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Em tempos de coronavírus, fortaleça sua imunidade

O novo Coronavírus mudou a vida de todo o mundo. Tem aqueles que não vão mais ao trabalho – ou por estarem trabalhando de casa, em home office, ou por terem perdido o emprego, ou ainda (os autônomos) porque nem adianta sair já que não tem para quem oferecer seus produtos e/ou serviços. Não tem mais trânsito de carros, nem muitas pessoas andando pelas ruas; não há multidões em eventos, festas, cultos religiosos.

Com exceção de quem atua nos serviços essenciais, todas as demais foram recomendadas a permanecer em casa. Sair só em caso de necessidade. É o chamado isolamento social. Para todas essas pessoas, resta a cada uma cuidar de si mesma. A meta é tentar não ser infectado com a COVID-19. Por isso, um dos pontos essenciais neste momento é dar atenção extra para reforçar sua imunidade.

Sabe como? O Dr. Carlos Eduardo Miguel da Silva, médico intensivista (aquele profissional que atua em UTI) e gastroenterologista, da Santa Casa de Porto Ferreira (SP) e da Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de Porto Ferreira, detalhou o que as pessoas devem fazer para fortalecer sua imunidade, sem sair de casa.

1)  Nutrition: Procure ter uma dieta equilibrada e regular. Ou seja, nada de “pular” refeições. Deve-se consumir carboidratos, proteínas e lipídios (gordura), com uma farta dose de frutas e legumes frescos. Já alimentos processados e frituras devem ser evitados, assim como não consumir em excesso açúcar e sal.

A nutrição balanceada, pela quantidade de vitaminas e sais minerais, é a base para uma boa imunidade, porque equilibra e mantém a saúde do corpo. A recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é a ingestão diária de 400 gramas de frutas, verduras e legumes.

2)  Hidratação: Beber água durante todo o dia é fundamental para a boa imunidade. Os processos fisiológicos, como digestão e circulação, precisam da água que consumimos, assim como na manutenção da temperatura corpórea.

A quantidade varia de acordo com a faixa etária e o clima (temperatura) de onde vivemos, mas são de 2 a 2,5 litros de água, em média, por dia para um adulto em condição normal de saúde. Para idosos, a recomendação é beber em torno de 1,5 a 2 litros de água diariamente.

O consumo de sucos naturais e chá (preferencialmente sem açúcar) está liberado, mas o ideal é que não substituam totalmente a água filtrada.

3)  Atividades físicas: O sedentarismo deve ser combatido, principalmente no atual contexto de isolamento. “Exercícios, principalmente os aeróbicos”, aumentam bastante a imunidade”, diz o Dr. Silva.

Fazer esteira e pedalar na bicicleta ergométrica, para quem tem os aparatos em casa, são boas pedidas. Na ausência deles, é possível praticar em espaço reduzido atividades como tai chi chuan, yoga, dança e vários tipos de ginástica. Para facilitar a prática, recorra aos aplicativos de atividades, muitos deles disponíveis gratuitamente para serem baixados no celular ou até para ser acompanhados por vídeo pela internet no computador (veja aqui algumas sugestões – linkar com o post anterior).

4)  Exposição solar: Os raios solares ativam a Vitamina D presente na nossa pele. Vários estudos indicam que a Vitamina D, além de sua ação no metabolismo do Cálcio e na formação óssea, tem efeitos imunomoduladores, ou seja, interage com algumas células do sistema imunológico.

Para ativar a Vitamina D, o recomendado é expor grande parte do corpo (pelo menos braços e pernas) sem protetor solar ou qualquer tecido por cerca de 20 minutos diariamente. A exposição deve, preferencialmente, ocorrer entre 10h e 16h, período com maior abundância de raios UBV, que são os responsáveis pela ativação da Vitamina D.

5)  Manutenção de tratamentos: O Dr. Carlos Silva destaca que pacientes que fazem uso de tratamentos, incluindo medicamentos de uso contínuo, devem mantê-los. “Um diabético mal controlado, por exemplo, é imunodeprimido e precisa controlar seus níveis de glicemia. Aquele que tem controle dos níveis glicêmicos não tem esse problema”, diz. O especialista avisa que os diabéticos fazem parte do grupo de risco para a COVID-19 quando estão com a doença mal controlada.

6)  Obesidade: Os obesos são mais suscetíveis a infecções, principalmente bacterianas, mas também as infecções virais, avisa o médico intensivista. Em tempo de isolamento, é comum perder o controle diante de guloseimas e, consequentemente, engordar. Portanto, o momento é não descuidar do peso corporal.

