10/03/2021
Como o retorno presencial às aulas pode ocasionar reflexos na saúde das crianças

A preocupação com o retorno às aulas presenciais, no Brasil, traz questões tanto do ponto de vista sanitário como do educacional. Os riscos implicados no retorno às atividades escolares são motivos de atenção a pais e responsáveis, e também são razões de estudo e debate para especialistas e profissionais da saúde frente às constatações que a ciência já fornece sobre a pandemia. Medidas preventivas de proteção, prejuízos para a infância em um contexto de isolamento, saúde imunológica em desenvolvimento, segurança alimentar e, sobretudo, o estudo epidemiológico de cada localidade, com gerenciamento de riscos, são questões complexas que permeiam a decisão sobre a volta às aulas presenciais. 1,2

A pandemia causada pelo SARS-CoV-2, em 2020, atingiu alta taxa de contágio e está associada a significativas taxas de letalidade. Até o momento, não se dispõe de tratamento antiviral efetivo, tampouco vacinas profiláticas e, dessa forma, medidas não farmacológicas têm sido recomendadas. Nesse sentido, o distanciamento social (como exemplo, a suspensão de aulas presenciais) e as ações sanitárias preventivas foram ferramentas cruciais na redução da transmissão do vírus na comunidade, com evidências, em muitos países, da efetividade dessas medidas.5,6

Em todo o país, há muitas diferenças de manifestação do SARS-CoV-2 em termos epidemiológicos. As ações de vigilância são fundamentais para resguardar o ambiente da escola, com revisão de hábitos e atitudes, higiene pessoal e desinfecção de superfícies. As experiências internacionais bem-sucedidas são aquelas que adaptaram grupos pequenos de alunos, que frequentam as aulas em regime de alternância entre aulas presenciais e à distância, o estudo híbrido.4

O Ministério da Saúde do Brasil atualizou os grupos de risco, incluindo as crianças abaixo de cinco anos de idade com síndrome gripal, especialmente as menores de dois anos, nas quais há maior taxa de hospitalização, considerando o potencial risco da infecção pelo vírus influenza nestes casos.5,6

Tendo em vista os potenciais reflexos do retorno presencial à saúde das crianças, a recomendação das autoridades sanitárias é de que ele seja gradual, de forma cautelosa, com um número reduzido de alunos, conforme supracitado, incluindo todas as precauções possíveis para minimizar a disseminação da infecção pelo SARS-CoV-2 nas escolas.2

Com este cenário, alunos que tenham contraindicações de frequentar a escola por serem imunocomprometidos, ou tenham doenças crônicas, devem receber educação à distância. Deve-se salientar que crianças imunologicamente saudáveis, mesmo que assintomáticas, podem ser transmissoras da doença.5,6

Se por um lado existe a preocupação em relação ao adoecimento dos filhos e, como consequência, de outros membros da família, por outro há o prejuízo da aprendizagem e sociabilização. A ausência do ambiente escolar e do convívio com a comunidade são elementos prejudiciais ao bem-estar e desenvolvimento de crianças e adolescentes.5,6

Os protocolos de prevenção de contágio pelo SARS-CoV-2 são de fundamental importância para o combate ao vírus e os hábitos de higiene são estratégia primordial para o controle da infecção. Contudo, a higiene excessiva, desproporcionada em outro contexto, pode causar efeitos adversos, por exemplo, com a diminuição da diversidade microbiana intestinal da população pediátrica. Esta perda pode interferir com mecanismos de regulação do sistema imunológico e predispor ao desenvolvimento de doenças como as gastrointestinais. 3

O sistema imunológico do organismo tem como um de seus principais pilares funcionais o sistema imunológico intestinal. Nesse sentido, a atividade imune, quando adequadamente estabelecida, previne disfunções como a disbiose, a colonização da mucosa intestinal por bactérias patogênicas e, consequentemente, diarreias infecciosas. Em um quadro pandêmico, a preocupação em se adquirir qualquer uma dessas disfunções é maior em uma realidade de flexibilização das medidas de isolamento social. 3

O uso de probióticos seria uma estratégia interessante na manutenção do equilíbrio microbiano, revertendo ou prevenindo a disbiose (desequilíbrio da microbiota intestinal). O desenvolvimento do sistema imunológico depende do estabelecimento de uma microbiota intestinal equilibrada e diversificada no início da vida.3

Referências

1 – Portal do Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Atos Normativos. Súmulas, Pareceres e Resoluções. Secretarias. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/atos-normativos–sumulas-pareceres-e-resolucoes?id=12816. Acesso em: 15 out. 2020.

2 – Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Notícias. Volta Segura da Educação. Disponível em: https://www.educacao.sp.gov.br/noticias/volta-segura-retorno-opcional-em-sp-partir-de-8-de-setembro-tire-duvidas/. Acesso em: 15 out. 2020.

3 – Especialistas da SBP debatem o impacto da microbiota intestinal pós-Covid. Disponível em:  https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/especialistas-da-sbp-debatem-o-impacto-da-microbiota-intestinal-pos-covid/. Acesso em: 21 out. 2020.

4 – Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica: Covid-19. Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/guia-de-vigilancia-epidemiologica-covid-19/. Acesso em: 21 out. 2020.

5 – SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria – O Ano Letivo de 2020 e a Covid-19.

Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22514c-NA_-_O_Ano_Letivo_de_2020_e_a_COVID-19.pdf/ Acesso em: 21 out. 2020.

6 – SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria – Covid-19 e a volta às aulas.

Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22516b-NA_-_COVID-19_e_a_Volta_as_Aulas.pdf/. Acesso em: 21 out. 2020.