LGG® vs. Bacillus clausii

Introdução

Probióticos são microrganismos vivos que fornecem benefícios à saúde de um organismo hospedeiro quando administrados em quantidades adequadas. Enquanto os germes patogênicos são reconhecidos pelo sistema imunológico para eliminação, os probióticos permanecem no trato gastrointestinal como convidados e, portanto, participam de diferentes aspectos funcionais.1-2

Nem todos os probióticos têm os mesmos efeitos no corpo receptor; pelo contrário, existem diferenças entre suas ações, e os benefícios relatados para um desses agentes não podem ser extrapolados para outros microrganismos.3

Sobre o Lactobacillus rhamnosus

O L. rhamnosus GG (LGG®) está entre os probióticos mais avaliados em estudos clínicos. Suas características mais marcantes estão resumidas na Figura 1.

Figura 1. Principais características do LGG®.

Entre outras características diferenciais, o LGG® é o probiótico com maior capacidade de adesão às células mucosas, facilitada pela proteína bacteriana LGG®-0186.4 Da mesma forma, está comprovado que o LGG® pode produzir biofilmes mesmo em superfícies abióticas, ao contrário de outros probióticos. Essa formação de biofilme descrita in vitro ocorre em contextos que se assemelham ao ambiente do trato digestivo, como pH gástrico reduzido, alta osmolaridade e presenças de bile, mucina e polissacarídeos indigestíveis.4

O papel de agentes como o LGG® torna-se especialmente proeminente quando o trato digestivo é considerado uma verdadeira rede dinâmica, a qual abriga inúmeros microrganismos convidados que expressam um total de cerca de 3 milhões de genes. Essa simbiose pode ser perturbada no caso da disbiose (alteração da composição da microbiota), que tem sido associada à patogênese de várias condições, incluindo doença inflamatória intestinal, síndrome do intestino irritável e úlcera péptica, entre outros processos.5

Comparação com o Bacillus clausii

O B. clausii é um agente probiótico que tem sido investigado por seus efeitos antimicrobianos, imunomoduladores e protetores no trato digestivo.5 Apesar de suas propriedades descritas como benéficas na literatura, especialistas apontam que seu mecanismo de ação ainda não é bem conhecido e que são necessários mais estudos para a compreensão de suas faculdades terapêuticas.5

Gastroenterite em crianças

Em uma revisão sistemática da literatura, o European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition Working Group conduziu uma revisão da literatura relacionada à terapia probiótica no tratamento de gastroenterite em crianças. Com base nas evidências coletadas, o grupo de pesquisa sugeriu o uso de LGG® por cinco a sete dias, em doses maiores ou iguais a 1010 unidades formadoras de colônias (UFC) por dia.

Essa sugestão foi baseada em uma metanálise de dados de cinco estudos controlados randomizados que relatou uma diminuição no tempo de hospitalização para crianças que receberam LGG®, em comparação com o grupo de controle (diferença de -1,22 dias; intervalo de confiança de 95%: -2,33 a – 0,10, com alta heterogeneidade). Em contrapartida, o mesmo grupo de estudos se manifestou contra a sugestão da administração de B. clausii (cepas O/C, SIN, N/R e T). O grupo de pesquisa observou que a indicação de B. clausii reduziu a duração da diarreia de uma forma ligeiramente diferente da do placebo.6

Atividade no sistema imunológico

Em vários modelos experimentais, foi relatado que o LGG® estimula a secreção de interleucina 6 (IL-6) e a produção de IgA no epitélio intestinal, além de inibir a formação de lipopolissacarídeos e o fator de necrose tumoral (TNF) nos macrófagos. Por outro lado, relatou-se que fatores solúveis sintetizados por LGG® aumentam a expressão de vários receptores toll-like, enquanto reduzem a ativação de marcadores de monócitos e macrófagos, incluindo a biossíntese de IL-10 e 12.4

Em relação ao B. clausii, há estudos que afirmam sobre seu possível papel na estimulação da resposta imune do tipo TH2; entretanto esses resultados contradizem aqueles estudos que indicam que esse probiótico reduz significativamente os níveis de IL-4 com aumentos de TNF e IL-12 na mucosa nasal (efeitos relacionados à resposta TH1). Consequentemente, parece necessária uma melhor caracterização das propriedades imunomoduladoras dessa cepa em coortes maiores de pacientes com patologias específicas.5

Sensibilidade aos antibióticos

A segurança dos probióticos é especialmente importante quando se considera o risco de transmissão de fatores de resistência aos antimicrobianos, como os plasmídeos e os elementos de inserção de sequência, e aos microrganismos patogênicos.

As espécies de lactobacilos como LGG® são particularmente sensíveis aos antibióticos comumente usados, como penicilina e amoxicilina. Embora o LGG® seja inerentemente resistente à vancomicina, esse probiótico não expressa os genes van, que codificam a resistência a esse antibiótico.4

O B. clausii se caracteriza por sua resistência intrínseca a penicilinas, cefalosporinas, aminoglicosídeos e macrolídeos, bem como pela resistência adquirida a tetraciclinas, cloranfenicol e rifampicina.5

Embora os eventos de disseminação hematogênica e sepse devido a probióticos sejam raros,7 o padrão de resistência pode ser de particular importância para a escolha da terapia.

Conclusões

A eficácia e a segurança do LGG®, no quadro da sua ação na mucosa intestinal e da sua interação com o sistema imunológico, tornam-no um probiótico de destaque para a abordagem de várias patologias. Certas características diferenciais são reconhecidas em relação a outros agentes, como B. clausii, basedas em estudos pré-clínicos e clínicos, bem como em revisões sistemáticas das informações disponíveis.

Referências

[1] Dale HF, R SH, Asiller OO, Lied GA. Probiotics in Irritable Bowel Syndrome: An Up-to-Date Systematic Review. Nutrients. 2019;11(9):2048. [2] Jandhyala SM, Talukdar R, Subramanyam C, Vuyyuru H, Sasikala M, Nageshwar Reddy D. Role of the normal gut microbiota. World J Gastroenterol. 2015 Aug 7;21(29):8787-803. [3] Domingo JJS. Revisión del Papel de los Probióticos en la Patología Gastrointestinal del Adulto. Gastroenterol Hepatol. 2017;40(6):417-29. [4] Capurso L. Thirty years of Lactobacillus rhamnosus GG. A review. J Clin Gastroenterol. 2019;53:S1–41. [5] Lopetuso LR, Scaldaferri F, Franceschi F, Gasbarrini A. Bacillus clausii and gut homeostasis: state of the art and future perspectives. Expert Rev Gastroenterol Hepatol. 2016;10(8):943-8. [6] Szajewska H, Guarino A, Hojsak I, Indrio F, Kolacek S, Orel R, et al. Use of Probiotics for the Management of Acute Gastroenteritis in Children: An Update. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2020;71(2):261-9. [7] Joshi S, Udani S, Sen S, Kirolikar S, Shetty A. Bacillus Clausii Septicemia in a Pediatric Patient After Treatment with Probiotics. Pediatr Infect Dis J. 2019;38(9):e228-30.