7)  Estresse crônico: Num contexto de retração social, as pessoas são mais suscetíveis a sofrer de estresse crônico – é aquele mais constante no dia a dia; diferente do estresse agudo, causado por alguma situação traumática, mas passageira. “O estresse crônico inibe as células de defesa do organismo, impactando negativamente na imunidade”, avisa o Dr. Silva. Isso pode acontecer com qualquer pessoa em momentos como o que vivemos atualmente. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve um aumento de 34% da venda de antidepressivos, resultado do isolamento social durante a quarentena.

8)  Saúde mental: Cada um deve se esforçar para manter sua saúde mental adequada para impactar positivamente a própria imunidade, de acordo com o Dr. Silva. Para isso, ele sugere leitura de livros ou fazer algum curso online.

9)  Espiritualidade: Exercícios de relaxamento ou meditação tem surtido bons efeitos, trazendo conforto espiritual, assim como a própria fé em algo. Isso ajuda indiretamente a imunidade.

“Costumo dizer que precisamos olhar um paciente de forma holística, considerar os aspectos físicos, mentais e espirituais”, comenta o Dr. Carlos Silva, que também atua no Centro de Atendimento Integrado à Saúde (CAIS) de Santa Rita do Passa Quatro (SP).

A atual pandemia tem tido um forte impacto em grande parcela da população, principalmente para quem pode estar em uma situação financeira mais delicada e sem boas perspectivas de futuro.

Numa situação assim, a pessoa pode não estar se alimentando bem, pode ficar deprimida e sem vontade de fazer coisa alguma. Isso acaba impactando negativamente a imunidade. Ter esse conhecimento ajuda a compreender porque nenhum aspecto humano deve ser ignorado. Além disso, serve como alerta para saber o que devemos combater, entre nossos sentimentos, para conseguirmos manter nossa imunidade em alta.

Fontes:

https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#como-se-proteger

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0482-50042010000100007

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E quando as aulas voltarem?

A pandemia chegou e ficou. É fato. Mas a vida tem que continuar. Também é fato. O problema é como devolver às pessoas uma vida ao menos parecida com a que tinham antes de sermos assolados por este ataque avassalador do novo SARS-COV-2, mais um coronavírus a circular entre nós, porém este com características únicas e com altas taxas de morbidade e mortalidade.

Um dos pontos que mais tem gerado polêmicas neste momento em que a pandemia já se estagnou em alguns países, estabilizou-se em outros ou ainda avança em muitas cidades do Brasil e do mundo, é quando e se as escolas devem voltar a receber seus alunos. Na verdade, reabrir escolas primárias deixou de ser apenas uma questão científica ou burocrática, mas sim uma importante decisão de aspecto moral e emocional. (1). Afinal, a responsabilidade dos governos com a proteção das crianças e de suas famílias não permite a tomada de decisões equivocadas, com o risco de que infecções graves como a COVID-19 saiam novamente do controle. (1)

Dados dos Estados Unidos mostram que, em circunstâncias normais, cerca de 40 milhões de crianças do jardim de infância à oitava série deveria estar nas escolas este ano, sem contar as cerca de 27 milhões das séries mais avançadas. (1) Por outro lado, um estudo realizado nos 50 Estados do país mostrou que o fechamento das escolas levou a um significativo declínio na incidência e mortalidade por COVID-19 (redução média semanal de 62% e 58%, respectivamente), resultados estes mais expressivos nos Estados que optaram por um fechamento mais precoce, quando a incidência de COVID-19 ainda não era tão elevada. (2) No entanto, é possível que tal redução pode também estar relacionada a uma série de outras intervenções simultâneas. (2)

O fato é que, ao pensarmos na retomada das aulas e na grande complexidade de fazer com que essas crianças e adolescentes voltem fisicamente às escolas em tempo integral, a primeira coisa que vem à mente é que muitas já terão perdido um tempo essencial em termos de desenvolvimento, educação e socialização. (1) Além disso, para que a economia também possa retornar à sua força total, os pais necessitam das escolas para compartilharem o cuidado de seus filhos, inclusive com o benefício de que muitas fornecem alimentação para as crianças durante o período em que estão trabalhando. (1) Portanto, apesar das dificuldades a serem enfrentadas, a reabertura segura das escolas deveria ser uma prioridade absoluta. (1)

Esta situação, portanto, tem levado pais e educadores a se preocuparem com a elaboração de um plano de abertura das escolas que possa garantir segurança para as crianças, funcionários e até para os familiares, dados os altos níveis de transmissão do vírus na comunidade. (1) Por outro lado, manter crianças e adolescentes sob regras rigorosas de distanciamento social não é fácil é tão pouco bom para o ensino e a própria necessidade de convívio que eles têm. Sem contar que boa parte das escolas não têm espaço suficiente para manter esse distanciamento ou possibilidade de melhorar a ventilação e as condições de higiene, assim como dar suporte adequado em suas enfermarias. (1)

