A pandemia trouxe mudanças bruscas de rotina, diferentes padrões de trabalho, carga horária estendida de home office, filhos em casa em tempo integral e muitas novas tarefas e hábitos que tem afetado diferentes faixas etárias, principalmente no aspecto emocional.
Com as crianças não é diferente, suas atividades da escola foram interrompidas, atividades de lazer tornaram-se bem restritas e até tiveram que se adaptar ao novo método de aulas online. O acometimento é ainda mais intenso naquelas crianças com problemas de desenvolvimento, como transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e transtorno do espectro autista (TEA).
Confinamento e crianças com TDAH e TEA
Com o intuito de orientar e ajudar, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou um documento que reuni respostas a alguns questionamentos comuns dos pais durante esse período. É muito importante que os médicos e profissionais de saúde saibam responder essas perguntas.
1. Como distrair meu filho(a) em casa e ajudá-lo(a) a passar o tempo?
Com esse maior contato familiar, devem ser incentivadas atividades que possam conciliar o tempo e necessidades das crianças e que possam estimular a curiosidade e a criatividade (esconde-esconde, quebra-cabeças, desenhos, atividades manuais…). Também são indicadas atividades como assistir TV em família e a leitura conjunta de livros adequados a faixa etária.
É de suma importância que se tente manter uma rotina alimentar saudável e que tenha objetivos diários definidos, para reduzir a ansiedade e o estresse que o período traz.
2. Devo criar novas regras e/ou limites dentro de casa?
Regras são fundamentais para a educação, porém em tempos de pandemia devemos adaptar as regras com as mudanças da rotina das crianças. Uma dica seria utilizar imagens com objetivos a serem alcançados naquele dia, como por exemplo: um desenho mostrando uma escova de dente, uma criança tomando banho ou uma família na hora da refeição. Sem esquecer de parabenizar a criança após um objetivo alcançado, caracterizando um reforço positivo.
Atenção especial ao abuso do tempo de telas. O ideal é planejar o tempo de tela na programação diária e o uso de um temporizador visual facilita o controle do tempo pela própria criança. Um exemplo é Time Timer, que é um aplicativo que mostra uma seção vermelha decrescente à medida que o tempo acaba. Outra dica legal que a SBP recomenda é o planejamento do tempo de tela antes de atividades preferidas, porque desligar antes do lanche é mais fácil do que antes de uma atividade acadêmica.
3. O que fazer quando meu filho(a) não quiser mais ficar em casa?
Esse momento acontecerá e a sugestão é aguardar horários com menor movimento, para sair ao ar livre, caminhar, mas sempre seguindo as normas de segurança.
4. O que fazer para não prejudicar os ganhos que meu filho(a) teve nas terapias até o momento?
Importante manter o contato com os terapeutas, para que eles possam auxiliar com dicas de tarefas em casa ou até mesmo promover sessões online. Lembrando que não devemos esperar respostas imediatas, já que é um momento bem difícil para todos.
5. Como devo proceder em casos de urgência ou dúvidas em relação às medicações?
Em caso de urgência/emergência tente contato com o médico assistente, do contrário, procure uma Unidade Básica de Saúde, Unidade de Pronto Atendimento ou Hospital mais próximo. Não altere ou suspenda doses por conta própria.
6. Mudanças comportamentais poderão acontecer nesse período? Como proceder?
Crianças com TEA geralmente tem dificuldades em expressar verbalmente sentimentos como ansiedade, medo, desconforto com a nova rotina e ainda mais em compreender o motivo dessa mudança de rotina. Os pais devem estar atentos a mudanças no padrão de sono, alteração do apetite, irritabilidade e/ou aumento de agitação, aumento de comportamentos repetitivos e preocupação excessiva ou ruminação.
Entrar em contato com o médico assistente e equipe multidisciplinar caso essas mudanças forem notadas para melhores orientações.
7. Como cuidar dos cuidadores nesse tempo de incertezas?
Neste momento, os pais se viram isolados, impotentes e com medo de adoecer ou perder a vida. Fora a questão da saúde, ainda há um cenário econômico e profissional duvidoso e os pais tiveram que lidar prontamente com as tarefas domésticas, com o cuidado de parentes idosos e o trabalho em casa.
Para tentar conseguir se manter emocionalmente bem para cuidar das crianças, a sugestão é não sentir-se culpado, acolher seu sentimento e conscientizar-se que está dando o seu melhor.
Uma sugestão é deixar de lado as preocupações que não podem ser respondidas ou resolvidas agora, como: O que vai acontecer com o ano letivo? Quanto tempo a quarentena vai durar? Quais serão os efeitos da quarentena no meu futuro?
Compartilhar as dúvidas e inseguranças com a rede de apoio também é fundamental!
Fonte: https://pebmed.com.br/como-ajudar-criancas-com-tea-e-tdah-no-periodo-de-confinamento/
Autor(a): Clara Madureira
Graduada em Medicina pela Universidade do Grande Rio ⦁ Residência Médica em Pediatria pelo Hospital Municipal Salgado Filho ⦁ Instagram: @draclaramadureira
Referência Bibliográfica: