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Medidas preventivas para o trabalho presencial do profissionais da saúde e o tratamento de pacientes com o uso de imunossupressores.

Medidas preventivas básicas para o trabalho presencial de profissionais de saúde e o tratamento de pacientes com o uso de imunossupressores.

O retorno ao trabalho presencial demanda especial diligência quanto às ações diferenciadas para o distanciamento social e para o uso de dispositivos de prevenção a infecções. O Ministério da Saúde, desde o início da pandemia do SARS-CoV-2, indicou que tais medidas fossem estabelecidas por estados e municípios, a partir de seus distintos cenários. Além do distanciamento, a OMS (Organização Mundial da Saúde) também preconiza como ação de caráter preventivo o uso adequado de máscaras em distintas atividades diárias, entre elas, procedimentos médicos como consultas e exames clínicos.1,2,3

Gastroenterologistas, endoscopistas e profissionais relacionados às atividades dos mesmos devem permanecer vigilantes e revisar periodicamente os equipamentos de proteção pessoal, especialmente durante procedimentos endoscópicos. Nesse sentido, o uso de máscaras e protetores faciais é elementar nos cuidados ao paciente no contexto da pandemia pelo SARS-CoV-2, assim como a atenção na remoção apropriada de tais dispositivos.3

Antecedendo consultas e procedimentos de exames clínicos, é recomendado que, preventivamente, seja seguido um protocolo de perguntas sobre viagens, contatos com infectados e sintomas respiratórios recentes que indiquem infecção pelo vírus. Casos suspeitos, evidentemente, devem ser encaminhados para as clínicas de saúde voltadas ao tratamento do SARS-CoV-2. 3

A máscara, especificamente, é um item pessoal, que não pode ser compartilhado por parceiros. Trata-se de um objeto de proteção fundamental e de caráter preventivo contra a disseminação do vírus, e que precisa de cuidados específicos no seu manuseio e na sua higienização.3

O uso de imunossupressores e implicações da dieta na microbiota intestinal 

A flexibilização da quarentena traz um novo quadro de risco para pacientes que fazem uso de imunossupressores, uma vez que as taxas de isolamento social são menores. Dessa forma, a rigidez na conduta do tratamento médico, na adoção de hábitos alimentares saudáveis e a disciplina no seguimento de medidas sanitárias de prevenção atuam como fatores preponderantes no sucesso de uma resposta imunológica positiva.1,2,3 

O uso de imunoterápicos, como inibidores de ponto de controle imunológico (ICIs), revolucionaram o cenário terapêutico no que se refere ao tratamento de várias doenças graves. A saúde da microbiota intestinal está fortemente ligada às respostas terapêuticas a esses medicamentos.4 

No cenário da pandemia pelo SARS-Cov-2, pacientes com hepatite autoimune, transplante hepático ou outras condições que requerem a utilização de imunossupressores não devem interromper seu tratamento, uma vez que o risco de progressão da doença ou complicações superam os riscos de contrair o vírus.3   

Ensaios clínicos avaliam o impacto de diversos fatores em pacientes em tratamento com imunoterápicos. Transferência da microbiota fecal, probióticos, prebióticos, consórcios de bactérias e uma gama de intervenções dietéticas são alguns destes fatores.4  

A utilização de antibióticos deve ser rigidamente gerenciada conforme o avanço do tratamento com imunoterápicos. Inibidores da bomba de prótons, por exemplo, devem ser descontinuados quando não forem claramente indicados e, também, pacientes devem ser aconselhados a minimizar o consumo de carne animal e aumentar a ingestão de vegetais, com foco na variedade. Uma alta ingestão de fibras (> 30 g/dia) mostrou ser benéfica para aumentar a chance de resposta aos imunoterápicos.4  

Alimentos fermentados podem ter um efeito benéfico sobre a microbiota intestinal e devem ser introduzidos sempre que possível. O ideal é que todos os pacientes que façam uso de imunoterápicos sejam encaminhados, antes do início do tratamento, a um profissional da saúde com conhecimento sobre microbiota intestinal.4  

A microbiota intestinal tem papel essencial na resposta imunológica do corpo a infecções e em manter a saúde de maneira geral. Sendo assim, uma dieta balanceada que seja rica em fibras, em vegetais e em outros alimentos probióticos é essencial para a promoção da saúde e para a composição do tratamento de doenças graves.4

Referências

1 – Ministério da Saúde. Diretrizes para Distanciamento Social. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/ministerio-da-saude-apresenta-diretrizes-para-auxiliar-na-decisao-sobre-distanciamento-social. Acesso em: 25 out. 2020.

2 – Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. Últimas Notícias. Coronavírus. Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/coronavirus-entenda-a-importancia-de-evitar-aglomeracoes/. Acesso em: 25 out. 2020.

3 – Federação Brasileira de Gastroenterologia. Gastroenterologistas e Covid-19. Disponível em: http://fbg.org.br/Publicacoes/noticia/detalhe/1347/. Acesso em: 25 out. 2020.

4 – Karla A. Lee, Heather M. Shaw, Veronique Bataille, Paul Nathan, Tim D. Spector. Role of the gut microbiome for cancer patients receiving immunotherapy: Dietary and treatment implications. European Journal of Cancer. Oct 2020. 149-155.

Doenças reumáticas autoimunes são mais comuns em mulheres miastênicas

Estudo revela que pacientes com Miastenia Gravis têm 6 vezes mais chances de desenvolver doenças autoimunes reumatológicas.

Aproximadamente 5% da população mundial é afetada por uma ou mais doenças autoimunes, sendo que a prevalência é mais alta em mulheres do que nos homens. Pacientes com um distúrbio autoimune têm maior risco de desenvolver um segundo transtorno, como é o caso da Miastenia Gravis (MG).

A MG é uma doença autoimune neuromuscular que afeta a junção muscular, causando fraqueza em diversos grupos musculares do corpo e dificultando – ou até impedindo – que a pessoa execute movimentos de forma voluntária. “Ela está diretamente associada a doenças reumáticas autoimunes incidentes, com risco maior de Artrite Reumatoide (AR), Síndrome de Sjogren primária (SSp) e Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), entre outras comorbidades”, reforça o Dr. Eduardo Estephan, médico neurologista e diretor científico da Abrami (Associação Brasileira de Miastenia).

O estudo denominado Thymectomy in patients with myasthenia gravis increases the risk of autoimmune rheumatic diseases: a nationwide cohort study”, traduzido para o português como “A timectomia em pacientes com Miastenia Gravis aumenta o risco de doenças reumáticas autoimunes: um estudo de corte nacional” e publicado em janeiro de 2019 na Revista Rheumatology, da Oxford Academy, apontou que o risco de doenças reumáticas foi 6,34 vezes maior em pacientes com Miastenia Gravis se comparados a outros sem a comorbidade.

