Estudos mostram que o intestino e o cérebro estão diretamente conectados. Descubra como probióticos e saúde mental se relacionam e como o equilíbrio da microbiota pode ajudar a regular o humor
A saúde emocional de uma pessoa é influenciada por diversos fatores como a genética, o estilo de vida, o ambiente em que ela vive e já sabemos que o funcionamento intestinal também entra nessa lista.
Nos últimos anos, as pesquisas sobre o eixo intestino-cérebro têm ganhado destaque ao demonstrar que o intestino não só digere os alimentos, mas também participa de processos que regulam o comportamento e as emoções.
Isso significa que alterações emocionais podem causar sintomas digestivos, ao mesmo tempo, em que desequilíbrios intestinais podem afetar o estado mental.
Entender como funciona a relação entre probióticos e saúde mental, além de como essa conexão pode ser favorecida por meio da alimentação, é um passo importante para quem busca um equilíbrio emocional mais amplo e integrado.
A conexão entre intestino e cérebro: o que dizem os estudos
Pesquisas revelam que o intestino e o cérebro estão mais interligados do que se imaginava. Distúrbios intestinais podem afetar o humor, a cognição e até contribuir para o desenvolvimento de doenças neurológicas.
Essa comunicação acontece por meio de um sistema complexo conhecido como eixo intestino-cérebro.
O que é o eixo intestino-cérebro e como ele atua
O eixo intestino-cérebro é uma rede de comunicação composta pelo sistema nervoso central, o sistema nervoso entérico (presente no trato gastrointestinal), o sistema imunológico e a microbiota intestinal.
Essa comunicação ocorre por meio de neurotransmissores, hormônios, citocinas e sinalizações nervosas — especialmente através do nervo vago.
O intestino é responsável por produzir cerca de 95% da serotonina, um neurotransmissor associado ao prazer e ao bem-estar.
A produção dessa substância depende diretamente do equilíbrio da microbiota, já que muitos microrganismos participam da síntese de precursores como o triptofano.
Além disso, as bactérias intestinais benéficas também produzem ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, que influenciam o funcionamento da barreira intestinal e modulam respostas inflamatórias — fatores que também estão ligados ao funcionamento do sistema nervoso.
Como desequilíbrios intestinais afetam o humor e o comportamento
Quando há uma disbiose — termo que se refere ao desequilíbrio entre bactérias benéficas e nocivas no intestino —, esse eixo se torna disfuncional. Isso pode desencadear processos inflamatórios, alterações na produção de neurotransmissores e aumento da permeabilidade intestinal, o que permite que substâncias indesejadas entrem na corrente sanguínea e atinjam o cérebro.
Estudos recentes sugerem que esse desequilíbrio está presente em pacientes com transtornos como ansiedade, depressão, autismo e até doenças neurodegenerativas. Um artigo publicado na Nature Reviews Neuroscience destaca que a microbiota intestinal pode influenciar o comportamento social, os níveis de estresse e a cognição por meio de mecanismos neuroquímicos e imunológicos.
Pacientes com sintomas de humor alterado, fadiga crônica e distúrbios do sono mostram melhoras quando sua microbiota é equilibrada por meio de dieta, atividade física ou do uso de probióticos, destacando a relação entre probióticos e saúde mental.
Ainda que os mecanismos não sejam totalmente compreendidos, a relação entre saúde intestinal e emocional é cada vez mais evidente na literatura científica.
O papel dos probióticos no bem-estar emocional
Quando o intestino está em equilíbrio, o corpo e a mente também tendem a funcionar melhor. Os probióticos ajudam nesse processo, contribuindo para a saúde emocional por meio do cuidado com a microbiota intestinal.
Como os probióticos ajudam a restaurar a microbiota intestinal
Probióticos são microrganismos vivos que, quando consumidos em quantidades adequadas, contribuem para o equilíbrio da flora intestinal.
Eles agem competindo com bactérias patogênicas, produzindo substâncias antimicrobianas e modulando respostas inflamatórias que afetam todo o organismo.
Além de restaurar o equilíbrio da microbiota, os probióticos também reforçam a integridade da barreira intestinal, prevenindo a chamada “síndrome do intestino permeável”, associada a quadros inflamatórios sistêmicos que podem afetar negativamente a função cerebral.
Essas melhorias se associam à maior tolerância ao estresse, redução da irritabilidade, melhor regulação emocional e aumento da sensação de bem-estar.
Em alguns casos, os benefícios se tornam perceptíveis em poucas semanas, principalmente quando aliados a uma alimentação rica em fibras e hábitos de vida saudáveis.
Quando considerar a suplementação e como escolher a cepa ideal
A suplementação pode ser uma alternativa interessante em casos de disbiose mais intensa, geralmente após o uso recente de antibióticos, estresse elevado ou quadros prolongados de ansiedade.
A escolha do produto ideal deve considerar tanto a necessidade do paciente, como a formulação do suplemento.
Alguns probióticos são formulados com cepas que têm maior capacidade de sobreviver ao ambiente ácido do estômago e aderir à mucosa intestinal, aumentando seu potencial de colonização e impacto positivo.
É o caso da cepa probiótica Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®), a mais estudada no mundo e reconhecida por seu efeito benéfico sobre o eixo intestino-cérebro.
É importante lembrar que probióticos e saúde mental estão relacionados, mas não substituem intervenções psicoterapêuticas nem o uso de medicamentos quando prescritos; no entanto, podem ser aliados importantes para uma rotina de bem-estar mais completa.
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- Observação: LGG® é uma marca registrada da Chr. Hansen A/S.