®2021 MP Grupo – MedPharma Publishers O texto que está nesta publicação expressa a opinião dos autores que o escreveram e não reflete necessariamente a opinião do Laboratório Cellera Farmacêutica. Material desenvolvido pelo Comitê Científico da Medpharma Publishers. MED75. Material científico destinado exclusivamente à profissionais de saúde

LGG® vs. Saccharomyces boulardii

Introdução

Os probióticos fazem parte de uma área de pesquisa crescente nas ciências médicas, uma vez que tais produtos unem saúde e nutrição. A sua aplicação foi avaliada em vários contextos, incluindo numerosos processos patológicos gastrointestinais (síndrome do intestino irritável, intolerância alérgica, alergias alimentares), doenças da cavidade oral (cárie, doença periodontal, halitose), certos processos infecciosos (especialmente síndrome diarreica aguda) e outras condições, como dermatite atópica, fibrose cística e até mesmo otimização de vacinas orais.1

Figura 1. Probióticos: conceito e exemplos

Adaptada de: Domingo JJS. Gastroenterol Hepatol; 20172

No entanto nem todos os probióticos disponíveis são semelhantes, uma vez que as evidências nos permitem reconhecer a especificidade das diferentes cepas para cada condição.3 O Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®) está entre os probióticos mais avaliados em estudos pré-clínicos e clínicos. Todo o seu genoma foi caracterizado em 2009, e sua ação se dá pela alta adesão à mucosa digestiva, pela sua capacidade de sintetizar uma grande quantidade de proteínas – mesmo em meio com pH ácido – e por sua alta atividade em relação ao sistema imunológico do hospedeiro.4

Comparação com Saccharomyces boulardii

O S. boulardii é uma levedura não patogênica usada como probiótico,2 com base em vários mecanismos de ação.5

Colite ulcerativa

Embora uma revisão sistemática de 2011 tenha relatado que evidências suficientes não estavam disponíveis para recomendar o uso de probióticos para induzir ou manter a remissão dessa doença inflamatória intestinal,6 foi descrita a eficácia do LGG® para esses pacientes. Em um estudo com 187 adultos com colite ulcerativa, os participantes foram divididos para receber tratamento com mesalazina, LGG® (18 x 109 microrganismos viáveis ​​por dia) ou a combinação de ambas as estratégias. Verificou-se que o LGG® é significativamente mais eficaz na manutenção do tempo de remissão do que a terapia convencional.7 Esse efeito não foi descrito para o S. boulardii.

Diarreia por antibióticos

O S. boulardii foi proposto para sintetizar uma protease que poderia impedir o efeito das toxinas produzidas pelo Clostridium difficile. Todavia os estudos sobre o papel dessa levedura na prevenção secundária da diarreia por C. difficile foram contraditórios, e até um estudo com 477 pacientes teve que ser interrompido precocemente devido à falta de resultados.8 Enquanto isso, em uma metanálise de 11 estudos (n = 1.308), o tratamento com LGG® reduziu o risco de diarreia associada a antibióticos de 22,4% para 12,3%, em comparação com o placebo; essa diferença atingiu níveis significativos para a população pediátrica.9

Segurança

De acordo com os dados coletados em metanálises de estudos randomizados e controlados, os probióticos são considerados um tratamento seguro e bem tolerado, não associado a um risco aumentado de eventos adversos em curto prazo.10

Contudo foram relatadas algumas diferenças entre os principais probióticos disponíveis e o risco potencial de infecções secundárias.

Em uma revisão sistemática de 72 artigos que incluíram estudos controlados e randomizados, casos clínicos e ensaios de segurança com pacientes recebendo suporte nutricional parenteral ou enteral, foi analisada a proporção de eventos adversos relacionados ao uso de probióticos. Foram descritos cinco casos de bacteremia causada por LGG® contra 27 casos de fungemia por S. boulardii; essas complicações foram diagnosticadas com base nos achados clínicos e na confirmação do isolamento do agente causador em meios de cultura ou por técnicas moleculares.11

Conclusões

O LGG® e o S. boulardii estão entre os agentes probióticos mais amplamente prescritos e conhecidos.2 Embora ambas as cepas sejam consideradas úteis nos contextos apropriados, há evidências claras de benefícios para o LGG® e um perfil de segurança que pode ser interessante especialmente na administração de probióticos nos pacientes mais críticos.

Referências

[1] Singh VP, Sharma J, Babu S, Rizwanulla, Singla A. Role of probiotics in health and disease: a review. J Pak Med Assoc. 2013 Feb;63(2):253-7. [2] Domingo JJS. Revisión del papel de los probióticos en la patología gastrointestinal del adulto. Gastroenterol Hepatol. 2017;40(6):417-29. [3] Cruchet S, Furnes R, Maruy A, Hebel E, Palacios J, Medina F, et al. The Use of Probiotics in Pediatric Gastroenterology: A Review of the Literature and Recommendations by Latin-American Experts. Pediatric Drugs. 2015;17(3):199-216. [4] Capurso L. Thirty years of Lactobacillus rhamnosus GG. A review. J Clin Gastroenterol. 2019;53:S1–S41. [5] Pais P, Almeida V, Yılmaz M, Teixeira MC. Saccharomyces boulardii: What Makes It Tick as Successful Probiotic? J Fungi (Basel). 2020 Jun 4;6(2):78. [6] Do VT, Baird BG, Kockler DR. Probiotics for maintaining remission of ulcerative colitis in adults. Ann Pharmacother. 2010;44:565-71. [7] Zocco MA, dal Verme LZ, Cremonini F, Piscaglia AC, Nista EC, Candelli M, et al. Efficacy of Lactobacillus GG in maintaining remission of ulcerative colitis. Aliment Pharmacol Ther. 2006;23:1567-74. [8] Goldstein EJC, Johnson SJ, Maziade PJ, Evans CT, Sniffen JC, Millette M, McFarland LV. Probiotics and prevention of Clostridium difficile infection. Anaerobe. 2017 Jun;45:114-9. [9] Szajewska H, Kołodziej M. Systematic review with meta-analysis: Lactobacillus rhamnosus GG in the prevention of antibiotic-associated diarrhoea in children and adults. Aliment Pharmacol Ther. 2015;42(10):1149-57. [10] Wilkins T, Sequoia J. Probiotics for Gastrointestinal Conditions: A Summary of the Evidence. Am Fam Physician. 2017;96(3):170-8. [11] Whelan K, Myers CE. Safety of probiotics in patients receiving nutritional support: a systematic review of case reports, randomized controlled trials, and nonrandomized trials. Am J Clin Nutr. 2010;91:687-703.

®2021 MP Grupo – MedPharma Publishers

O texto que está nesta publicação expressa a opinião dos autores que o escreveram e não reflete necessariamente a opinião do Laboratório Cellera Farmacêutica.

Material desenvolvido pelo Comitê Científico da Medpharma Publishers. MED75.

Material científico destinado exclusivamente à profissionais de saúde

LGG® vs. Lactobacillus acidophilus

Introdução

Probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, exercem efeitos benéficos sobre a saúde.1 Essa definição da Organização Mundial da Saúde foi ratificada pela Associação Científica Internacional de Probióticos e Prebióticos.2 Os principais aspectos estão resumidos na Figura 1.3

Figura 1. Aspectos da definição de um probiótico.

Adaptada de: Vinderola G, Arch Argent Pediatr; 20213

Os probióticos são atualmente utilizados em vários contextos para a manutenção da saúde e para o tratamento de diferentes doenças. Apesar desses avanços, é relevante ressaltar que nem todos os probióticos existentes cumprem o mesmo papel, mas, ao contrário, as cepas disponíveis apresentam especificidades em sua ação.4

O Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®) é provavelmente o probiótico mais avaliado em modelos experimentais e clínicos nas últimas décadas. O LGG® está associado a uma alta taxa de adesão aos enterócitos e à sua interação reconhecida com o sistema imunológico do hospedeiro.5

Comparação com o Lactobacillus acidophilus

Conceitos gerais

O L. acidophilus é um probiótico microaerofílico, produtor de diferentes bacteriocinas da classe IIa.6 Numerosos estudos com esse microrganismo estão relacionados ao seu uso em associação com outros probióticos, portanto suas ações individuais podem ser difíceis de serem avaliadas.7 Por exemplo, seu consumo em associação com o Bifidobacterium animalis ssp lactis (BB12) foi associado à diminuição da atividade da urease e, portanto, a efeitos sobre o Helicobacter pylori. Porém, de acordo com os resultados dos dados in vitro, é a cepa BB12 que parece ser a responsável por essa ação.7

Diarreia associada ao uso de antibióticos

Os antibióticos estão frequentemente associados à indução da síndrome diarreica aguda, pela redução da biodiversidade microbiana do trato digestivo, diminuindo o metabolismo da microbiota e aumentando a motilidade intestinal. O LGG® (4 x 108 a 12 x 1010 unidades formadoras de colônias) pode reduzir o risco dessa complicação, de acordo com uma revisão sistemática que incluiu 12 estudos randomizados e controlados com 1.499 pacientes. Esse benefício atingiu níveis estatisticamente significativos na população pediátrica e é mais proeminente quando a administração é indicada nos primeiros dois dias de uso de antibióticos.8 Não há dados de metanálises para tal indicação relacionada ao L. acidophilus.