A pesquisa foi feita a partir da identificação de pessoas com Miastenia Gravis na base de dados “Registro de Doenças Catastróficas” de médicos de Taiwan, que foi comparada com todos os dados da população geral do National Health Insurance Research Database e segmentada por sexo, idade e data de índice. A amostra reuniu 6.478 pacientes com Miastenia Gravis (58,3% mulheres com idade entre 50 e 55 anos) e 25.912 sem Miastenia Gravis (58,3% mulheres com idade entre 50 e 52 anos). 

Os resultados mostraram que as mulheres miastênicas apresentaram risco significativamente maior de desenvolver Síndrome Sjogren primária (15,84%), Lúpus Eritematoso Sistêmico – LES (11,32%) e outros tipos de doenças reumáticas autoimunes (4,07%). Além disso, pacientes com Miastenia Gravis submetidos à timectomia (cirurgia para retirada do timo) apresentaram riscos ainda maior para essas doenças. 

Muito comum em miastênicos, a timectomia é uma cirurgia para a remoção do timo, glândula localizada entre os pulmões e à frente do coração. Se ele não funciona bem, aumenta o risco de infecções e de doenças autoimunes, como a MG. 

Cerca de 10% dos miastênicos têm tumor de timo (timoma) e esses pacientes produzem anticorpos para combater o tumor, que acabam também reconhecendo o receptor de acetilcolina erroneamente como um “invasor”. A cirurgia de timo, entretanto, também pode ser indicada para pacientes sem tumor. Segundo o especialista, “a cirurgia só é indicada para pacientes com diagnóstico positivo para os anticorpos, que têm a doença há poucos anos e com idade não muito avançada”.

Doenças Reumatológicas Autoimunes

Artrite Reumatoide (AR)

 Doença inflamatória crônica, autoimune, que afeta as membranas sinoviais (fina camada de tecido conjuntivo) das articulações – mãos, punhos, cotovelos, joelhos, tornozelos, pés, ombros e coluna cervical. Em pacientes geneticamente predispostos, pode afetar também os órgãos internos, como pulmões, coração e rins.  Sintomas como rigidez matinal (regredindo durante o dia) e inchaço nas juntas são comuns, sendo que progressão da doença está associada a deformidades e alterações das articulações, que podem comprometer os movimentos.

Mulheres entre 50 e 70 anos têm duas vezes mais chances de desenvolver a AR do que os homens da mesma faixa etária, embora possa se manifestar em qualquer idade e em ambos os sexos.

Síndrome de Sjogren primária (SSp)

Doença reumática autoimune caracterizada pela secura excessiva dos olhos, boca e outras membranas e mucosas. Considerada a mais frequente entre as doenças raras, a SSp afeta 2% da população mundial e tem duas formas de apresentação: a primária, que ocorre de forma isolada e sem nenhuma relação com outras inferminades do tecido conjuntivo, e a secundária, quando outras doenças reumatológicas se manifestam simultaneamente, como artrite reumatoide, lupus eritematoso sistêmico, vasculite e tireoidite de Hashimoto.

Entre os principais sintomas estão pele seca, dor nas articulações, secura vaginal, alergias, alterações no intestino, rim e pulmões, dormência ou formigamento nas mãos e pés e fadiga extrema.

Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES)

O lúpus é uma doença inflamatória autoimune desencadeada por um desequilíbrio no sistema imunológico, que pode se manifestar sob a forma cutânea (atinge apenas a pele) ou ser generalizado.

Fatores genéticos e ambientais estão envolvidos no aparecimento das crises de lúpus. Entre as causas externas estão exposição ao sol, uso de determinados medicamentos e ação de alguns vírus e bactérias. O estrógeno (hormônio sexual feminino) também está entre os fatores, o que pode justificar a prevalência maior nas mulheres em idade fértil.

 “Ainda não há estudos conclusivos para traduzir as opções terapêuticas clínicas para as doenças reumáticas associadas à Miastenia Gravis. A recomendação é procurar um neurologista, preferencialmente especializado em Miastenia que, com base na história de cada paciente e nos resultados de exames neurológicos e laboratoriais, poderá definir o tratamento mais adequado, além de identificar fatores determinantes à evolução da doença ao longo da vida”, finaliza o médico.

Informações para a imprensa 

VV4 PR – Comunicação e Estratégia

Valéria Vargas – RP – valeria@vv4pr.com.br – Tel: +5511 99286-0839

Enxaqueca: qual o futuro da terapia e prevenção?

enxaqueca é um tipo de cefaleia primária que afeta principalmente mulheres (3:1) e anualmente custa bilhões de dólares para a economia mundial, estando listada entre as principais causas de incapacidade entre os trabalhadores.

O tratamento desse tipo de dor de cabeça é divido em drogas abortivas (para crises) como os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), agonistas da serotonina (triptanos), derivados do ergosterol (ergotaminas, de uso controverso) e drogas profiláticas (diminuição do número de crises) como betabloqueadores, bloqueadores do canal de cálcio, anticonvulsivantes e antidepressivos tricíclicos.

Há pouco mais de um mês, em setembro desse ano, tive o privilégio de participar do Congresso Internacional de Cefaléia (IHC), em Dublin. A chamada do evento era “Dawn of new headache treatments”, fazendo uma referência clara às novas drogas em estudo, para o tratamento das enxaquecas. Levando em consideração que o congresso acontece a cada dois anos e essas drogas começaram a surgir em 2018, o assunto realmente dominou as discussões.

Quais fármacos poderão agir na enxaqueca?

Os novos fármacos em voga agem sobre o calcitonin gene related peptide (CGRP).

O CGRP é uma molécula liberada no gânglio trigeminal e ocupa receptores na musculatura lisa da artéria dural, no próprio gânglio trigeminal, no tálamo, hipotálamo, amígdala, córtex e tronco cerebral, estando envolvida com estímulos nociceptivos e consequentemente com a vasodilatação enxaquecosa.

Apesar de os mecanismos exatos ainda serem desconhecidos, acredita-se que o extravasamento de plasma na dura-mater (região irrigada fora da barreira hemato-encefálica) seguido pela liberação de neurpeptídeos, como o CGRP e a substância P, extremamente envolvida com a transmissão da dor, sejam os responsáveis pela vasodilatação intacraniana e a resposta inflamatória que culmina na crise migranosa.

