11/05/2021
Mulheres miastênicas podem ter piora nos sintomas durante e após a gravidez?

A atividade da doença é o indicador mais importante para planejar a gravidez, recomendada a partir do terceiro ano após o diagnóstico de Miastenia Gravis

A Miastenia Gravis, doença autoimune crônica mais prevalente da transmissão neuromuscular, é mais comum em mulheres entre a segunda e terceira década de vida, período que coincide com o de maior fertilidade e desejo de engravidar.  Caracterizada por ter como principais sintomas a fraqueza muscular e a fadiga, a Miastenia Gravis se manifesta de forma mais ativa no início da doença, quando as crises são mais comuns. 

De acordo com o Dr. Eduardo Estephan, médico neurologista e diretor científico da Abrami (Associação Brasileira de Miastenia), a recomendação para as mulheres miastências que desejam ter filhos é que “a gravidez seja planejada a partir do 3º ano da doença, quando a atividade da miastenia está mais estável e controlada. O curso da doença deve ser bem monitorado durante toda a gestação, com atenção aos medicamentos de uso regular para não prejudicar o feto”, explica o especialista. 

O momento de maior atenção e quando os cuidados devem ser redobrados é o do parto, já que o esforço físico é mais exigido pelas futuras mães, o que pode piorar o quadro. O parto normal é recomendado apenas para mulheres com a doença compensada e os trabalhos de parto prolongados devem ser evitados. “A principal força exigida da mãe no parto normal é a da contração uterina, que não é afetada pela miastenia, e fadigas musculares leves não costumam atrapalhar o parto. Já a cesária é mais indicada para mães que apresentam quadros mais intensos de Miastenia Gravis ou crise miastência durante a gestação”, diz o médico.

Sinais de piora dos sintomas podem ocorrer em um terço dos casos e, geralmente, acontecem no primeiro trimestre e nos primeiros trinta dias de puerpério, período em que há maior demanda da mãe, com muitas atividades diárias nos cuidados com o bebê e noites mal dormidas. No puerpério, o manejo adequado deve ser feito com a manutenção das drogas nas doses usadas antes da gestação, suficientes para manter a paciente com quadro estável.

Um estudo publicado no Neurology – jornal cientifico da American Academy of Neurology –  realizado durante 33 anos na Noruega envolvendo 127 nascimentos de mulheres com Miastenia Gravis e 1.9 milhões de nascimentos de mulheres sem a doença (grupo de controle), confirmou que mulheres com MG tiveram o dobro da taxa de partos por cesariana (17,3%) em comparação ao grupo de controle (8,6%) e a ruptura prematura das membranas amnióticas ocorreu três vezes mais (5,5%) em miastênicas do que na população em geral (1,7%). A causa da ruptura das membranas não está bem estabelecida, podendo ser secundária ao uso de corticosteroide ou relacionada a algum processo infeccioso.

Ainda de acordo com a pesquisa, apenas 27 das 127 crianças nascidas de mulheres miastênicas apresentaram complicações neonatais e apenas 5 apresentaram defeitos congênitos graves, número considerado não significativo quando comparado a todos os nascimentos. Além disso, as mortes neonatais não aumentaram de forma expressiva, assim como não houve uma taxa maior de prematuridade.

Foi constatado também que cerca de 15% dos bebês nascidos de mães miastênicas podem desenvolver a doença através da troca de anticorpos entre a mãe e o recém-nascido. Na pesquisa, a MG neonatal ocorreu em 4% dos recém-nascidos, porém 8% tiveram sintomas observados seguidos ao nascimento.

Entretanto, os sintomas podem desaparecer em até três semanas de vida, embora possam se manifestar de forma leve nesse período. “Choro fraco, dificuldade de sucção, tônus enfraquecido, fraqueza generalizada, dificuldade respiratória e pálpebra caída (ptose) são os principais e, em geral, não precisam ser tratados. Quanto à amamentação, não há contraindicações por motivo da doença. Os médicos, porém, precisam avaliar se algum dos medicamentos administrados pode passar para o leite e fazer mal ao bebê”, esclarece o Dr. Eduardo.

Outro estudo, conduzido por médicos da Universidade de Brasília e do Hospital Universitário de Brasília, apontou que a gravidez pode atuar de forma imprevisível sobre o curso da Miastenia Gravis. Em uma revisão de 322 gestações, em 225 mulheres miastênicas, foi observada exacerbação da doença em 41%, remissão em 29% e nenhuma alteração em 30% dos casos.  

Diante desse cenário, as mulheres com Miastenia Gravis não devem ser desencorajadas a dar à luz, apenas devem se planejar para engravidar e ter um acompanhamento médico criterioso, principalmente, com acesso rápido em caso de complicações. 

Dr. Eduardo Estephan – Médico neurologista do Ambulatório de Miastenia do Hospital das Clínicas e do Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital Santa Marcelina, ambos de São Paulo.

Para mais informações sobre miastenia, acesse o site: https://www.miastenia.com.br/abrami/

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