Contudo, não é só com o SARS-CoV-2 que devemos nos preocupar. Sabemos que crianças podem ser assintomáticas ou apresentar sintomas leves, indistinguíveis de outras infecções virais, e que podem espalhar o vírus mesmo quando estiverem bem. Temos visto cenário semelhante de transmissão em outras epidemias virais como as de gripe, exatamente por passarem períodos prolongados na proximidade de outras crianças na escola e durante as atividades físicas. (2) As vias de transmissão dos vírus respiratórios incluem contato direto, fômites e gotículas de secreção transportadas pelo ar. O rinovírus e o vírus sincicial respiratório, por exemplo, disseminam-se pelo contato das mãos com outras pessoas ou superfícies ou carregados por partículas grandes de aerossóis. Já o vírus da influenza pode se disseminar por distâncias ainda maiores, já que também viaja em partículas menores de aerossóis. (3) Nas escolas, a preocupação pode ser ainda maior, pois as crianças geralmente eliminam maiores cargas virais que os adultos. (3)

Outras doenças comuns entre crianças são as gastroenterites virais, um grande problema de saúde em todo o mundo principalmente por seus surtos ocasionais ou sazonais em ambientes semifechados, como as escolas, manifestados principalmente por diarreia e vômitos. (4) Recomendações gerais nesses casos incluem a adoção de padrões rígidos de higiene, desinfecção de superfícies ambientais compartilhadas e exclusão de pessoas doentes da escola por pelo menos 48 horas após a resolução dos sintomas. (4)

Um dos vírus mais associados a surtos frequentes de gastroenterites é o norovírus, cuja principal forma de infecção é a partir de pessoas infectadas, mesmo que assintomáticas, por contato direto ou via superfícies compartilhadas. A transmissão torna-se ainda mais preocupante se considerarmos que a quantidade de partículas virais necessárias para a contaminação é muito baixa e se encontram em grande número nas fezes. (5) Curiosamente, a transmissão do norovírus por contato direto ou indireto com vômitos pode ser uma via potencialmente aceita durante os surtos. Como os vômitos são frequentes em pacientes com gastroenterite por norovírus, isso ajudaria a explicar a grande proporção de disseminação em ambientes onde haja proximidade entre as pessoas. (5) Um estudo espanhol mostrou que o risco de norovirose associou-se à exposição a alimentos em 66,1% dos casos e aos vômitos em 24,8%. (5)

Finalmente, é de destacar também o cuidado com as crianças menores que retornarão às creches ou pré-escolas, já que um levantamento realizado no Brasil mostrou que elas apresentam risco até duas a três vezes maior de adquirir infecções, obrigando maior atenção quanto à lavagem das mãos, rotina para troca e descarte de fraldas e desinfecção de áreas contaminadas. (6)

Uma mensagem final: todo cuidado será pouco ao se programar o retorno às escolas, pré-escolas ou creches, seja qual for o momento escolhido para essa decisão. Infecções poderão voltar a surgir e deveremos estar preparados.

Referências

  1. Levinson M, Cevik M, Lipsitch M. Reopening Primary Schools during the Pandemic [published online ahead of print, 2020 Jul 29]. N Engl J Med. 2020; 10.1056/NEJMms2024920. doi:10.1056/NEJMms2024920.
  2. Auger KA, Shah SS, Richardson T, et al. Association Between Statewide School Closure and COVID-19 Incidence and Mortality in the US [published online ahead of print, 2020 Jul 29]. JAMA. 2020; e2014348. doi:10.1001/jama.2020.14348.
  3. Nesti MM, Goldbaum M. Infectious diseases and daycare and preschool education. J Pediatr (Rio J). 2007;83(5):299-312. doi:10.2223/JPED.1649
  4. Mellou K, Sideroglou T, Potamiti-Komi M, et al. Epidemiological investigation of two parallel gastroenteritis outbreaks in school settings. BMC Public Health. 2013; 13:241. Published 2013 Mar 19. doi:10.1186/1471-2458-13-241.
  5. Godoy P, Alsedà M, Bartolomé R, et al. Norovirus gastroenteritis outbreak transmitted by food and vomit in a high school. Epidemiol Infect. 2016;144(9):1951-1958. doi:10.1017/S0950268815003283 Dalcin

Dalcin PTR, Silva DR. Infecções Virais do Trato Respiratório. Disponível em: http://www.boletimdasaude.rs.gov.br/conteudo/1442/infecções-virais-do-trato-respiratório. Acessado em 13 de agosto de 2020.