Portanto as novas terapias consistem em inibir o CGRP (anti-CGRP) ou bloquear o seu receptor (anti-CGRP receptor), inibindo assim, os impulsos durais dolorosos.

Leia também: Veja orientações da nova diretriz para tratamento da enxaqueca

“A ativação experimental de células do gânglio do trigêmeo acarreta na liberação de CGRP, inibido por agonistas serotoninérgicos de maneira dose-dependente, mostrando que o gânglio trigeminal pode ser um alvo ao antagonista de receptor de CGRP”. (Goadsby et. al., 2017).

Fonte: PEBMED – https://pebmed.com.br/enxaqueca-qual-o-futuro-da-terapia-e-prevencao/

Autor: Eduardo Nogueira

Residente de Clínica Médica no Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos • Membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia • Membro da International Headache Society

Referências bibliográficas:

  • Scuteri D, Adornetto A, Rombolà L, Naturale MD, Morronr LA, Bagetta G, Tonin P, Corasaniti MT. New Trends in Migraine Pharmacology: Targeting Calcionin Gene-Related Peptide (CGRP) With Monoclonal Antibodies. frontiers in Pharmacology. Front Pharmacol. 2019; 10: 363. doi: 10.3389/phar.2019.00363.
  • Ashima M, Hansen JM, Do TP, Melo-Carrillo A, Burstein R, Maskowitz MA. Migraine and the trigeminovascular system – 40 years and counting. Lancet Neurol. 2019 Aug;18(8) 795-804. doi: 10.1016/S1474-4422(19)30185-1.
  • Goadsby PJ, Holland PR, Martins-Oliveira M, Hoffmann J, Schankin C, Akerman S. Pathophysiology of Migraine: A Disorder of Sensory Processing. Physiological Reviews. Physiol Rev. 2017 Apr; 97(2): 553-622. doi: 10.1152/physrev.00034.2015.

10 tópicos que os gastroenterologistas deveriam saber antes de indicar a cirurgia antirrefluxo

A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), caracterizada por pirose e regurgitação, é considerada uma das patologias digestivas de maior prevalência nos países ocidentais, acometendo cerca de 10-20% da população. Embora a primeira linha de tratamento consista no uso de inibidores de bomba de prótons (IBP), alguns pacientes podem se beneficiar da cirurgia antirrefluxo. Recentemente, Park e colaboradores elencaram 10 tópicos que todos os gastroenterologistas deveriam saber antes de considerar o procedimento cirúrgico:

1) A patogênese da DRGE envolve uma relação dinâmica entre o esfíncter esofagiano inferior e alterações de pressão que promovem o refluxo.

O refluxo acontece quando a pressão intragástrica supera aquela do esfíncter esofagiano inferior. Três mecanismos principais favorecem a gênese do refluxo: o relaxamento transitório do esfíncter esofagiano inferior, a presença de hérnia de hiato ou um esfíncter esofagiano inferior hipotônico.

2) A cirurgia antirrefluxo visa a aumentar a pressão basal do esfíncter esofagiano inferior, além de reduzir a frequência e magnitude do relaxamento transitório, minimizando, assim, o refluxo.

A fundoplicatura é a principal forma laparoscópica de cirurgia antirrefluxo, sendo descritas diversas técnicas (Ex: Nissen, Toupet, Dor, etc).

3) Os guidelines disponíveis para indicação de cirurgia antirrefluxo são limitados.

As principais diretrizes recomendam a realização de cirurgia para: (a) pacientes que desejam descontinuar o tratamento clínico; (b) pacientes sem aderência ao tratamento clínico; (c) pacientes que falharam ao tratamento clínico (sintomas persistentes, estenose péptica, esofagite refratária a terapia medicamentosa). No entanto, deve-se considerar no processo decisório que até 62% dos pacientes necessitam retomar o uso de IBP após 9 anos de cirurgia e que os pacientes que respondem melhor a cirurgia são aqueles que também respondem ao tratamento com IBP.

4) Uma avaliação pré-operatória ampla é fundamental para selecionar os pacientes mais adequados para cirurgia antirrefluxo, otimizando os resultados e reduzindo o risco de complicações.

Uma avaliação pré-operatória adequada vai alterar o diagnóstico ou modificar o plano cirúrgico em até 30% dos pacientes. A avaliação pré-operatória deve incluir a realização de endoscopia digestiva alta e manometria esofagiana para todos os pacientes. A pHmetria deve ser realizada nos pacientes sem evidência de esofagite erosiva, enquanto o esofagograma pode ser solicitado na suspeita de hérnia hiatal ou alterações anatômicas. 

Pacientes que não respondem a IBP devem ser submetidos a propedêutica para avaliar diagnósticos alternativos, especialmente as doenças funcionais e alterações de motilidade esofagiana.

5) A eficácia no longo prazo da cirurgia antirrefluxo é limitada e muitos pacientes necessitarão retomar o uso de IBP após períodos variados de tempo.

Cerca de 82% dos pacientes necessitarão de IBP após 15 anos de cirurgia. Esse fato deve ser ponderado junto ao paciente, especialmente junto àqueles que desejam suspender o uso de IBP.

6) A cirurgia antirrefluxo não tem impacto significativo na progressão do esôfago de Barrett para adenocarcinoma de esôfago. A ablação endoscópica de esôfago de Barrett com displasia ainda é recomendada.

A presença de esôfago de Barrett isoladamente não deve ser uma indicação para realização de procedimento cirúrgico. Metanálise recente demonstrou que a incidência de adenocarcinoma de esôfago em pacientes tratamentos clínica ou cirurgicamente foi semelhante [4,8 casos por 1000 pacientes-ano (IC95% 1,7–11,1) vs 6,5 casos por 1.000 pacientes-ano (IC95% 2,6–13,8), respectivamente].

7) Bypass gástrico em Y de Roux, laparoscópico, deve ser a cirurgia de primeira escolha em pacientes com obesidade mórbida e DRGE.

A obesidade é associada a um risco 2,5 vezes maior de DRGE. O bypass gástrico em Y de Roux reduz significativamente os sintomas de refluxo, esofagite e incidência de DRGE no pós-operatório.

8) A terapia medicamentosa é mais custo-efetiva em um período de 30 anos que a cirurgia antirrefluxo, desde que o custo da droga seja baixo.

No modelo americano, estima-se que seja vantajoso o uso de terapia medicamentosa se o custo do tratamento for de até 90 dólares mensais.

9) Complicações tardias da cirurgia antirrefluxo são comuns e os gastroenterologistas devem saber reconhecer e manejar.

A cirurgia antirrefluxo cursa com baixa mortalidade em 30 dias (<1%), enquanto a morbidade pós-operatória imediata é estimada em 4,7-17%. Complicações tardias incluem: disfagia de início tardio (3%–24%), pirose recorrente (62%), síndrome de bloating (85%) e diarreia (18%–33%).

10) Novos procedimentos endoscópicos e cirúrgicos antirrefluxo minimamente invasivos estão sendo desenvolvidos e parecem promissores.

São exemplos de novas tecnologias para tratamento de DRGE: LINX (Magnetic Sphincter Augmentation), Stretta (Mederi Therapeutics, Inc, Norwalk) e TIF (fundoplicatura transoral sem incisão).

Fonte: PEBMED – https://pebmed.com.br/10-topicos-que-os-gastroenterologistas-deveriam-saber-antes-de-indicar-a-cirurgia-antirrefluxo/

Autor: Guilherme Grossi Cançado – Gastroenterologista Mestre em Saúde do Adulto 

Referência bibliográfica:

  • Park S, et al. Ten things every gastroenterologist should know about antireflux surgery. Clin Gastroenterol Hepatol. 2020;18:1923–1929

Infecção por H. pylori e gastrite – como os probióticos podem ser seus aliados

A microbiota intestinal pode ser considerada um “órgão” crucial do corpo humano devido ao seu papel na manutenção do equilíbrio entre saúde e doença, com atuação direta na construção do sistema imunológico. O estômago e sua microbiota, por sua vez, podem ser considerados como dois “órgãos” diferentes que compartilham o mesmo local e se impactam mutuamente. Nesse sentido, os efeitos provenientes dessa relação determinam o estabelecimento da homeostase gástrica. A microbiota gástrica consiste principalmente em dois grupos gerais: bactérias-Hp (H. pylori) e não-Hp.7

O Helicobacter pylori consiste em infecção frequente no mundo inteiro, especialmente no Brasil, onde há quase 70% da população infectada. Todos os pacientes colonizados apresentam gastrite crônica ativa associada a essa bactéria, o que pode gerar, em determinada fração, sintomas dispépticos. O H. pylori ainda pode estar relacionado com outras doenças mais graves como doença ulcerosa gastroduodenal e mesmo câncer e linfoma gástricos.1,2

  1. pylori é conhecido por colonizar a mucosa gástrica, induzir inflamação e alterar a microbiota local, resultando em um espectro de doenças gástricas. Da mesma forma, mudanças na microbiota intestinal foram recentemente associadas a várias doenças metabólicas e inflamatórias, indicando um possível papel das alterações associadas ao H. pylori na microbiota intestinal na ruptura da barreira da mucosa desse aparelho.3

O adenocarcinoma gástrico é uma das principais causas de morte relacionada ao câncer em todo o mundo e a infecção por Helicobacter pylori é o mais forte fator de risco conhecido para essa doença. Embora o estômago já tenha sido considerado um ambiente estéril, agora é conhecido por abrigar muitas espécies de bactérias, levando a uma interação complexa entre H. pylori e outros residentes da microbiota gástrica. O ecossistema da microbiota diversa do estômago é diferente da boca e do esôfago, e também do intestino delgado e do intestino grosso. H. pylori, aparentemente, é o integrante mais importante da microbiota gástrica.4,7

Além do papel dos fatores de virulência do H. pylori, polimorfismos genéticos do hospedeiro e da dieta alimentar, agora está se tornando claro que componentes da microbiota gastrointestinal também podem influenciar a patogênese induzida pelo H. pylori.4

Os probióticos têm sido avaliados no tratamento do H. pylori com o intuito de reduzir efeitos adversos e aumentar índices de erradicação. Uma série de estudos clínicos demonstra que a suplementação com algumas cepas probióticas melhora a tolerabilidade do tratamento com antibióticos, reduzindo vários eventos adversos, incluindo diarreia.5,6,8 

Nesse quadro, o aumento da resistência aos antibióticos e a diminuição da adesão aos regimes terapêuticos levaram à diminuição da efetividade da terapia de erradicação. Os probióticos, com efeitos inibitórios diretos e indiretos sobre o H. pylori em modelos animais e ensaios clínicos, foram recentemente usados ​​como um tratamento complementar na terapia de erradicação do H. pylori.9

Referências

1 – Coelho LGV, Marinho JR, Genta R, Ribeiro LT, Passos MCF, Zaterka S, et al. IVTH Brazilian Consensus Conference on Helicobacter pylori infection. Arq Gastroenterol. 2018; 55(2): 97-121.

2 – Qureshi N, Li P, Gu Q. Probiotic therapy in Helicobacter pylori infection: a potential strategy against a serious pathogen? Appl Microbiol Biotechnol. 2019; 103(4): 1573-88.

3 – Nihar Ranjan Dash, Ghalia Khoder, Aml Mohamed Nada, Mohammad Tahseen Al Bataineh. Exploring the impact of Helicobacter pylori on gut microbiome composition. PLoS One. 2019 Jun 18; 14(6): e0218274.

4 – Lydia E Wroblewski, Richard M Peek Jr. Helicobacter pylori, Cancer, and the Gastric Microbiota. Advances in Experimental Medicine and Biology. 2016; 908: 393-408.

5 – Armuzzi A, Cremonini F, Bartolozzi F, Canducci F, Candelli M, Ojetti V, et al. The effect of oral administration of Lactobacillus GG on antibiotic-associated gastrointestinal side-effects during Helicobacter pylori eradication therapy. Aliment Pharmacol Ther. 2001; 15(2): 163-9.

6 – Cremonini F, Di Caro S, Covino M, Armuzzi A, Gabrielli M, Santarelli L, et al. Effect of different probiotic preparations on anti-helicobacter pylori therapy-related side effects: A parallel group, triple blind, placebo-controlled study. Am J Gastroenterology. 2002; 97(11): 2744-9.

7 – Teresa Alarcón, Laura Llorca, Guillermo Perez-Perez. Impact of the Microbiota and Gastric Disease Development by Helicobacter pylori. Curr Top Microbiol Immunology. 2017; 400: 253-275.

8 – Dolores Sgambato, Agnese Miranda, Lorenzo Romano, Marco Romano. Gut microbiota and gastric disease. Minerva Gastroenterol Dietol. 2017 Dec; 63(4): 345-354.

9 – Xin Yan Zhu, Fei Liu. Probiotics as an adjuvant treatment in Helicobacter pylori eradication therapy. Journal of Digestive Diseases. 2017 Apr; 18(4): 195-202.

Miastênicos têm mais chances de desenvolver outras doenças autoimunes

Estudos indicam que as doenças relacionadas à tireoide são as mais comuns entre os portadores de Miastenia Gravis

A Miastenia Gravis é uma doença autoimune causada por anticorpos que agem contra componentes da comunicação natural entre nervos e músculos – junção neuromuscular – e caracterizada por fraqueza muscular flutuante e fadiga de diferentes grupos musculares do corpo. Por ser uma doença rara e de difícil diagnóstico, a Miastenia Gravis é, geralmente, associada a outras doenças autoimunes, cujos sintomas, muitas vezes, podem se confundir.

“A doença autoimune se dá pelo mau funcionamento do sistema imunológico, onde o organismo produz anticorpos contra ele mesmo e ataca órgãos e tecidos do próprio corpo, como músculos, articulações, pele, células, nervos, pulmões, tireoide. Características clínicas, como fraqueza neuromuscular e sinais oculares causam confusão diagnóstica entre duas patologias”, explica o Dr. Eduardo Estephan, médico neurologista e diretor científico da Abrami (Associação Brasileira de Miastenia). 

Para termos uma ideia, a prevalência de Miastenia Gravis no mundo muda conforme a localização geográfica, sendo que a taxa de incidência anual varia de 0,25 a 20 por 1.000.000 de habitantes. O início da doença ocorre entre os 20-40 anos de idade e as mulheres representam 60% desse grupo. 

A doença da tireoide é a doença autoimune mais comum associada à Miastenia Gravis, com uma prevalência de 5 a 10%, enquanto a Miastenia Gravis está presente em 0,2% dos pacientes com doença autoimune da tireoide diagnosticada. 

Ainda de acordo com o especialista, as doenças autoimunes da tireoide são frequentemente acompanhadas por Miastenia Gravis de início precoce e tardio, sendo que a miastenia coexistindo com doenças autoimunes da tireoide segue um curso mais brando do que a Miastenia Gravis sozinha. 

Publicado na revista científica Brain and Behavior e reproduzido pela US National Library of Medicine, o estudo realizado por cientistas de Taiwan e denominado “Prevalence and impact of autoimmune thyroid disease on myasthenia gravis course”, – traduzido para o português como “Prevalência e Impacto de doenças autoimunes da tireoide no curso da Miastenia Gravis” – reuniu 343 pacientes consecutivos com Miastenia Gravis, entre 4 e 89 anos de idade, e mediu a prevalência de doenças autoimunes em um estudo transversal.  As concentrações de anticorpos antitireoideanos, ou seja, que atacam a tireoide foram medidas em todos os pacientes e os pesquisadores avaliaram o curso clínico da Miastenia Gravis, o tratamento e os seus resultados.  

A pesquisa mostrou que as doenças autoimunes da tireoide foram diagnosticadas em 26,8% dos pacientes com Miastenia Gravis, incluindo 4,4% com Doença de Graves (GD), 9% com tireoidite de Hashimoto (HT) e 13,4% apenas com anticorpos antitireoidianos. Os resultados concluem que a terapia imunossupressora foi necessária com menos frequência nos pacientes com Miastenia Gravis e Doenças Autoimunes da Tireoide, indicando indiretamente um curso mais leve das doenças. 

Esse mesmo estudo mostrou ainda uma maior prevalência de doenças pré-existentes da tireoide e uma maior probabilidade cumulativa dessas doenças após o diagnóstico de Miastenia Gravis do que na população em geral.

Doença de Graves x Tireoidite de Hashimoto

A Doença de Graves (DG) é uma doença da tireoide caracterizada pelo excesso de hormônios dessa glândula no corpo, causando hipertireoidismo. A DG acomete mais mulheres do que homens, principalmente entre os 20 e os 50 anos, apesar de poder surgir em qualquer idade. Em pacientes não miastênicos, a doença pode ser bem controlada com o uso de remédios, terapias com iodo radioativo ou com a cirurgia de tireoide. Entre os sintomas que se confundem com a Miastenia Gravis estão fraqueza muscular e alterações nos olhos, como olhos salientes, coceira, lacrimejo e visão dupla.

A tireoidite de Hashimoto tem como principal característica a inflamação da tireoide causada por um erro do sistema imunológico. Nesse caso, o organismo fabrica anticorpos contra as células da tireoide, provocando a destruição da glândula ou a redução da sua atividade, o que pode levar ao hipotireoidismo por carência na produção dos hormônios T3 e T4.  Cansaço, sonolência e reflexos mais vagarosos são alguns dos sintomas que podem se confundir com os da Miastenia Gravis, embora a maior incidência de doenças autoimunes da tireoide ligadas à Miastenia Gravis seja de Doença de Graves.

É importante ressaltar que a doença aguda e o uso de corticosteroides afetam a função tireoidiana, mas, ao mesmo tempo, os corticosteroides (cortisona) têm efeito positivo devido à sua função imunorregulatória.

“O tratamento de miastênicos com doenças autoimunes da tireoide associadas exige acompanhamento médico constante, de preferência, com um especialista em miastenia para avaliar as melhores combinações medicamentosas e a evolução do curso da doença. Esse acompanhamento permitirá um melhor equilíbrio entre as patologias e, consequentemente, mais qualidade de vida”, finaliza Estephan.

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VV4 PR – Comunicação e Estratégia

Valéria Vargas – RP – valeria@vv4pr.com.br – Tel: +5511 99286-0839

Fatores que influenciam a formação da microbiota nos primeiros 1000 dias do bebê

A colonização do organismo por bactérias não patogênicas, conhecida como a formação da microbiota, é comprovadamente iniciada ainda no período pré-natal, na fase intraútero. A consolidação ocorre, sobretudo, durante o nascimento e nos meses iniciais de vida da criança. Essa colonização funciona como estímulo antigênico para o adequado desenvolvimento anatômico e funcional do sistema imunológico das mucosas, assim como às respostas adaptativas sistêmicas.1,2

Antes mesmo de realizar sua primeira respiração, o processo de colonização da microbiota intestinal já teve seu início logo após o nascimento do bebê. O processo de estabelecimento da microbiota, ao longo da infância, passa por dois grandes momentos de transição. O primeiro justamente após o nascimento, determinado pelo aleitamento materno exclusivo e o segundo a partir do início do desmame, com a introdução da alimentação sólida e quando a microbiota passa a assumir padrão semelhante ao da vida adulta.1,2

A ação do meio ambiente sobre o processo saúde/doença tem sido progressivamente explorada em estudos recentes e o papel da epigenética vai ao encontro a esta ação. Mecanismos epigenéticos são definidos como os processos que provocam alterações na expressão gênica, que são capazes de ser transmitidos por gerações, mas que não ocasionaram modificações na sequência do DNA. Nesse quadro, a produção de metabólitos oriundos da atividade microbiana, conforme o estabelecimento da microbiota no início do desenvolvimento de um organismo, pode culminar em modificações epigenéticas.3

Dentro do cenário dos primeiros 1000 dias de formação da microbiota (período que vai da concepção até o segundo ano de vida de uma criança), uma série de fatores pré e pós-natais, como nutrição materna e neonatal, exposição a poluentes, além da própria composição da microbiota contribuem para o estabelecimento de mudanças epigenéticas que podem não apenas modular a adaptação do indivíduo ao meio ambiente, mas também influenciar a saúde ao longo da vida. A colonização intestinal pós-natal, por sua vez determinada pela microbiota materna, tipo de parto, contato pele a pele precoce e dieta neonatal, levam a assinaturas epigenéticas específicas que podem afetar as propriedades de barreira da mucosa intestinal e seu papel protetor contra problemas posteriores, portanto, potencialmente predispondo ao desenvolvimento de doenças inflamatórias de início tardio.3

O período de maior atividade de imprinting epigenético sobre o DNA é justamente os primeiros 1000 dias. A microbiota intestinal vai sendo moldada, em número e na diversidade de microrganismos e, pode sofrer influência de diversos fatores, como o uso de antibióticos (pré ou pós-natal), condições socioculturais e geográficas e, sobretudo, fatores nutricionais (dieta, aleitamento infantil, uso de fórmulas infantis, vitaminas, prebióticos e probióticos).3

Algumas evidências sobre a programação epigenética pela microbiota intestinal podem ser interpretadas como base para uma hipótese, segundo a qual, modificações epigenéticas prejudiciais (e consequentemente o desenvolvimento de doenças) podem ser prevenidos pela modulação do contato microbiano no início da vida. A microbiota intestinal pode ser positivamente alterada por meio da administração prebiótica, probiótica e simbiótica, o que pode representar uma abordagem promissora para reequilibrar a homeostase dos sistemas imunológicos sistêmico e mucoso. A colonização intestinal microbiana, iniciada intra-útero, tem direta relação com a programação epigenética microbiana durante a vida fetal. Por meio de seu estudo, é possível conceber intervenções maternas para modificar o risco de doenças na prole, com implicações clínicas potencialmente úteis.3

Referências

1 – Tanaka M, Nakayama J. Development of the gut microbiota in infancy and its impact on health in later life. Allergol Int. 2017; 66 (4): 515-22.

2 – Rautava S, Ruuskanen O, Ouwehand A, Salminen S, Isolauri E. The hygiene hypothesis of atopic disease – an extended version. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2004; 38 (4): 378-88.

3 – Flavia Indrio, Silvia Martini, Ruggiero Francavilla, Luigi Corvaglia, Fernanda Cristofori, Salvatore Andrea Mastrolia, Josef Neu, Samuli Rautava, Giovanna Russo Spena, Francesco Raimondi, Giuseppe Loverro. Epigenetic Matters: The Link between Early Nutrition, Microbiome, and Long-term Health Development. Frontiers in Pediatrics. 2017 Aug 22; 5: 178.

Como o retorno presencial às aulas pode ocasionar reflexos na saúde das crianças

A preocupação com o retorno às aulas presenciais, no Brasil, traz questões tanto do ponto de vista sanitário como do educacional. Os riscos implicados no retorno às atividades escolares são motivos de atenção a pais e responsáveis, e também são razões de estudo e debate para especialistas e profissionais da saúde frente às constatações que a ciência já fornece sobre a pandemia. Medidas preventivas de proteção, prejuízos para a infância em um contexto de isolamento, saúde imunológica em desenvolvimento, segurança alimentar e, sobretudo, o estudo epidemiológico de cada localidade, com gerenciamento de riscos, são questões complexas que permeiam a decisão sobre a volta às aulas presenciais. 1,2

A pandemia causada pelo SARS-CoV-2, em 2020, atingiu alta taxa de contágio e está associada a significativas taxas de letalidade. Até o momento, não se dispõe de tratamento antiviral efetivo, tampouco vacinas profiláticas e, dessa forma, medidas não farmacológicas têm sido recomendadas. Nesse sentido, o distanciamento social (como exemplo, a suspensão de aulas presenciais) e as ações sanitárias preventivas foram ferramentas cruciais na redução da transmissão do vírus na comunidade, com evidências, em muitos países, da efetividade dessas medidas.5,6

Em todo o país, há muitas diferenças de manifestação do SARS-CoV-2 em termos epidemiológicos. As ações de vigilância são fundamentais para resguardar o ambiente da escola, com revisão de hábitos e atitudes, higiene pessoal e desinfecção de superfícies. As experiências internacionais bem-sucedidas são aquelas que adaptaram grupos pequenos de alunos, que frequentam as aulas em regime de alternância entre aulas presenciais e à distância, o estudo híbrido.4

O Ministério da Saúde do Brasil atualizou os grupos de risco, incluindo as crianças abaixo de cinco anos de idade com síndrome gripal, especialmente as menores de dois anos, nas quais há maior taxa de hospitalização, considerando o potencial risco da infecção pelo vírus influenza nestes casos.5,6

Tendo em vista os potenciais reflexos do retorno presencial à saúde das crianças, a recomendação das autoridades sanitárias é de que ele seja gradual, de forma cautelosa, com um número reduzido de alunos, conforme supracitado, incluindo todas as precauções possíveis para minimizar a disseminação da infecção pelo SARS-CoV-2 nas escolas.2

Com este cenário, alunos que tenham contraindicações de frequentar a escola por serem imunocomprometidos, ou tenham doenças crônicas, devem receber educação à distância. Deve-se salientar que crianças imunologicamente saudáveis, mesmo que assintomáticas, podem ser transmissoras da doença.5,6

Se por um lado existe a preocupação em relação ao adoecimento dos filhos e, como consequência, de outros membros da família, por outro há o prejuízo da aprendizagem e sociabilização. A ausência do ambiente escolar e do convívio com a comunidade são elementos prejudiciais ao bem-estar e desenvolvimento de crianças e adolescentes.5,6

Os protocolos de prevenção de contágio pelo SARS-CoV-2 são de fundamental importância para o combate ao vírus e os hábitos de higiene são estratégia primordial para o controle da infecção. Contudo, a higiene excessiva, desproporcionada em outro contexto, pode causar efeitos adversos, por exemplo, com a diminuição da diversidade microbiana intestinal da população pediátrica. Esta perda pode interferir com mecanismos de regulação do sistema imunológico e predispor ao desenvolvimento de doenças como as gastrointestinais. 3

O sistema imunológico do organismo tem como um de seus principais pilares funcionais o sistema imunológico intestinal. Nesse sentido, a atividade imune, quando adequadamente estabelecida, previne disfunções como a disbiose, a colonização da mucosa intestinal por bactérias patogênicas e, consequentemente, diarreias infecciosas. Em um quadro pandêmico, a preocupação em se adquirir qualquer uma dessas disfunções é maior em uma realidade de flexibilização das medidas de isolamento social. 3

O uso de probióticos seria uma estratégia interessante na manutenção do equilíbrio microbiano, revertendo ou prevenindo a disbiose (desequilíbrio da microbiota intestinal). O desenvolvimento do sistema imunológico depende do estabelecimento de uma microbiota intestinal equilibrada e diversificada no início da vida.3

Referências

1 – Portal do Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Atos Normativos. Súmulas, Pareceres e Resoluções. Secretarias. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/atos-normativos–sumulas-pareceres-e-resolucoes?id=12816. Acesso em: 15 out. 2020.