Fibrose cística

A administração de LGG® em pacientes com fibrose cística parece modificar as magnitudes da inflamação intestinal e da dor abdominal. De acordo com os resultados de um estudo-piloto prospectivo,9 esse probiótico também pode reduzir as incidências de exacerbações pulmonares e internações hospitalares em pacientes pediátricos afetados. Embora haja evidências pré-clínicas que possam sugerir resultados semelhantes,10 não há informações clínicas sobre esse efeito em pacientes com fibrose cística tratados com L. acidophilus.

Cáries

Os probióticos têm sido associados a um efeito antagônico sobre o Streptococcus mutans e outros germes acidogênicos associados ao desenvolvimento de cáries. Contudo esses efeitos não parecem semelhantes para todos os probióticos. Enquanto o L. acidophilus reduziu a concentração salivar de S. mutans em um estudo clínico com 40 pacientes, tal ação foi verificada quando houve a combinação com o B. lactis BB-12. Em contraste, a administração de alimentos com LGG® em uma única cepa, por três semanas, a 105 crianças, foi associada a uma redução significativa na contagem de S. mutans na cavidade oral.11

Conclusões

Vários probióticos estão disponíveis atualmente; entretanto, suas atividades são específicas para cada cepa, o que explica a variabilidade de seus efeitos na saúde humana. A prescrição do LGG® acumulou experiência de décadas de uso, incluindo a decodificação de todo o seu genoma e evidências de ensaios clínicos sobre seu mecanismo de ação e seus efeitos terapêuticos. A escolha da cepa certa para cada paciente trará benefícios para manter a saúde e colaborar com a resolução ou a estabilização de diferentes condições.

Referências

[1] Dale HF, Rasmussen SH, Asiller OO, Lied GA. Probiotics in Irritable Bowel Syndrome: An Up-to-Date Systematic Review. Nutrients. 2019;11(9):2048. [2] Hill C, Guarner F, ReidG, Gibson GR, Merenstein DJ, Pot B, et al. Expert Consensus Document: The International Scientific Association for Probiotics and Prebiotics Consensus Statement on the Scope and Appropriate Use of the Term Probiotic. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2014;11(8):506-14. [3] Vinderola G, Pérez-Marc G. Alimentos Fermentados y Probióticos en Niños. La Importancia de Conocer sus Diferencias Microbiológicas. Arch Argent Pediatr. 2021;119(1):56-61. [4] Domingo JJS. Revisión del Papel de los Probióticos en la Patología Gastrointestinal del Adulto. Gastroenterol Hepatol. 2017;40(6):417-29. [5] Capurso L. Thirty Years of Lactobacillus rhamnosus GG. A Review. J Clin Gastroenterol. 2019;53:S1–S41. [6] Anjum N, Maqsood S, Masud T, Ahmad A, Sohail A, Momin A. Lactobacillus acidophilus: characterization of the species and application in food production. Crit Rev Food Sci Nutr. 2014;54(9):1241-51. [7] Cáceres Paola, Gotteland Martín. Alimentos probióticos en Chile: ¿qué cepas y qué propiedades saludables? Rev Chil Nutr. 2010;37(1):97-109. [8] National Institutes of Health (NIH). Probiotics. [Internet]. Bethesda, MD: NIH; 2020. Disponível em: https://bit.ly/3tPnBpl. Acesso em: março de 2021. [9] Bruzzese E, Raia V, Spagnuolo MI, Volpicelli M, De Marco G, Maiuri L, et al. Effect of Lactobacillus GG supplementation on pulmonary exacerbations inpatients with cystic fibrosis: a pilot study. Clin Nutr 2007;26(3):322-8. [10] Shoaib A, Xin L, Xin Y. Oral administration of Lactobacillus acidophilus alleviates exacerbations in Pseudomonas aeruginosa and Staphylococcus aureus pulmonary infections. Pak J Pharm Sci. 2019;32(4):1621-30. [11] Cagetti MG, Mastroberardino S, Milia E, Cocco F, Lingström P, Campus G. The use of probiotic strains in caries prevention: a systematic review. Nutrients. 2013;5(7):2530-50.

®2021 MP Grupo – MedPharma Publishers O texto que está nesta publicação expressa a opinião dos autores que o escreveram e não reflete necessariamente a opinião do Laboratório Cellera Farmacêutica. Material desenvolvido pelo Comitê Científico da Medpharma Publishers. MED75. Material científico destinado exclusivamente à profissionais de saúde

LGG® vs. Lactobacillus helveticus e Bifidobacterium longum

Introdução

Probióticos são microrganismos vivos, bactérias ou fungos, que proporcionam benefícios à saúde do organismo hospedeiro quando administrados nas quantidades adequadas.1-2

Esses agentes diferem dos germes patogênicos por seu papel colaborativo com a fisiologia normal do organismo receptor, inclusive em relação aos metabolismos de nutrientes e fármacos, bem como às diferentes condições patológicas.3-4

Embora o papel dos probióticos na saúde e na doença seja cada vez mais documentado, é de fundamental importância apontar as diferenças existentes entre as diversas cepas, uma vez que seus efeitos e ações biológicas não podem ser extrapolados de um microrganismo para outro.5-6

Dentre esses agentes, destaca-se o Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®), genotipado em sua totalidade e para o qual estão disponíveis décadas de experiência pré-clínica e estudos clínicos em diversos contextos.7

Figura 1. Aspectos importantes da administração de LGG®.

O Lactobacillus helveticus e o Bifidobacterium longum são duas cepas de probióticos comumente administrados em combinação. Essa associação de microrganismos tem sido avaliada em diferentes modelos, principalmente aqueles experimentais.8,9

Sistema nervoso central

Os probióticos podem induzir alterações no perfil de citocinas5,9 embora essas modificações, em nível molecular, não possam ser extrapoladas diretamente para os resultados clínicos. Foi demonstrado, em modelos com animais submetidos ao estresse, que a administração de Lactobacillus helveticus e Bifidobacterium longum aumenta os níveis de citocinas anti-inflamatórias, ainda que tais variações no perfil de resposta de citocinas não pareçam modificar a resposta ao estresse.9 Esses resultados coincidem com um estudo clínico do qual participaram 79 pacientes com transtornos do humor que não faziam uso de medicação psicotrópica. Para esses indivíduos, a administração de L. helveticus + B. longum não modificou os resultados de testes validados, como a Escala de Avaliação de Depressão de Montgomery-Åsberg, em comparação com o relatado para o placebo.10

Em relação ao LGG®, em um estudo-piloto, randomizado e controlado por placebo, sua administração foi associada a diferenças estatisticamente significativas no perfil de citocinas, aos três meses de tratamento, em pacientes com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, incluindo interleucinas 6 e 12 e fator de necrose tumoral alfa. Essas modificações nos neurotransmissores e citocinas foram observadas no contexto de uma melhoria na qualidade de vida dos participantes.11

Síndrome diarreica aguda

Com base nos resultados de pelo menos dois estudos controlados de desenho metodológico adequado, a European Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition indicou que a evidência era apropriada para indicar o LGG® (≥ 1010 unidades formadoras de colônias diariamente por cinco a sete dias) como um adjuvante à reidratação para o tratamento de diarreia infecciosa aguda em pacientes pediátricos.12 Não há estudos sobre tais características para a associação de L. helveticus + B. longum.

