Nas últimas décadas, diversos estudos foram realizados com objetivo de correlacionar a composição da microbiota intestinal (MI) com diversas enfermidades. Dentre as doenças hipoteticamente beneficiadas pelo uso de probióticos, destacam-se as doenças alérgicas, como a dermatite atópica (DA), uma doença crônica da pele que apresenta lesões com prurido intenso associada a um ressecamento importante, mais evidentes em regiões de flexura. Essa suposta interligação entre intestino e pele é atribuída ao papel de modulação da resposta imunológica pela MI, o que pode auxiliar na prevenção e no tratamento de doenças de fundo alérgico e imunológico.
O papel dos próbióticos
O papel dos probióticos no tratamento da DA ainda não é completamente esclarecido, além do que a microbiota intestinal dos pacientes atópicos parece ser, de fato, diferente dos indivíduos não-alérgicos. A ação de diversas cepas foi avaliada em uma série de pesquisas, ainda sem resultados amplamente reprodutíveis. Possíveis justificativas para essa falta de correlação incluem o desenho dos estudos, os probióticos avaliados, a posologia utilizada, a janela de oportunidade, os fatores que interferem na suplementação dos probióticos (fatores ambientais, idade do paciente, dieta realizada, a presença obesidade e outras comorbidades, e também a etnia), entre outros.
Dentre os diversos probióticos avaliados no contexto da DA, o Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®) é uma das cepas mais bem estudadas, com uma quantidade considerável de evidências correlacionando esses assuntos.
Um estudo duplo-cego, controlado, envolvendo 62 gestantes com história familiar positiva para DA, foi realizado para avaliar a ação dos LGG® no desenvolvimento de DA em crianças cujas mães utilizaram o probiótico durante a gestação e a amamentação. Esse estudo demonstrou que filhos de mães que receberam LGG® nessa fase, apresentaram menor risco de desenvolver DA nos primeiros 2 anos de vida.
Outro estudo duplo-cego randomizado, conduzido com 27 bebês entre 4 e 6 meses, diagnosticados com eczema atópico, demonstrou melhora clínica significativa após 2 meses de uso de LGG®. Vários outros estudos com LGG® corroboram os resultados descritos, sendo os achados mais promissores aqueles relacionados à prevenção da DA.
O uso dos probióticos é seguro, com efeitos colaterais raros relacionados principalmente ao trato gastrointestinal, como constipação, flatulência, náuseas e soluços. O cuidado na prescrição dos probióticos deve ser maior em pacientes imunossuprimidos, uma vez que eles podem, teoricamente, apresentar risco de infecções potencialmente graves (sepse, endocardite, abscesso hepático) pelas bactérias que compõem as medicações.
Diante da possibilidade de prevenir o surgimento da DA e de melhorar seu controle clínico de forma segura, o uso de probióticos – sendo o LGG® um dos mais amplamente estudados – tem se mostrado útil no manejo da doença. A prescrição deve ser individualizada para cada paciente. Além disso, novos estudos com um tempo maior de acompanhamento devem ser realizados, para avaliação prospectiva a longo prazo dos efeitos benéficos e, também, de potenciais efeitos colaterais.
Autor(a): Gabriela Guimarães Moreira Balbi
Graduada em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) • Pediatra pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) • Reumatologista pediatra pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM)
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