2 – Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Notícias. Volta Segura da Educação. Disponível em: https://www.educacao.sp.gov.br/noticias/volta-segura-retorno-opcional-em-sp-partir-de-8-de-setembro-tire-duvidas/. Acesso em: 15 out. 2020.

3 – Especialistas da SBP debatem o impacto da microbiota intestinal pós-Covid. Disponível em:  https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/especialistas-da-sbp-debatem-o-impacto-da-microbiota-intestinal-pos-covid/. Acesso em: 21 out. 2020.

4 – Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica: Covid-19. Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/guia-de-vigilancia-epidemiologica-covid-19/. Acesso em: 21 out. 2020.

5 – SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria – O Ano Letivo de 2020 e a Covid-19.

Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22514c-NA_-_O_Ano_Letivo_de_2020_e_a_COVID-19.pdf/ Acesso em: 21 out. 2020.

6 – SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria – Covid-19 e a volta às aulas.

Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22516b-NA_-_COVID-19_e_a_Volta_as_Aulas.pdf/. Acesso em: 21 out. 2020.

Alguns impactos da Covid-19 sob a perspectiva gastrointestinal

A promoção e a proteção da saúde são os pilares para que o organismo tenha condições de se desenvolver e de atravessar problemas graves sem sequelas, como no caso de uma pandemia viral. A adoção de hábitos saudáveis regulares contribui para a manutenção da qualidade de vida e para a prevenção de doenças em geral. Dado o período de quarentena, seguir uma rotina de estudos e/ou trabalho em casa, com planejamento que envolva disciplina de horários – tanto para as atividades como para o descanso –, com a adoção de uma alimentação balanceada atua preventivamente no bom funcionamento do organismo, no que diz respeito ao fortalecimento dos sistemas como o respiratório, gastrointestinal e imunológico.1

A organização dos horários e o estabelecimento de uma rotina são essenciais para uma maior produção no ambiente do lar, o “home office”. A adoção de uma lista de tarefas com prazos para cumprimento de atividades, por exemplo, auxilia no que se refere à eficácia do estudo e do trabalho em casa.2,3

Hábitos alimentares saudáveis, da mesma forma, contribuem preventivamente para a melhora da qualidade de vida e para o fortalecimento dos sistemas do organismo. Em tempos de pandemia, é preciso manter a disciplina e respeitar o intervalo regrado entre as refeições, além da escolha de alimentos balanceados que são consumidos diariamente.6 

O sistema gastrointestinal, em linhas gerais, é responsável pela absorção de nutrientes, mas também atua em funções imunológicas. Nesse quadro, o seguimento dos comportamentos citados atua no fortalecimento da microbiota intestinal e mantém adequadamente sua essencial atividade metabólica.6 

Da perspectiva específica da saúde gastrointestinal, a microbiota se estabelece desde cedo na vida, e a sua composição é influenciada por diversos fatores, como a alimentação que adotamos. A microbiota intestinal e os componentes da dieta alimentar exercem funções elementares no funcionamento do sistema imunológico: as células da mucosa intestinal constituem a maior porcentagem de células imunes do organismo. A má nutrição e a deficiência alimentar podem perturbar a homeostase intestinal, agravando doenças inflamatórias intestinais em indivíduos suscetíveis, como nos casos daqueles infectados pelo SARS-CoV-2.6

A ciência já oferece alguns dados embasados sobre os aspectos gastrointestinais em pacientes infectados pelo SARS-CoV-2. Estudos de metanálise e dados de pacientes destacam prevalência de manifestações gastrointestinais e eliminação de fezes contaminadas por vírus. O sintoma inicial da infecção pode ser diarreia, a qual é muitas vezes acompanhada de manifestações respiratórias altas.  Em determinados casos, entretanto, a diarreia pode preceder os outros sintomas e, nesses casos, a doença pode apresentar sintomas gastrintestinais que antecedem os respiratórios. Os sintomas predominantes da SARS-CoV-2 são respiratórios, mas manifestações gastrointestinais também podem ocorrer e eventualmente não serem lembradas.4,5

Trabalho recentemente publicado na revista Radiology destaca aspectos intestinais nesses pacientes. Foram realizados exames de imagem como ultrassonografias, tomografias computadorizadas e ressonância magnética. Os achados encontrados incluíram, no sistema gastrointestinal, espessamentos e indicações de isquemia como pneumatose e presença de gás no sistema portal. 4,5 

Segundo os investigadores, as anormalidades de COVID-19 foram mais comuns nos pacientes mais graves, na UTI. Também ressaltaram que a prevenção da transmissão fecal-oral do COVID-19 é, portanto, crucial.4,5

As bactérias comensais que habitam o intestino exercem funções críticas na digestão de alimentos. Em casos de alimentação desbalanceada, por exemplo, a disbiose gerada pode ser corrigida e a composição da microbiota restaurada através da introdução de bactérias probióticas capazes de devolver o equilíbrio homeostático das funções imunológicas do intestino, e até de exercer atividades anti-inflamatórias em várias doenças tais como alergias, doenças inflamatórias crônicas do intestino e, principalmente, diarreias, epidemiologicamente classificadas como os principais desequilíbrios do sistema gastrointestinal.6

Bactérias probióticas foram estudadas para que se analisasse sua capacidade de influenciar a resposta imune inata das células epiteliais intestinais. Esses estudos mostram que a estimulação de vias de sinalização específicas entre as bactérias probióticas e as células do epitélio intestinal pode ajudar a explicar as propriedades benéficas destes probióticos frente ao fortalecimento e à atuação consistente do sistema imunológico.7

Referências

1 – Ministério da Saúde. Guia Alimentar da População Brasileira. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf. Acesso em: 10 out. 2020.

2 – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Ergonomia. Disponível em: https://www.ufms.br/especialista-da-dicas-de-ergonomia-em-home-office/. Acesso em: 10 out. 2020.

3 – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Dispo Dicas de ergonomia proporcionam conforto e saúde no home Office. Disponível em: https://www.pucrs.br/blog/dicas-de-ergonomia-proporcionam-conforto-e-saude-no-home-office/. Acesso em: 10 out. 2020.

4 – FBG – Federação Brasileira de Gastroenterologia. Serviço Especial Covid-19. Edição 8. Disponível em: http://fbg.org.br/Publicacoes/noticia/detalhe/1336/. Acesso em: 21 out. 2020.

5 – FBG – Federação Brasileira de Gastroenterologia. Serviço Especial Covid-19. Edição 7. Disponível em:  http://fbg.org.br/Publicacoes/Noticia/detalhe/1333/. Acesso em: 21 out. 2020.

6 – FBG – Federação Brasileira de Gastroenterologia. O Intestino e o Sistema Imune. Disponível em: https://sbi.org.br/2019/04/29/o-intestino-e-o-sistema-imune/. Acesso em: 21 out. 2020.

7 – María G Vizoso PintoManuel Rodriguez GómezStephanie SeifertBernhard WatzlWilhelm H HolzapfelCharles M A P Franz. International Journal of Food Microbiol. Lactobacilli stimulate the innate immune response and modulate the TLR expression of HT29 intestinal epithelial cells in vitro. 2009 Jul 31; 133 (1-2): 86-93

Benefícios dos probióticos nas diarreias agudas, infecciosas e associadas a antibióticos

A diarreia associada a antibióticos é uma complicação comum e desafiadora observada em ambientes ambulatoriais e hospitalares que ocorre em até um terço de todos os pacientes tratados com antibióticos. Os sintomas variam de severidade leve a grave, e a diarreia associada a antibióticos (DAA) é uma razão importante para a não adesão ao tratamento com antibióticos. Os mecanismos da DAA incluem o desequilíbrio da microbiota intestinal, os efeitos da degradação bacteriana alterada dos carboidratos e os efeitos procinéticos diretos de certos antibióticos.1,2 

O uso de probióticos, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do organismo. A justificativa para o uso desses produtos está na hipótese de que a diarreia associada a antibióticos é causada por disbiose desencadeada pelo uso desses medicamentos e que a intervenção probiótica modula favoravelmente a microbiota intestinal. Os probióticos podem prevenir a DAA aumentando a função da barreira intestinal, promovendo a exclusão competitiva de bactérias patogênicas e estimulando a resposta imune do hospedeiro.1,2

Os probióticos também têm sido estudados no tratamento de uma complicação mais grave das diarreias associadas a antibióticos, a colite pseudomembranosa. Sua administração como forma de tratamento e cuidado nesses casos tem apresentado resultados positivos.4,5 

A doença diarreica aguda (DDA) acomete uma grande parcela da população em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento. A DDA, na maioria das vezes, é de caráter infeccioso (vírus, bactérias e parasitas) e tem como base fisiopatológica a geração de processo inflamatório que culmina com alterações absortivas e que determina a diarreia (três ou mais episódios em 24 horas), geralmente líquida, com ou sem febre e vômito. O principal risco para a saúde é a desidratação do organismo, e o cuidado ao paciente visa melhorar e manter o estado de hidratação.3

A primeira etapa da avaliação no tratamento para a DDA é baseada na história clínica do paciente, apresentação clínica e exames simples de fezes (leucócitos fecais e sangue oculto). Assim, pode-se decidir se a identificação microbiana ou a antibioticoterapia são indicadas. No caso de diarreia viral ou não invasiva, a reidratação oral da diarreia enterotoxinogênica é suficiente, enquanto a diarreia enteroinvasiva ou síndromes entéricas precisam de avaliação adicional por meio de hemocultura e fezes.7

Para os casos de diarreia enteroinvasivas, portanto, os fluidos de reidratação não reduzem o volume das fezes nem encurtam o período para o episódio de diarreia. Nesse sentido, probióticos podem oferecer uma intervenção segura na doença diarreica aguda (DDA) para reduzir a duração e a gravidade da doença. Além disso, outra justificativa para o uso de probióticos contra a DDA é que eles agem contra patógenos entéricos, competindo por nutrientes disponíveis e locais de ligação. Essas ações interferem na composição da microbiota intestinal, produzindo uma variedade de produtos químicos e aumentando as respostas imunológicas específicas e não específicas.3

Ademais, estudos indicam que bactérias probióticas causam uma diminuição da inflamação intestinal mais rapidamente, reduzindo as citocinas pró-inflamatórias e incrementando as citocinas anti-inflamatórias nos casos diagnosticados de doença diarreica aguda (DDA).3

Referências

1 – Susanne Hempel, Sydne J Newberry, Alicia R Maher, Zhen Wang, Jeremy N V Miles, Roberta Shanman, Breanne Johnsen, Paul G Shekelle. Probiotics for the prevention and treatment of antibiotic-associated diarrhea: a systematic review and meta-analysis. JAMA. 2012 May 9; 307 (18): 1959-69.

2 – Filippo Cremonini, Elizabeth Jane Videlock. Probiotics are associated with a decreased risk of antibiotic-associated diarrhoea. Evidence-Based Medicine. 2013 Apr; 18 (2): 71-2.

3 – Stephen J Allen, Elizabeth G Martinez, Germana V Gregorio, Leonila F Dans. Probiotics for treating acute infectious diarrhea. Cochrane Database System. 2010 Nov 10; 2010 (11): CD003048.

4 – Zmora N, Zilberman-Schapira G, Suez J, Mor U, Dori-Bachash M, Bashiardes S, et al. Personalized Gut Mucosal Colonization Resistance to Empiric Probiotics Is Associated with Unique Host and Microbiome Features. Cell. 2018; 174 (6): 1388-405.

5 – Gorbach SL, Chang TW, Goldin B. Successful treatment of relapsing Clostridium difficile colitis with Lactobacillus GG. Lancet. 1987; 2 (8574): 1519.

6 – Guarner F, Khan AG, Garisch J, Eliakim R, Gangl A, Thomson A, et al. World Gastroenterology Organisation Global Guidelines: probiotics and prebiotics. October 2011. J Clin Gastroenterol. 2012; 46 (6): 468-81.

7 – R Jost. Acute Diarrhea – Current Assessment and Therapy in Clinical Practice. Schweiz Rundsch Med Prax. 1993 Apr 20; 82 (16): 490-4.