O hiperfoco no TDAH é uma característica que pode ser usada de forma positiva. Entenda como direcionar essa concentração intensa para o dia a dia
Quem convive com o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) costuma lidar com a dificuldade de manter o foco em tarefas rotineiras. Curiosamente, em alguns momentos, essa mesma pessoa pode mergulhar por horas em uma única atividade, ignorando até estímulos externos importantes, como fome ou sono.
Esse estado de imersão profunda é chamado de hiperfoco no TDAH, uma característica comum em quadros de TDAH. Apesar de parecer contraditório, essa hiperconcentração pode ser útil — desde que bem direcionada e equilibrada com o restante da rotina.
Compreender o hiperfoco ajuda a reduzir a frustração de quem vive com o transtorno e oferece caminhos para transformar essa particularidade em uma aliada, seja nos estudos, no trabalho ou em tarefas do dia a dia.
O que é o hiperfoco e por que ele acontece no TDAH?
O hiperfoco em TDAH é um estado de atenção extrema e prolongada direcionado a atividades que despertam alto nível de interesse, motivação ou recompensa imediata. É como se o cérebro passasse a filtrar todos os estímulos irrelevantes e se fixasse apenas naquele ponto de atenção.
Em pessoas com TDAH, esse comportamento está ligado ao funcionamento dos neurotransmissores da dopamina e da noradrenalina, que influenciam a motivação e o controle do foco. Quando a tarefa é envolvente, o cérebro recebe esse “reforço químico” que facilita o engajamento prolongado.
Apesar de parecer vantajoso em muitos momentos, esse padrão não é uma escolha consciente. Isso porque o cérebro de quem tem TDAH tem dificuldade em alternar o foco com flexibilidade, o que pode resultar em prejuízos quando há rigidez excessiva nessa concentração.
Além disso, vale lembrar que o TDAH apresenta outros impactos positivos, como habilidades de resolução rápida de problemas, pensamento fora da caixa e forte capacidade de adaptação a cenários dinâmicos. Esses e outros impactos positivos do TDAH são cada vez mais reconhecidos como diferenciais em diversas áreas da vida.
Diferença entre foco seletivo e hiperconcentração prolongada
O foco seletivo é o processo natural de priorizar estímulos importantes e filtrar distrações. Já o hiperfoco é mais intenso e menos controlável, com duração estendida e dificuldade para ser interrompido — mesmo que a tarefa em si não seja prioridade naquele momento.
Por exemplo, uma pessoa pode ficar horas organizando arquivos digitais ou jogando videogame, sem se dar conta da passagem do tempo ou de compromissos urgentes que estão sendo negligenciados.
O impacto do hiperfoco no TDAH vai depender do ambiente, das exigências do momento e da consciência sobre o próprio comportamento. Quando canalizado para uma tarefa útil, ele pode gerar alta produtividade e estimular a criatividade em pessoas com TDAH.
Mas, quando mal administrado, o hiperfoco pode causar atrasos, desorganização e problemas de relacionamento. Ignorar refeições, esquecer compromissos ou negligenciar atividades importantes são sinais de alerta que merecem atenção.
Por isso, reconhecer os gatilhos e treinar estratégias para redirecionar o foco torna-se um recurso importante para o bem-estar e para a funcionalidade no dia a dia.
Como transformar o hiperfoco no TDAH em uma ferramenta produtiva
Identifique os gatilhos e use a favor de atividades relevantes
O primeiro passo está na observação: em que momentos essa concentração extrema tende a surgir? Quais atividades provocam esse estado? Com essas respostas, é possível tentar associar o hiperfoco a tarefas produtivas, como estudos, trabalho criativo ou planejamento de projetos.
Pense que realizar essa observação poderá te ajudar a utilizar esse foco concentrado para tarefas como redigir textos, programar, pintar ou resolver problemas complexos que exijam atenção contínua. Quando essas tarefas estão inseridas em horários planejados, o resultado pode ser altamente satisfatório.
Ambiente favorável
Ter um espaço estruturado ajuda a reduzir estímulos que possam competir com o foco e “roubar” a atenção. Silenciar notificações, organizar a mesa de trabalho e evitar interrupções externas são ajustes simples, mas com grande impacto.
Outra dica importante é o uso de alarmes e cronômetros. Esses instrumentos funcionam como “gatilhos de saída”, sinalizando o momento de encerrar ou pausar a atividade — algo que pode ser difícil para quem está em estado de hiperfoco.
Estratégias para equilibrar foco e rotina no TDAH
Dividir tarefas grandes em metas pequenas facilita o início da ação e diminui a sensação de sobrecarga, comum no TDAH. Técnicas como Pomodoro, que propõe períodos curtos de trabalho intercalados com pausas, podem ser úteis para manter a atenção sem sobrecarregar.
Outra estratégia consiste em prever pausas entre as atividades que tendem a gerar hiperfoco. Isso ajuda a preservar energia mental, reduzir sintomas de fadiga e manter a organização do restante do dia.
Quando buscar apoio profissional e opções de acompanhamento terapêutico
Se o hiperfoco no TDAH estiver comprometendo o dia a dia, afetando o desempenho escolar, profissional ou as relações sociais, é indicado buscar orientação especializada. Psicólogos, terapeutas ocupacionais e psiquiatras têm recursos validados para ajudar nesse processo.
O uso de estratégias comportamentais, técnicas de organização, e, quando necessário, acompanhamento farmacológico com o uso de vitaminas e suplementos indicados pelo seu médico, pode auxiliar na construção de uma rotina mais estável e funcional.
Aqui na Cellera Farma, acreditamos que compreender as particularidades do TDAH — como o hiperfoco — é essencial para promover qualidade de vida. Nosso compromisso é apoiar você nessa jornada com informação, inovação e soluções que fazem a diferença.
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