TDAH
22/09/2025
TDAH e depressão: entenda a relação e o que fazer neste setembro amarelo

Neste Setembro Amarelo, é essencial falar sobre a ligação entre TDAH e depressão e como a saúde mental precisa de atenção constante

A vida de uma pessoa com TDAH, muitas vezes, é marcada por desafios constantes que não são visíveis para todos. O esforço para manter o foco em tarefas cotidianas, a dificuldade para organizar a rotina ou a sensação de que está sempre um passo atrás das outras pessoas pode levar a um desgaste emocional significativo.

Esses fatores, quando não são tratados, podem se tornar um terreno fértil para o surgimento de outros transtornos, como a depressão.

Apesar de serem condições diferentes, o TDAH e a depressão podem andar juntas, e é importante entender o porquê a fim de que se busque ajuda adequada. 

Nessa campanha do Setembro Amarelo, queremos lembrar que a saúde mental da pessoa que convive com TDAH é um tema relevante e que precisa ser abordado sem preconceitos.

Qual é a relação entre TDAH e depressão?

A coocorrência, ou comorbidade, é tão comum que os profissionais de saúde já consideram a depressão em pessoas com TDAH uma das comorbidades mais frequentes.

Um estudo do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas de São Paulo, por exemplo, destaca que características do TDAH, como a desregulação emocional e as dificuldades sociais e acadêmicas, podem ser precursoras de sintomas depressivos na vida adulta.

Isso porque os desafios impostos pelo TDAH podem gerar uma série de frustrações ao longo do tempo. 

A sensação de que não se encaixa, de que não é capaz de ter sucesso ou de que está sempre aquém das expectativas, sejam as próprias ou as dos outros, pode minar a autoestima e a motivação, criando um ciclo de sofrimento emocional que pode levar ao quadro depressivo.

O impacto do diagnóstico tardio ou não tratado

A falta de um diagnóstico e tratamento correto para o TDAH pode amplificar a probabilidade de um quadro depressivo. Quando os sintomas do transtorno não são reconhecidos, a pessoa pode ser rotulada como “preguiçosa”, “desleixada” ou “desinteressada”. 

Essa visão equivocada, muitas vezes, é internalizada, reforçando sentimentos de inadequação e culpa.

Quando uma criança ou um adolescente com TDAH não recebe o suporte necessário na escola e em casa, por exemplo, ele pode enfrentar dificuldades de aprendizado e de relacionamento. Essa sequência de fracassos e frustrações é um fator de risco para a depressão

O mesmo acontece na vida adulta, em que problemas na carreira ou nos relacionamentos podem se tornar recorrentes, fazendo com que a pessoa se sinta sobrecarregada e sem esperança.

Frustração e baixa autoestima contribuem para quadros depressivos

A baixa autoestima é um dos principais pontos de intersecção entre o TDAH e a depressão. A desorganização, a impulsividade e a dificuldade em focar podem levar a erros no trabalho, à perda de prazos ou a mal-entendidos nas interações sociais. 

Cada um desses eventos pode ser percebido como uma confirmação do fracasso pessoal e essa autocrítica constante, somada ao sentimento de estar “quebrado” ou “com defeito”, pode ser extremamente prejudicial e evoluir para a desesperança e, posteriormente, para a tristeza profunda da depressão. 

Sintomas que podem indicar depressão em pessoas com TDAH

Os sintomas de depressão em pessoas com TDAH podem incluir:

  • tristeza profunda e persistente;
  • perda de interesse: a pessoa perde o interesse em atividades que antes lhe davam prazer;
  • sentimentos de inutilidade ou culpa;
  • alterações no sono e no apetite: pode haver tanto insônia quanto sono em excesso. O apetite também pode diminuir ou aumentar drasticamente;
  • fadiga ou perda de energia constante.

Se você notar a presença desses sinais por mais de duas semanas, é importante buscar ajuda profissional. 

Esses sintomas não são exclusivos da depressão e a anamnese é indispensável para qualquer diagnóstico. 

Estratégias para cuidar da saúde mental de forma integrada

Quando TDAH e depressão aparecem juntos, o impacto na rotina tende a ser ainda maior. Por isso, é essencial adotar estratégias que considerem o bem-estar de forma ampla, unindo acompanhamento médico, mudanças no estilo de vida e apoio terapêutico.

Apoio psicoterapêutico e multidisciplinar

O tratamento do TDAH e depressão em conjunto exige uma abordagem integrada. A psicoterapia, especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), tem se mostrado muito útil. 

Ela ajuda a identificar padrões de pensamento negativos e a desenvolver novas formas de lidar com os desafios.

O apoio de outros profissionais, como nutricionistas, pode complementar o tratamento, uma vez que alimentação e a suplementação para TDAH também podem fazer parte dessa abordagem multidisciplinar para o manejo.

O papel da escola, da família e do ambiente de trabalho

A rede de apoio é fundamental para o sucesso do tratamento. A família, os professores e os colegas de trabalho podem fazer a diferença ao reconhecerem os desafios do TDAH e oferecerem suporte em vez de críticas.

Em um ambiente de trabalho, por exemplo, pequenas adaptações podem ser feitas para ajudar. Um ambiente mais silencioso ou a possibilidade de dividir grandes projetos em pequenas etapas podem fazer uma grande diferença. 

Na família, a compreensão e a paciência são indispensáveis. E na escola, professores treinados podem ajudar a criar um ambiente de aprendizado mais inclusivo. O objetivo é que a pessoa com TDAH se sinta apoiada e compreendida, minimizando o sentimento de isolamento que pode levar à depressão.

A conexão entre TDAH e a depressão é real e exige atenção. O Setembro Amarelo é uma oportunidade valiosa para desmistificar o tema e mostrar que, com o diagnóstico e o suporte corretos, é possível viver com mais bem-estar. 

 

 

 

Referências

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