TDAH
19/09/2023
Como ter TDAH influencia a experiência universitária?

Ingressar em um curso universitário é desafiador para qualquer jovem ou adulto. Mas, no caso de 2% a 8% dos estudantes, os obstáculos costumam ser ainda maiores. É que essa é a taxa de universitários que tem transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), caracterizado por sintomas de desatenção, agitação e impulsividade. Esses comportamentos dificultam a frequência nas aulas, desempenho em trabalhos e provas e o convívio com professores e colegas de classe. Para saber mais sobre os impactos do distúrbio nessa etapa da vida acadêmica, continue a leitura e confira:

O que é o TDAH?

O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neurobiológico que provoca agitação, impulsividade e desatenção. As causas do problema ainda são desconhecidas, mas componentes genéticos podem ser uma das explicações.

A disfunção afeta de 5% a 8% da população mundial e, no Brasil, cerca de 5,8% das pessoas. Normalmente, o diagnóstico acontece na infância, quando a criança começa a frequentar a escola. Nesse contexto é mais fácil identificar os sinais e sintomas, já que afetam a aprendizagem e o convívio social.

Ainda assim, há muitos casos de pessoa com TDAH que só são identificados depois de as pessoas conviverem com os sintomas durante anos. Cerca de 7, 6% das pessoas só recebem o diagnóstico entre 14 e 17 anos de idade, e 5,2%, dos 18 aos 44 anos.

O TDAH não é impeditivo para completar o ensino regular, entrar na universidade ou conseguir um emprego. Mas, há grandes chances de afetar negativamente a saúde emocional e os desempenhos acadêmico e profissional de quem tem o transtorno.

Quais são os tipos de TDAH e quais são mais comuns em adolescentes e adultos?

As pessoas com o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade nem sempre apresentam os mesmos sinais e sintomas, alguns podem ser mais prevalentes que outros. Existem três tipos de TDAH:

  • Tipo desatento – a falta de atenção é o sintoma predominante. A pessoa com TDAH tem dificuldade para focar na leitura, em apresentações e conversas, especialmente quando o conteúdo não o interessa;
  • Tipo hiperativo/impulsivo – nesse caso, a inquietude se destaca e a pessoa procura se manter em movimento, realiza várias atividades ao mesmo tempo, fala demais e age sem pensar;
  • Tipo combinado – as características da desatenção e da hiperatividade se manifestam na mesma proporção.

No caso dos adolescentes e jovens adultos, o mais comum é o TDAH do tipo desatento. Mas, isso não significa que sintomas de hiperatividade sejam improváveis. Acontece que, convivendo anos com o distúrbio, a pessoa consegue criar estratégias para lidar com alguns comportamentos.

No caso da hiperatividade, por exemplo, há casos em que a pessoa com TDAH consegue internalizar os sinais. Externamente, eles passam desapercebidos. Mas, internamente, provocam sensação de ansiedade, de celeridade.

Como o TDAH pode impactar quem está na universidade?

Diferentemente da criança, jovens e adultos já aprenderam a lidar melhor com os sintomas, mesmo sem ter o diagnóstico de TDAH. Por isso, a passagem pela universidade costuma ser menos traumática do que no ensino regular. Vários estudantes com o transtorno se saem melhor na faculdade.

Ainda assim, para a grande maioria dos estudantes com TDAH – que representam cerca de 2% a 8% do total dos universitários – será um período complicado, uma vez que estão mais propensos a:

  • Esquecer o prazo para entrega de trabalhos;
  • Não estudar para prova;
  • Deixar de ler livros e outros conteúdos importantes;
  • Se desconcentrar na aula;
  • Faltar aulas;
  • Oscilar de comportamento com colegas e professores;
  • Mudar várias vezes de curso e de instituição de ensino.

Esses comportamentos podem iniciar um ciclo de problemas ainda maiores, como:

  • Acúmulo de tarefas;
  • Falta de compreensão por parte dos professores;
  • Reposição constante de aulas perdidas;
  • Isolamento pelos colegas de classe nos trabalhos em grupo;
  • Repetir matérias ou um semestre inteiro;
  • Baixa autoestima.

Como é feito o diagnóstico do TDAH em jovens e adultos?

O diagnóstico deve ser feito por médico psiquiatra ou outro profissional de saúde capacitado para o diagnóstico do transtorno, como um neurologista. Os principais sistemas de classificação de diagnóstico são:

  • Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, décima edição (CID-10), conforme publicação da Organização Mundial de Saúde;
  • Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quinta edição (DSM5), da Associação Americana de Psiquiatria (APA).

Embora esses sistemas de classificação de diagnóstico sejam muito parecidos, os critérios da APA são mais atualizados do que os do CID-10, da OMS. No Brasil, o setor de saúde pública adota os critérios diagnóstico de TDAH recomendados no CID-10. Para jovens e adultos, que possuem melhor compreensão das sensações e comportamentos do que uma criança, também pode ser aplicado um questionário chamado ASRS-18, que foi desenvolvido por pesquisadores e a OMS.

Vale ressaltar que qualquer pessoa está suscetível a episódios de desatenção, impulsividade e agitação. Mas, para o diagnóstico positivo de TDAH, esses sintomas precisam:

  • Ter se manifestado antes dos 12 anos de idade;
  • Ocorrer em diferentes ambientes;
  • Ser constantes nos últimos seis meses ou mais;
  • Interferir no desempenho de atividades acadêmicas ou tarefas do dia a dia.

O TDAH pode ter relação com outros problemas de saúde mental, como a depressão e a ansiedade. Por isso, pessoas com algum desses diagnósticos devem prestar atenção se os quesitos de diagnóstico se encaixam em seu histórico de vida.

Como é o tratamento do TDAH em jovens e adultos?

A terapia cognitivo comportamental (TCC) é uma das principais recomendações para jovens e adultos com TDAH. As técnicas utilizadas podem ajudar o desenvolvimento de habilidades para lidar com os sintomas. Os pacientes são submetidos a atividades para:

  • Melhorar o autocontrole,
  • Solucionar problemas
  • Treinar a comunicação
  • Aprender a planejar
  • Identificar gatilhos

Em conjunto com a terapia, outros profissionais podem ser acionados para melhorar a nutrição e a condição física. Uma dieta equilibrada e a prática rotineira de exercícios físicos ajudam a diminuir a incidência e intensidade de vários sinais e sintomas do TDAH, como oscilações de humor e problemas para dormir.

Em alguns casos, o uso de medicamentos, como ansiolíticos e calmantes, auxilia o tratamento. Principalmente quando outras doenças neurológicas estão associadas. Embora, no Brasil, as diretrizes terapêuticas adotadas da rede pública de saúde não prevejam o uso de medicamentos para tratar o transtorno.

Que tipos de apoio podem ser dados aos universitários com TDAH?

Como os sintomas de TDAH afetam todas as áreas da vida, a recomendação é que os universitários contem com orientações educacional, pessoal e profissional:

Educacional – aulas de reforço presencial ou virtual e a oferta de materiais de apoio facilitam os estudos dos estudantes com TDAH. Avaliações e trabalhos com dinâmicas diferentes também contribuem para o melhor desempenho desses estudantes.

Pessoal – é importante fortalecer o estado emocional de quem tem o TDAH, pois muitos costumam ter dificuldades para se relacionar. Nesse sentido, sessões com um orientador/psicólogo costumam ser valiosas para compreender o contexto de vida do universitário e buscar a melhor forma de lidar com os desafios.

Profissional – um orientador pode ajudar esses estudantes a compreender os desafios e opções de mercado dentro da área para que eles possam fazer as escolhas mais acertadas, considerando os sintomas de TDAH.

Os estudantes com TDAH podem verificar esses serviços na própria universidade ou em paralelo com profissionais especializados em educação e psicologia.

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