você confere:

  • O que é a microbiota intestinal

  • Qual a relação entre hipertensão e microbiota

  • Como bactérias modificadas poderiam auxiliar no tratamento

  • Quais fatores podem causar ou agravar a hipertensão

O que é a microbiota intestinal?

A microbiota intestinal é formada por cerca de 100 trilhões de micro-organismos que vivem no intestino humano. Também chamada de flora intestinal, ela constitui o maior microecossistema do corpo.

Além de bactérias, a microbiota inclui vírus, fungos e parasitas. Sua composição é única em cada pessoa e pode ser influenciada por fatores como alimentação, estresse, uso de medicamentos e estilo de vida.

Essa comunidade microbiana está diretamente relacionada ao funcionamento de diferentes órgãos e sistemas, como o nervoso, imunológico, digestivo e cardiovascular. Alterações em sua composição, chamadas de disbiose, têm sido associadas a distúrbios neurodegenerativos, gastrointestinais, metabólicos e cardiovasculares.

Estudos também relacionam a microbiota à proteção da barreira intestinal, estrutura essencial para evitar a passagem de toxinas e agentes inflamatórios para a corrente sanguínea — fator que pode impactar diretamente na saúde vascular e na pressão arterial.

O que é a hipertensão e qual a sua relação com a microbiota intestinal?

A hipertensão arterial é caracterizada pelo aumento da pressão do sangue contra as paredes das artérias, o que obriga o coração a trabalhar com mais esforço. Esse quadro eleva o risco de infartos, insuficiência cardíaca e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).

Na maioria dos casos, a hipertensão não apresenta sintomas evidentes. Por isso, muitas pessoas só descobrem a condição ao realizar exames de rotina.

A relação com a microbiota intestinal vem sendo cada vez mais estudada. Pessoas com hipertensão costumam apresentar menor diversidade de micro-organismos intestinais. Além disso, há evidências de que os metabólitos produzidos pelas bactérias podem interferir no controle da pressão.

Pesquisas recentes indicam que probióticos para hipertensão podem atuar na regulação de substâncias inflamatórias, no fortalecimento da parede intestinal e na modulação do sistema nervoso entérico, beneficiando o controle da pressão arterial.

De que forma bactérias modificadas da microbiota poderiam ajudar a tratar a hipertensão?

De acordo com pesquisadores da Faculdade de Medicina e Vida da Universidade de Toledo (UToledo), a bactéria Lactobacillus paracasei foi modificada para produzir a proteína ACE2, que atua inibindo um hormônio responsável pela constrição dos vasos sanguíneos.

A produção da ACE2 levou à redução da pressão arterial nos animais testados. Curiosamente, os efeitos positivos foram observados apenas nas fêmeas, mesmo com a produção da proteína em ambos os sexos. A hipótese dos cientistas é que diferenças genéticas entre machos e fêmeas possam influenciar na resposta.

Ainda que os resultados sejam animadores, o uso dessas bactérias geneticamente modificadas ainda está em fase experimental, com testes restritos a ratos. Serão necessárias novas etapas de validação em humanos para compreender melhor os impactos dessa estratégia.

Essa linha de pesquisa abre novas possibilidades para tratamentos não convencionais da hipertensão, especialmente entre pacientes que não respondem bem às abordagens tradicionais.

O que pode causar a hipertensão ou aumentar o risco de desenvolvê-la?

As causas da hipertensão podem ser multifatoriais. Em alguns casos, não é possível identificar a origem (hipertensão primária). Em outros, a condição é associada a doenças ou fatores específicos (hipertensão secundária), como:

  • Distúrbios hormonais

  • Doença renal

  • Apneia do sono

  • Uso prolongado de medicamentos, como anti-inflamatórios e descongestionantes

Outros fatores que aumentam o risco incluem idade avançada, histórico familiar, obesidade, sedentarismo, tabagismo e consumo excessivo de sal ou álcool.

A saúde intestinal, por sua vez, pode ser um novo ponto de atenção. Pesquisadores já observam que quadros como a síndrome de ruminação ou desequilíbrios gastrointestinais têm o potencial de alterar a microbiota e influenciar processos sistêmicos — incluindo aqueles que regulam a pressão arterial.

A manutenção de uma microbiota equilibrada, com dieta rica em fibras, prática de atividade física e possível uso de probióticos, tem se mostrado uma medida preventiva relevante para o cuidado com a saúde cardiovascular.

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