Introdução
Probióticos são microrganismos vivos, bactérias ou fungos, que proporcionam benefícios à saúde do organismo hospedeiro quando administrados nas quantidades adequadas.1-2
Esses agentes diferem dos germes patogênicos por seu papel colaborativo com a fisiologia normal do organismo receptor, inclusive em relação aos metabolismos de nutrientes e fármacos, bem como às diferentes condições patológicas.3-4
Embora o papel dos probióticos na saúde e na doença seja cada vez mais documentado, é de fundamental importância apontar as diferenças existentes entre as diversas cepas, uma vez que seus efeitos e ações biológicas não podem ser extrapolados de um microrganismo para outro.5-6
Dentre esses agentes, destaca-se o Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®), genotipado em sua totalidade e para o qual estão disponíveis décadas de experiência pré-clínica e estudos clínicos em diversos contextos.7
Figura 1. Aspectos importantes da administração de LGG®.
O Lactobacillus helveticus e o Bifidobacterium longum são duas cepas de probióticos comumente administrados em combinação. Essa associação de microrganismos tem sido avaliada em diferentes modelos, principalmente aqueles experimentais.8,9
Sistema nervoso central
Os probióticos podem induzir alterações no perfil de citocinas5,9 embora essas modificações, em nível molecular, não possam ser extrapoladas diretamente para os resultados clínicos. Foi demonstrado, em modelos com animais submetidos ao estresse, que a administração de Lactobacillus helveticus e Bifidobacterium longum aumenta os níveis de citocinas anti-inflamatórias, ainda que tais variações no perfil de resposta de citocinas não pareçam modificar a resposta ao estresse.9 Esses resultados coincidem com um estudo clínico do qual participaram 79 pacientes com transtornos do humor que não faziam uso de medicação psicotrópica. Para esses indivíduos, a administração de L. helveticus + B. longum não modificou os resultados de testes validados, como a Escala de Avaliação de Depressão de Montgomery-Åsberg, em comparação com o relatado para o placebo.10
Em relação ao LGG®, em um estudo-piloto, randomizado e controlado por placebo, sua administração foi associada a diferenças estatisticamente significativas no perfil de citocinas, aos três meses de tratamento, em pacientes com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, incluindo interleucinas 6 e 12 e fator de necrose tumoral alfa. Essas modificações nos neurotransmissores e citocinas foram observadas no contexto de uma melhoria na qualidade de vida dos participantes.11
Síndrome diarreica aguda
Com base nos resultados de pelo menos dois estudos controlados de desenho metodológico adequado, a European Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition indicou que a evidência era apropriada para indicar o LGG® (≥ 1010 unidades formadoras de colônias diariamente por cinco a sete dias) como um adjuvante à reidratação para o tratamento de diarreia infecciosa aguda em pacientes pediátricos.12 Não há estudos sobre tais características para a associação de L. helveticus + B. longum.
Prevenção da diarreia nosocomial
Com base na evidência obtida a partir de uma metanálise de estudos clínicos, a administração de LGG® (em duas doses diárias de 1010 a 1011 unidades formadoras de colônias) pode ser usada para prevenir diarreia hospitalar. Não há evidências de características semelhantes para a combinação de L. helveticus + B. longum.13
Conclusões
Existem evidências experimentais e clínicas obtidas a partir de diretrizes de prática clínica em relação à segurança e à eficácia do LGG® como um probiótico de indicação em vários contextos de saúde e doença. Com base no conhecimento atual, as propriedades e os benefícios obtidos com um probiótico não podem ser extrapolados diretamente para outros produtos, portanto, a escolha deve ser adequadamente baseada nas melhores informações científicas atualizadas.
Referências
[1] Dale HF, Rasmussen SH, Asiller OO, Lied GA. Probiotics in Irritable Bowel Syndrome: An Up-to-Date Systematic Review. Nutrients. 2019;11:2048.
[2] Hill C, Guarner F, ReidG, Gibson GR, Merenstein DJ, Pot B, et al. Expert Consensus Document: The International Scientific Association for Probiotics and Prebiotics Consensus Statement on the Scope and Appropriate Use of the Term Probiotic. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2014;11(8):506-14. [3] Singh VP, Sharma J, Babu S, Rizwanulla, Singla A. Role of probiotics in health and disease: A review. J Pak Med Assoc. 2013;63(2):253-7. [4] Jandhyala SM, Talukdar R, Subramanyam C, Vuyyuru H, Sasikala M, Nageshwar Reddy D. Role of the normal gut microbiota. World J Gastroenterol. 2015;21(29):8787-803. [5] Domingo JJS. Revisión del Papel de los Probióticos en la Patología Gastrointestinal del Adulto. Gastroenterol Hepatol. 2017;40(6):417-29. [6] Cáceres P, Gotteland M. Alimentos probióticos en Chile: ¿qué cepas y qué propiedades saludables? Rev Chil Nutr. 2010;37(1):97-109. [7] Capurso L. Thirty Years of Lactobacillus rhamnosus GG. A Review. J Clin Gastroenterol. 2019;53:S1–S41. [8] Aguilera-Carreras J. Probióticos. Rev Gastroenterol Mex. 2011;76(S1):53-6. [9] Partrick KA, Rosenhauer AM, Auger J, Arnold AR, Ronczkowski NM, Jackson LM, et al. Ingestion of probiotic (Lactobacillus helveticus and Bifidobacterium longum) alters intestinal microbial structure and behavioral expression following social defeat stress. Sci Rep. 2021;11(1):3763. [10] Romijn AR, Rucklidge JJ, Kuijer RG, Frampton C. A double-blind, randomized, placebo-controlled trial of Lactobacillus helveticus and Bifidobacterium longum for the symptoms of depression. Aust N Z J Psychiatry. 2017;51(8):810-21. [11] Kumperscak HG, Gricar A, Ülen I, Micetic-Turk D. A Pilot Randomized Control Trial with the Probiotic Strain Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®) in ADHD: Children and Adolescents Report Better Health-Related Quality of Life. Front Psychiatry. 2020;11:181. [12] National Institutes of Health (NIH). Probiotics. [Internet]. Bethesda, MD: NIH; 2020. Disponível em: https://ods.od.nih.gov/factsheets/Probiotics-HealthProfessional/. Acesso em: março de 2021. [13] World Gastroenterology Organisation (WGO); Global Guidelines and Cacades. Probióticos e prebióticos. [Internet}. Milwaukee, WI: WGO; 2017. Disponível em: https://www.worldgastroenterology.org/guidelines/global-guidelines/probiotics-and-prebiotics/probiotics-and-prebiotics-portuguese. Acesso em: março de 2021.
®2021 MP Grupo – MedPharma Publishers O texto que está nesta publicação expressa a opinião dos autores que o escreveram e não reflete necessariamente a opinião do Laboratório Cellera Farmacêutica. Material desenvolvido pelo Comitê Científico da Medpharma Publishers. MED75. Material científico destinado exclusivamente à profissionais de saúde