Prevenção da diarreia nosocomial

Com base na evidência obtida a partir de uma metanálise de estudos clínicos, a administração de LGG® (em duas doses diárias de 1010 a 1011 unidades formadoras de colônias) pode ser usada para prevenir diarreia hospitalar. Não há evidências de características semelhantes para a combinação de L. helveticus + B. longum.13

Conclusões

Existem evidências experimentais e clínicas obtidas a partir de diretrizes de prática clínica em relação à segurança e à eficácia do LGG® como um probiótico de indicação em vários contextos de saúde e doença. Com base no conhecimento atual, as propriedades e os benefícios obtidos com um probiótico não podem ser extrapolados diretamente para outros produtos, portanto, a escolha deve ser adequadamente baseada nas melhores informações científicas atualizadas.

Referências

[1] Dale HF, Rasmussen SH, Asiller OO, Lied GA. Probiotics in Irritable Bowel Syndrome: An Up-to-Date Systematic Review. Nutrients. 2019;11:2048.

[2] Hill C, Guarner F, ReidG, Gibson GR, Merenstein DJ, Pot B, et al. Expert Consensus Document: The International Scientific Association for Probiotics and Prebiotics Consensus Statement on the Scope and Appropriate Use of the Term Probiotic. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2014;11(8):506-14. [3] Singh VP, Sharma J, Babu S, Rizwanulla, Singla A. Role of probiotics in health and disease: A review. J Pak Med Assoc. 2013;63(2):253-7. [4] Jandhyala SM, Talukdar R, Subramanyam C, Vuyyuru H, Sasikala M, Nageshwar Reddy D. Role of the normal gut microbiota. World J Gastroenterol. 2015;21(29):8787-803. [5] Domingo JJS. Revisión del Papel de los Probióticos en la Patología Gastrointestinal del Adulto. Gastroenterol Hepatol. 2017;40(6):417-29. [6] Cáceres P, Gotteland M. Alimentos probióticos en Chile: ¿qué cepas y qué propiedades saludables? Rev Chil Nutr. 2010;37(1):97-109. [7] Capurso L. Thirty Years of Lactobacillus rhamnosus GG. A Review. J Clin Gastroenterol. 2019;53:S1–S41. [8] Aguilera-Carreras J. Probióticos. Rev Gastroenterol Mex. 2011;76(S1):53-6. [9] Partrick KA, Rosenhauer AM, Auger J, Arnold AR, Ronczkowski NM, Jackson LM, et al. Ingestion of probiotic (Lactobacillus helveticus and Bifidobacterium longum) alters intestinal microbial structure and behavioral expression following social defeat stress. Sci Rep. 2021;11(1):3763. [10] Romijn AR, Rucklidge JJ, Kuijer RG, Frampton C. A double-blind, randomized, placebo-controlled trial of Lactobacillus helveticus and Bifidobacterium longum for the symptoms of depression. Aust N Z J Psychiatry. 2017;51(8):810-21. [11] Kumperscak HG, Gricar A, Ülen I, Micetic-Turk D. A Pilot Randomized Control Trial with the Probiotic Strain Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®) in ADHD: Children and Adolescents Report Better Health-Related Quality of Life. Front Psychiatry. 2020;11:181. [12] National Institutes of Health (NIH). Probiotics. [Internet]. Bethesda, MD: NIH; 2020. Disponível em: https://ods.od.nih.gov/factsheets/Probiotics-HealthProfessional/. Acesso em: março de 2021. [13] World Gastroenterology Organisation (WGO); Global Guidelines and Cacades. Probióticos e prebióticos. [Internet}. Milwaukee, WI: WGO; 2017. Disponível em: https://www.worldgastroenterology.org/guidelines/global-guidelines/probiotics-and-prebiotics/probiotics-and-prebiotics-portuguese. Acesso em: março de 2021.

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Distúrbios oportunistas e Tratamento

No período de verão e de recesso das atividades da rotina, no final de ano, é comum a adoção de hábitos que não vislubrem a promoção da qualidade de vida. O desbalanço alimentar é uma característica no contexto de quebra do cotidiano, acarretando consequências diretas à saúde da população. O consumo exagerado de bebidas alcoólicas e de alimentos ultraprocessados pode ser um fator desencadeador de doenças oportunistas, como a intoxicação alimentar e as diarreias infecciosas.1,2,3

A variedade cada vez maior de patógenos entéricos reconhecidos aumenta a necessidade de diretrizes clínicas com base nas melhores evidências atualmente disponíveis. A reposição e manutenção adequadas de fluidos e eletrólitos são essenciais para o gerenciamento de doenças diarreicas. Os riscos mais comuns desses distúrbios são a desidratação e, nos países em desenvolvimento, a desnutrição. Assim, o tratamento inicial crítico deve incluir a reidratação, contendo solução eletrolítica na grande maioria dos casos. A terapia de reidratação oral tem se mostrado amplamente aplicável em todo o mundo. 4

A avaliação clínica e epidemiológica completa deve definir a gravidade e o tipo de doença (por exemplo, febril, hemorrágica, persistente ou inflamatória), exposições (por exemplo, viagens, ingestão de carne crua ou mal cozida, frutos do mar ou produtos lácteos, contatos com outros doentes ou uso recente de antibióticos) e se o paciente é imunocomprometido, a fim de direcionar o desempenho de culturas diagnósticas seletivas, testes de toxinas, estudos de parasitas e eventualmente a administração de terapia antimicrobiana.4

Para a aplicação de métodos diagnósticos que identifiquem infecções entéricas com necessidade de terapia específica, as recomendações de saúde devem ser claras. Elas abordam o seguinte: reidratação oral, conforme já citado, avaliação clínica e epidemiológica, realização de estudos fecais seletivos, administração de terapia antimicrobiana seletiva, antidiarreicos contraindicados e imunizações disponíveis. Essas diretrizes continuarão a evoluir à medida que uma melhor compreensão da patogênese e do desenvolvimento e o uso de testes rápidos e baratos melhorem o diagnóstico e o tratamento de diarreicas infecciosas.4

A diarreia é uma das principais causas de morte nos países tropicais. Estudos epidemiológicos indicaram seus diferentes padrões sazonais, e o período de recesso de final de ano é apontado como a época em que os índices dessa distúrbios crescem vertiginosamente.6,7

Em um cenário de quebra das atividades da rotina, a prevenção de distúrbios infecciosos também perpassa pela educação do paciente. Muitas doenças diarreicas podem ser evitadas seguindo regras simples de higiene pessoal e preparação segura dos alimentos. A diligência no seguimento de uma dieta saudável, com consumo moderado de alimentos ultraprocessados e álcool, atua na promoção e na prevenção da saúde, com foco no fortalecimento do sistema imunológico. Reitera-se que alcoólatras e pessoas com doença hepática crônica apresentam risco aumentado de infecções.4

A mudança na dieta e no ambiente, comum nos recessos e feriados, é um claro exemplo de causa dos quadros clínicos de disbiose. A diarreia do viajante afeta de 20% a 50% dos viajantes para destinos tropicais e subtropicais. Os enteropatógenos bacterianos causam aproximadamente 80% da diarreia do viajante, cuja fonte é predominantemente comida contaminada. Nesse sentido, uma das opções de tratamento, além da reidratação e da retomada dos hábitos alimentares saudáveis, é a administração de probióticos, como forma de redução da incidência deste distúrbio.5

Os probióticos, que são microrganismos vivos que quando administrados em quantidades apropriadas oferecem benefícios à saúde, têm um papel fundamental no restabelecimento da microbiota intestinal em episódios de diarreia. 8

Entre os probióticos, o mais estudado é o Lactobacillus GG (LGG®), que conta com mais de 35 anos de pesquisa e mais de 3500 estudos publicados.9,10

O uso do LGG® tem o papel de equilibrar a flora intestinal e contribuir para a manutenção da saúde digestiva.9

É fundamental que, durante a temporada de férias, se procure garantir a melhor nutrição ao organismo, com foco na promoção e prevenção da saúde.6,7

Referências

1 – Pierre de Truchis, Anne de Truchis. Acute infectious diarrhea. Presse Medicale. 2007 Apr; 36 (4 Pt 2): 695-705.

2 – Federação Brasileira de Gastroenterologia. O Que é Má Digestão? Disponível em: http://fbg.org.br/Publicacoes/noticia/detalhe/1261./ Acesso em: 03 dez. 2020.

3 – Aparna Lal, Simon Hales, Nigel French, Michael G Baker. Seasonality in human zoonotic enteric diseases: a systematic review. PLoS One. 2012; 7(4): e31883.

4 – Richard L. Guerrant, Thomas Van Gilder, Ted S. Steiner, Nathan M. Thielman, Laurence Slutsker, Robert V. Tauxe, Thomas Hennessy, Patricia M. Griffin. Practice Guidelines for the Management of Infectious Diarrhea. Clinical Infectious Diseases, Volume 32, Issue 3, 1 February 2001, Pages 331–351.

5 – Oksanen PJ, Salminen S, Saxelin M, Hämäläinen P, Ihantola-Vormisto A, Muurasniemi-Isoviita L, et al. Prevention of travellers’ diarrhoea by Lactobacillus GG. Ann Med. 1990; 22(1): 53-6.

6 – Ministério da Saúde. Guia Alimentar para a População Brasileira. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf/. Acesso em: 03 dez. 2020.

7 – R. L. Guerrant, L. V. Kirchhoff, D. S. Shields, M. K. Nations, K. E. McClelland. Prospective Study of Diarrheal Illnesses in Northeastern Brazil: Patterns of Disease, Nutritional Impact, Etiologies, and Risk Factors. The Journal of Infectious Diseases, Volume 148, Issue 6, December 1983, Pages 986–997.

8- Organização Mundial da Saúde –OMS-  Food and Agriculture Organization and World Health Organization Expert Consultation – “Health and Nutrition Properties of Probiotics”. Disponível em http://www.fao.org/3/a-a0512e.pdf acesso em 14-Dez-2020)

9- Capurso L. Thirty Years of Lactobacillus rhamnosus GG. A Review. J Clin Gastroenterol 2019;53:S1–S4.

10- Pubmed disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/?term=lactobacillus+rhamnosus+gg&sort=date acesso em 14-Dez-2020 (Based on the number of Lactobacillus rhamnosus GG clinical studies, as of Dec-2020)

Hábitos alimentares e distúrbios oportunistas na criança

O período de recesso de final de ano traz um novo quadro de risco à população pediátrica, em especial após um ano atípico caracterizado pela pandemia do Sars-CoV-2. Novas medidas fazem parte da rotina de todos, inclusive crianças, como o cumprimento de protocolos sanitários de distanciamento social, o uso de máscaras e o reforço de normas de higiene pessoal. Nesse contexto, as férias escolares promovem a flexibilização desses novos comportamentos, assim como interferem nos hábitos alimentares das crianças: a quebra da rotina tende a estimular o consumo exagerado de alimentos não saudáveis.1

A Sociedade Brasileira de Pediatria ressalta que o período da vida entre a gestação e os dois anos de idade da criança (primeiros 1000 dias) é crítico para a promoção do crescimento e do desenvolvimento do indivíduo devido à acentuada velocidade de multiplicação celular. É consenso que o aleitamento materno é a base da alimentação nesse período inicial, devendo ser oferecida de forma exclusiva nos primeiros seis meses de vida e mantida pelo menos até o segundo ano ou mais, sempre que possível.1

A introdução dos alimentos complementares, para os lactentes, deve conter cereais ou tubérculos, proteína vegetal ou leguminosas, proteína animal, hortaliças e não conter adição de sal. Assim, a nutrição adequada na infância é fundamental para o desenvolvimento completo, com o melhor estabelecimento dos sistemas nervoso, digestivo e imunológico.1

Nesse sentido, cabe aos pais ou responsáveis estarem atentos ao cumprimento dos hábitos alimentares saudáveis por parte das crianças no período de descanso das aulas. A dieta desbalanceada prejudica a manutenção do sistema imunológico e fornece margem para o desenvolvimento de doenças oportunistas, como as infecções gastrointestinais, virais e bacterianas. As intoxicações alimentares são comuns em momentos de quebra da rotina como as festas de final de ano ou viagens, e a diarreia infecciosa aguda é o distúrbio gastroenterológico mais frequente na idade pediátrica.2,3,4

A diarreia infecciosa aguda em crianças possui índices de prevalência consideráveis tanto em países de alta como de baixa renda, ela é a principal causa de desidratação na infância. A taxa de mortalidade, contudo, é maior em países em desenvolvimento: a estimativa é de que a diarreia aguda provoque dois milhões de mortes ao ano em crianças menores de 5 anos.5

Estudos realizados em países tropicais indicam que, durante o verão, as infecções diarreicas aumentam. O distúrbio segue um aspecto de sazonalidade. Por exemplo, os resultados clínicos mostram que episódios diarreicos aumentam em até oito vezes em bebês durante o verão. Além disso, o estado nutricional das crianças foi significativamente associado à incidência de diarreia.6

Além da responsabilidade dos pais e responsáveis quanto à garantia de todos os cuidados preventivos durante o período de verão e de recesso escolar, reitera-se a necessidade e a importância de que toda criança seja acompanhada pelo pediatra de modo sistemático. Aquelas que manifestam dificuldades alimentares ou estejam sendo submetidas à dieta vegetariana ou de outros tipos restritivos, por preferências familiares, necessitam ser acompanhadas pelo pediatra de modo ainda mais frequente para sua segurança.1

Referências

1 – Sociedade Brasileira de Pediatria. Posição da Sociedade Brasileira de Pediatria diante do Guia de Alimentação do Ministério da Saúde. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/ALIMENTACAO_COMPLEMENTAR_MS.pdf./ Acesso em: 03 dez. 2020.

2 – Fewtrell M; Bronsky J, Campoy C, Domello M, Embleton N, Hojsak et al. Complementary Feeding: A Position Paper by the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) Committee on Nutrition. JPGN 2017; 64: 119–132.

3 – Agostini C, Domellöf M. Infant Formulae: from ESPGAN recommendations towards ESPGHAN-coordinated Global Standards. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2005; 41: 580-3.

4 – Kleinman RE, Greer F. Pediatric Nutrition Handbook. 7th ed., ed. Elk Grove, Village, IL: American Academy of Pediatrics; 2014.

5 – Nedeljko Radlović, Zoran Leković, Biljana Vuletić, Vladimir Radlović, Dušica Simić. Acute Diarrhea in Children. Srp Arh Celok Lek. Nov-Dec 2015; 143 (11-12): 755-62.

6 – William Checkley, Robert H Gilman, Robert E Black, Andres G Lescano, Lilia Cabrera, David N Taylor, Lawrence H Moulton. Effects of nutritional status on diarrhea in Peruvian children. J Pediatrics. 2002 Feb; 140 (2): 210-8.

Hábitos alimentares e distúrbios oportunistas no adulto

O recesso de final de ano modifica as atividades do cotidiano, rotina profissional, hábitos alimentares, entre outros. Durante o verão, a intoxicação alimentar é um problema de saúde comum e majoritariamente causado pela ingestão de água ou de alimentos contaminados por toxinas ou parasitas, como fungos, vírus e bactérias.1,2

Ao ingerir um alimento ou líquido contaminado, o paciente desenvolve inúmeros sintomas desconfortantes, que podem passar por náuseas, vômitos, febres e mal-estar, chegando em alguns casos até a desenvolver quadros mais graves, como a diarreia aguda infecciosa.1,2

A mudança na rotina está associada ao contexto de festas e viagens de final de ano e, assim, também tem relação direta com a adoção de uma dieta não composta pelas normas alimentares do dia a dia. Esta nova dieta geralmente contém alimentos processados e ultraprocessados, com grande quantidade de sal, açúcar e gorduras, além da ingestão, muitas vezes sem moderação, de bebidas alcoólicas.1,2,3

Nesse sentido, principalmente na época de recesso de final ano, é importante estar sempre atento à procedência daquilo que se ingere, evitando consumir alimentos crus, mal passados e verduras mal lavadas. Da mesma forma, é relevante que se procure manter hábitos alimentares saudáveis, com a ingestão de alimentos que garantam melhor nutrição ao organismo e, consequentemente, mais qualidade de vida.3

O desbalanço alimentar pode ser um fator prejudicial à manutenção do sistema imunológico. Nesse sentido, ele cria um ambiente propício ao acometimento de infecções comuns no período de verão. A diarreia infecciosa aguda tem várias causas: diarreia bacteriana com mecanismos invasivos ou toxigênicos, especialmente frequente em regiões quentes e em viajantes; diarreias virais, frequentes em crianças, mas também em adultos; e diarreia parasitária, menos frequente e geralmente estabelecida em áreas subtropicais. As principais preocupações envolvem o risco de complicações, essencialmente desidratação e desnutrição, sobretudo em pacientes vulneráveis, como idosos e indivíduos com imunossupressão para os quais a reidratação é urgente.4

O diagnóstico de diarreia requer avaliação clínica e histórico do paciente: análise de doenças subjacentes, gravidade dos sinais e sintomas, presença e extensão da desidratação e outros sintomas clínicos, bem como o histórico de viagens, hábitos alimentares e eventuais mudanças na rotina.4

As viagens no recesso de final de ano implicam a adaptação do indivíduo a um novo contexto, destacando as variações regionais. Essas mudanças abrangem as complexas interações ambiente-patógeno-hospedeiro, para os casos de doenças adquiridas a partir deste cenário.

Ensaios clínicos indicam que as influências ambientais e a dinâmica da população hospedeira, junto com a variabilidade climática, podem ter consequências diretas e indiretas importantes para o risco de infecção por doenças entéricas. A sazonalidade é uma característica definidora de muitas doenças infecciosas.4

Revisões sistemáticas de estudos anteriores exploraram os padrões globais de variação sazonal em doenças gastrointestinais. Ainda que muitos dados e informações já indiquem um padrão conforme a sazonalidade e hábitos de cada local, futuros estudos experimentais e observacionais devem considerar como os fatores ambientais (infecção, calor, poluição do ar etc.) ou outros gatilhos (hábitos alimentares, consumo de álcool, mudanças na rotina) promovem ou impedem tais doenças.5

Referências

1 – Pierre de Truchis, Anne de Truchis. Acute infectious diarrhea. Presse Medicale. 2007 Apr; 36 (4 Pt 2): 695-705.

2 – Federação Brasileira de Gastroenterologia. O Que é Má Digestão? Disponível em: http://fbg.org.br/Publicacoes/noticia/detalhe/1261./ Acesso em: 03 dez. 2020.

3 – Ministério da Saúde. Guia Alimentar para a População Brasileira. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf/. Acesso em: 03 dez. 2020.

4 – Aparna Lal, Simon Hales, Nigel French, Michael G Baker. Seasonality in human zoonotic enteric diseases: a systematic review. PLoS One. 2012; 7(4): e31883.

5 – A Fares. Global patterns of seasonal variation in gastrointestinal diseases. J Postgrad Medicine. Jul-Sep 2013; 59 (3): 203-7.

Principais Problemas Decorrentes do Desequilíbrio da Microbiota Intestinal na saúde do adulto

Importância da Microbiota Intestinal

A microbiota intestinal constitui a maior comunidade de microrganismos associada ao corpo humano, com um papel preponderante na homeostasia do organismo, e cuja modificação, pela redução da diversidade e/ou pela alteração da proporção de elementos específicos, parece estar associada a várias patologias.1

Um importante papel da microbiota intestinal relacionado com a manutenção do hospedeiro é a sua contribuição para o desenvolvimento de um sistema imune mais robusto e equipado com um leque de células e moléculas, que permitem maior capacidade para combater patógenos microbianos. Vários dados têm confirmado que a microbiota intestinal está envolvida em uma interação dinâmica com o sistema imune – inato e adaptativo – que afeta diferentes aspectos do seu desenvolvimento e função.2

Fatores que alteram a composição da microbiota intestinal

Existem vários fatores que influenciam a composição da microbiota intestinal. O desequilíbrio desta composição é chamado de disbiose. Dentre eles, podem-se indicar: a diarreia, que pode ser tanto causa como consequência da alteração da microbiota; o uso de antibióticos; a dieta alimentar inadequada; o consumo de bebidas alcoólicas; o fumo; o uso de agrotóxicos e metais pesados na agricultura que acabam contaminando alimentos e água que se bebe; o estresse pelo trabalho e algumas doenças crônicas, a saber: diabetes e doenças inflamatórias intestinais.3

É fundamental entender que, se houver uma supressão da microbiota normal, cria-se um local parcialmente vazio que tende a ser preenchido por microrganismos provenientes do ambiente ou de outras partes do corpo. Estes microrganismos comportam-se como oportunistas e podem tornar-se patógenos.4

Exemplos de intercorrências resultantes da disbiose

A presença da microbiota intestinal é importante quanto à resistência ou à suscetibilidade a uma série de doenças inflamatórias, dentre elas, a doença inflamatória intestinal. Da mesma forma, o balanço da microbiota pode estar relacionado a uma gama de doenças metabólicas, como obesidade e diabetes tipo II. Doenças cardíacas, neurológicas e dermatológicas – como a dermatite atópica – também podem apresentar relação com o balanço da microbiota do trato gastrointestinal. O estresse oxidativo, a indução de bacteriófagos e a secreção de toxinas bacterianas podem desencadear mudanças rápidas entre os grupos microbianos intestinais, resultando em disbiose.8

A diarreia infecciosa é a intercorrência mais usual em questões de desordens gastrointestinais. As espondiloartrites, por exemplo, representam um conjunto de doenças inflamatórias crônicas em que a ação de fatores ambientais – incluindo a microbiota – em indivíduos com determinada suscetibilidade genética será determinante para o seu desencadeamento e progressão ao longo do tempo.1,5,6,7

Especificamente sobre as diarreias, elas podem estar associadas a diversos fatores do ambiente, podem ser adquiridas a partir da ingestão de alimentos ou água contaminados com enteropatógenos bacterianos, por exemplo, causando a disbiose. A diarreia do viajante, cuja fonte é predominantemente comida contaminada, caracteriza-se por ser costumeiramente diagnosticada em pessoas que viajam para locais com tratamento de água deficiente. Ela afeta 20% a 50% dos viajantes que se deslocam para destinos tropicais e subtropicais. Náusea, vômito, cólica abdominal podem ocorrer com diferentes graus de severidade. As diarreias associadas a antibióticos, por sua vez, são relativas ao uso demasiado de medicamentos antibióticos, o que altera a composição microbiana do trato gastrointestinal. Uma complicação mais grave das diarreias associadas a antibióticos é a colite pseudomembranosa. 11, 12, 13

As doenças autoimunes têm sido foco no que se refere aos esforços, por parte da comunidade científica, para esclarecer o papel da microbiota no desenvolvimento dessas enfermidades. Estudos descrevem as perturbações da microbiota intestinal em modelos animais de doenças autoimunes, como diabetes tipo 1, esclerose múltipla, artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico. 9, 10

Recentemente, o aparecimento de diabetes tipo 1 aumentou rapidamente e se tornou um grande problema de saúde pública em todo o mundo. Vários fatores estão associados ao desenvolvimento de diabetes tipo 1, como dieta, genoma e microbiota intestinal. Evidências mostram que a composição bacteriana intestinal alterada (disbiose) está altamente associada à patogênese da disfunção da insulina, hormônio responsável pela captação de glicose do sangue para as células, e diabetes tipo 1. 9, 10

Bibliografia

  1. MOTA, Inês Barreiros; FARIA, Ana; PIMENTEL-SANTOS, Fernando M.; CALHAU, Conceição. Microbiota intestinal e espondiloartrites: o papel da dieta na terapêutica.
  2. PURCHIARONI, A. F. et al. The role of intestinal microbiota and the immune system. Eur Rev Med Sci Pharmacol, v.17, n.3, p. 323-333, 2013.
  3. CHISSOCA, Antônio Ribeiro Chissululo. Influência da microbiota intestinal nas propriedades imunológicas de uma vacina recombinante. Antônio Ribeiro Chissululo Chissoca; orientador, Prof. Dr. Oscar Bruna Romero – Florianópolis, SC, 2016. 105 p.
  4. GIBSON, G. R.; ROBERFROID, M. B. Dietary modulation of the human colonic microbiota: introducing the concepts of prebiotics. Journal Nutrition, Bethesda, v. 125, n. 6, p. 1401-1412, 1995.
  5. DIBAISE, J.K. et al. Gut Microbiota and Its Possible Relationship with Obesity. Mayo Clin Proc, v. 83, n.4, p.460-469, 2012.
  6. ZHANG, Husen et al. Probiotics and virulent human rotavirus modulate the transplanted human gut microbiota in gnotobiotic pigs. Gut Pathog, v. 6, n. 1, p.1-7, set. 2014.
  7. DE VRESE, P.R.; MARTEAU. Probiotics and prebiotics: effects on diarrhea, J. Nutritional. v. 137, n.3, p. 8035 – 8115, 2007.
  8. WEISS, G Adrienne; HENNET, Thierry. Mechanisms and consequences of intestinal dysbiosis. 2017 Aug; 74(16): 2959-2977.
  9. OLIVEIRA, Gislane Lelis Vilela de; LEITE, Aline Zazeri; HIGUCHI,Bruna Stevanato; GONZAGA, Marina Ignácio; MARIANO, Vânia Sammartino. Disbiose intestinal e aplicações de probióticos em doenças autoimunes. Setembro de 2017; 152 (1): 1-12.
  10. Hui HanYuying Li; Jun Fang; Gang Liu; Jie Yin; Tiejun Li; Yulong Yin. Microbiota intestinal e diabetes tipo 1. 27 de março de 2018; 19 (4): 995.
  11. Oksanen PJ, Salminen S, Saxelin M, Hämäläinen P, Ihantola-Vormisto A, Muurasniemi-Isoviita L, et al. Prevention of travellers’ diarrhoea by Lactobacillus GG. Ann Med. 1990; 22 (1): 53-6.
  12. Hilton E, Kolakowski P, Singer C, Smith M. Efficacy of lactobacillus GG as a diarrheal preventive in travelers. J Travel Med. 1997; 4(1): 41-43.
  13. Guarner F, Khan AG, Garisch J, Eliakim R, Gangl A, Thomson A, et al. World Gastroenterology Organisation Global Guidelines: probiotics and prebiotics October 2011. J Clin Gastroenterol. 2012; 46 (6): 468-81.

Principais Problemas Decorrentes do Desequilíbrio da Microbiota Intestinal na saúde da criança

A microbiota, sua formação, variações e alterações

A microbiota humana é o conjunto de microrganismos que habitam as superfícies externas e internas do nosso corpo, tais como pele, mucosa oral e respiratória, ou o trato gastrointestinal (TGI) e geniturinário (TGU). Este conjunto de microrganismos é adquirido pelos recém-nascidos inicialmente no momento do parto. Entre os 18 e 24 meses se torna já semelhante à microbiota de um adulto. Uma das principais funções dessa microbiota é a estimulação do sistema imune, tornando-o apto a desenvolver suas funções de homeostase e defesa, através do amplo leque de células e moléculas que o compõe.1

Existem evidências de que variações na microbiota intestinal podem causar alterações no sistema imunológico, podendo constituir um ambiente que modula de forma negativa ou positiva a indução de uma resposta imune eficaz. O desequilíbrio da microbiota (disbiose) pode provocar não só dano tecidual, mas também anergia imune (a anergia é a inativação funcional das células linfocitárias do tipo T), inflamação intestinal crônica que, caso persistam, podem comprometer a resposta do hospedeiro aos antígenos.1

Microbiota materna e neonatal

A colonização inicial da microbiota humana se inicia ainda no período pré-natal, intraútero. Estudos recentes indicam a presença de microrganismos no líquido amniótico, membranas fetais, cordão umbilical, placenta e mecônio. Mas a sua consolidação se faz principalmente durante o nascimento, sobretudo através do parto normal, pela passagem do feto no canal vaginal e, também, por sua proximidade com as porções finais do sistema digestório materno.2,3,4,5.

De maneira geral, o impacto da saúde materna na microbiota neonatal ao nascimento ainda é um campo aberto para estudos. Segundo pesquisas, existe uma possível relação entre a disbiose da microbiota materna e neonatal com o diagnóstico de diabetes mellitus gestacional (DMG).  Estima-se que essa associação traga riscos potenciais de mudança microbiana para os neonatos.2

A diabetes mellitus gestacional (DMG) pode alterar a microbiota de mulheres grávidas e neonatos ao nascimento, o que claramente indica sobre outra forma de herança e destaca a importância de compreender a formação da microbiota no início da vida.2

Disbiose e impactos na saúde infantil

Em crianças, a regulação e o balanço da microbiota intestinal têm impactos tanto em funções gastrintestinais como na saúde imunológica. O equilíbrio garante a execução adequada de funções digestórias e a formação das defesas naturais, prevenindo portanto, doenças comuns na infância. A disbiose, então, tem relação clara com doenças infecciosas na infância. As diarreias e as infecções das vias aéreas superiores são exemplos comuns.3

A doença diarreica aguda (DDA) continua sendo a maior causa de mortalidade na infância no mundo inteiro. Sendo, na maioria das vezes, de caráter infeccioso (vírus, bactérias e parasitas), a DDA tem como base fisiopatológica a geração de processo inflamatório que culmina com alterações absortivas e que determina diarreia (três ou mais episódios em 24 horas), geralmente líquida, com ou sem febre e vômito.4

Muitas crianças, no mundo inteiro, sofrem com infecções das vias aéreas superiores (IVAS) a cada ano, sobretudo aquelas que estão em idade pré-escolar, quando o sistema imunológico ainda se encontra em desenvolvimento, principalmente se estiverem institucionalizadas, em creches ou berçários.5

Considerando crianças que apresentem infecções tanto do sistema digestório quanto do respiratório, é recomendada a adoção de um tratamento que vise restabelecer a composição e o equilíbrio da microbiota intestinal.6,7

Bibliografia

  1. CHISSOCA, Antônio Ribeiro Chissululo. Influência da microbiota intestinal nas propriedades imunológicas de uma vacina recombinante. Antônio Ribeiro Chissululo Chissoca; orientador, Prof. Dr. Oscar Bruna Romero – Florianópolis, SC, 2016. 105.
  2. WANG, Jingeng; ZHENG, Jiayong; SHI, Wenyu; DU, Nan; ZHANG, Yanming; JI, Peifeng; ZHANG, Fengyi; JIA, Zhen; WANG, Sim; ZHENG, Zhi; ZHANG; Hongping; ZHAO, Fangqing. Disbiose da microbiota materna e neonatal associada ao diabetes mellitus gestacional. Setembro de 2018; 67 (9): 1614-1625.
  3. TANAKA, M; NAKAYAMA, J. Development of the gut microbiota in infancy and its impact on health in later life. Allergol Int.

2017; 66(4): 515-22.

  1. NEISH, AS; DENNING, TL. Advances in understanding the interaction between the gut microbiota and adaptive mucosal immune responses. F1000. Biol Rep. 2010; 2:27.
  2. DOMINGUEZ-BELLO, MG; DE JESUS, Laboy KM; SHEN, N; COX, LM; AMIR, A; GONZALEZ, A. et al. Partial restoration of the microbiota of cesarean-born infants via vaginal microbial transfer. Nat Med. 2016; 22(3): 250-3.
  3. SEGERS, ME; LEBEER, S. Towards a better understanding of Lactobacillus rhamnosus GG – host interactions. Microb Cell Fact. 2014; 13 Suppl. 1: S7.
  4. ISOLAURI, E; JUNTUMEN, M; RAUTANEN, T; KOUVULA, T. A human Lactobacillus strain (Lactobacillus casei sp strain GG) promotes recovery from acute diarrhea in children. Pediatrics. 1991; 88(1): 90-7.
  5. HATAKKA, K; SAVILAHTI, E, MEURMAN, JH; POUSSA, T et al. Effect of long term consumption of probiotic milk on infections in children attending day care centres: Double blind, randomised trial. BMJ. 2001; 322(7298): 1327.
  6. HOJSAK, I; SNOVAK, N; ABDOVIC, S; SZAJEWSKA, H; MISAK, Z; KOLACEK, S. Lactobacillus GG in the prevention of gastrointestinal and respiratory tract infections in children who attend day care centers: a randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Clin Nutr. 2010; 29(3): 312-6.

A importância da microbiota na saúde da criança

A importância da microbiota na saúde infantil.

A comunidade microbiana intestinal é estabelecida tanto durante o período neonatal como no início da infância. No momento do nascimento, os microrganismos colonizam o tubo gastrointestinal do bebê, e entre os 18 e 24 meses de vida a microbiota da criança já se torna semelhante à de um adulto. Os recém-nascidos de parto normal, por sua vez, possuem uma microbiota semelhante à da mãe. Esse quadro se dá, sobretudo, devido à passagem do feto pelo canal vaginal. Recém-nascidos de cesariana não possuem essa mesma oportunidade de colonização, portanto, as probabilidades para desregulações e alergias podem ser maiores para estas crianças no futuro. 3-4

Mas, afinal, o que é microbiota?

O organismo é colonizado por milhões de bactérias distribuídas em centenas de espécies não patogênicas, com grande influência para a saúde. O intestino é o principal órgão de colonização destas bactérias; neste ambiente específico se forma a microbiota intestinal. Ela atua em diversas frentes e com diferentes funções: auxilia o metabolismo de fibras e toxinas, age no suporte às demandas de outros sistemas – como o imunológico, o nervoso e o próprio digestório – exercendo papel essencial na proteção de doenças. 4

O microbioma, por sua vez, é definido como o conjunto de micro-organismos e genes que colonizam todo um meio natural. O microbioma humano, por exemplo, diz respeito aos micro-organismos presentes em todo o corpo, para além do trato gastrointestinal, abrangendo também pele, cabelo, vias aéreas, trato urogenital e alguns órgãos e sistemas. 4

Como é a sua formação?

Antes mesmo do nascimento, caso o feto esteja em perfeitas condições de desenvolvimento (como dieta e temperatura adequadas, ambiente livre de patógenos e apresente tolerância imunológica) é possível identificar a presença de micro-organismos através da colonização do trato gastrointestinal. Ela ocorre, segundo alguns estudos recentes, quando o feto realiza a deglutição do líquido amniótico ainda intraútero. Neste momento, então, pode-se afirmar que a microbiota intestinal teve o seu início. 4-5

Após o nascimento, outros micro-organismos essenciais para uma vida saudável são introduzidos por meio da ingestão dos primeiros alimentos e, também, através do leite materno. O leite confere benefícios nutricionais essenciais à criança, ele é globalmente considerado o padrão-ouro para a alimentação infantil. Também, o leite materno garante benefícios não nutricionais explicados, sobretudo, pelos fenômenos epigenéticos.  Tais fenômenos são mecanismos moleculares envolvidos na interação entre fatores do ambiente e a expressão da informação contida no DNA. 1,5

A amamentação natural promove a maturação da microbiota saudável, destacando-se pela presença de lactobacilos e de carboidratos conhecidos como human milk oligosaccharides (HMOs), os quais auxiliam o crescimento e o desenvolvimento de bactérias não patogênicas. 5

A microbiota intestinal da mãe, portanto, é a principal fonte de bactérias que efetivamente colonizarão o trato gastrointestinal do recém-nascido e, assim, atuarão na promoção e no desenvolvimento do sistema imunológico. 1-5

Ressalta-se que algumas bactérias também podem ser transferidas de mãe para filho por meio do leite materno, são elas: Lactobacillus, Leuconostoc, Streptococcus, Enterococcus, Lactococcus e Weisella, bem como algumas espécies benéficas de Bifidobacterium. 5

A microbiota e o sistema imunológico

A principal função do sistema imunológico é defender o organismo contra patógenos invasores e outros agentes agressores, sendo eles infecciosos ou não. Em linhas gerais, ele atua também no reconhecimento de corpos, células e toxinas estranhas ao organismo, tal qual acontece na vigilância contra tumores. 5

Ainda intraútero, o sistema imunológico sofre uma espécie de hibernação de sua atividade (conhecida como downregulation) e passa a adquirir regularização após o nascimento e com o passar dos anos. Por essa razão – embora essa assertiva seja atualmente questionada – certos aspectos do sistema imunológico ainda não estão totalmente maduros nesse período, como por exemplo, a baixa concentração de anticorpos no recém-nascido (exceto da IgG, que é materna e transferida para o feto através da placenta). Existe, também, certo desequilíbrio na relação dos subtipos linfocitários, com discreto predomínio do subtipo Th2. 5

O leite materno é a melhor fonte de proteção ao recém-nascido contra enfermidades infecciosas, tendo grande influência sobre a composição da microbiota intestinal. A resposta microbiana intestinal leva à formação de anticorpos séricos contra bactérias patogênicas presentes no intestino, e estende essa proteção a outras mucosas e às glândulas exócrinas, como as salivares e as mamárias, durante a lactação. 3

Portanto, nessa fase, o sistema imunológico intestinal possui fundamental importância no amadurecimento global do sistema imunológico, criando uma barreira por meio da secreção de anticorpos (IgA), que inibem a colonização da mucosa por bactérias patógenas. Da mesma forma, utiliza mecanismos bioquímicos celulares, como a ativação de células específicas (T reguladoras) e a síntese de citocinas moderadoras (IL-10), que estão ligadas diretamente à tolerância oral. 5

Como manter a microbiota saudável?

Para um bom metabolismo materno e que ajude no crescimento e no desenvolvimento do bebê, é necessário que a mãe adote um estilo de vida que resulte em uma microbiota saudável para ambos. 5

Recomenda-se a adoção de hábitos saudáveis mesmo antes da gravidez. Indubitavelmente, esse comportamento otimiza a saúde da mãe ao passo que previne riscos durante a gravidez, quando ela acontecer. A microbiota intestinal da mãe influencia na formação do trato gastrointestinal do bebê, e pode ser modulada através de uma dieta adequada e suplementada com prebióticos e probióticos. Conforme supracitado, é durante o parto vaginal e durante a amamentação que a criança adquire uma série de bactérias provenientes da mãe. 2-5

Uma microbiota e um sistema imune equilibrados resultam em um indivíduo saudável. A microbiota não nasce pronta, ela se desenvolve ao longo do tempo. Sua formação precisa ocorrer de maneira robusta desde o período gestacional até o decorrer da infância, para que ao longo da vida não cause, eventualmente, desequilíbrio ao sistema imune e ao funcionamento intestinal (com a presença de inflamações e alergias). A adoção de hábitos saudáveis, como uma dieta adequada suplementada com prebióticos e probioticos, é um cuidado que, se mantido até a vida adulta, refletirá de maneira positiva os mecanismos dos processos digestórios. Haverá uma melhor absorção de nutrientes e um ótimo desenvolvimento da resposta imune, além da modulação do metabolismo e da prevenção de doenças. 4

Referências

1 – (FRANZ R. NOVAK, JOÃO APRÍGIO GUERRA DE ALMEIDA, GRACIETE O. VIEIRA, LUCIANA M. BORBA, 2001). Colostro humano: fonte natural de probióticos? 2001. Disponível em: http://www.jped.com.br/conteudo/01-77-04-265/port.asp. Acesso em: 21 set. 2020.

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