A doença do refluxo gastresofágico (DRGE), apesar de possuir
alguns diagnósticos diferenciais, pode ser facilmente caracterizada durante a
história clínica do paciente. Durante a endoscopia, o refluxo pode ser
visualizado assim como suas complicações mais frequentes como esofagite ou até
mesmo estenoses.
Uma revisão recente foi publicada no JAMA, com ênfase no
tratamento clínico da DRGE e resume de forma objetiva alguns pontos importantes
na terapêutica. Vamos dividir em duas partes para abordar todos os pontos.
Métodos
Metanálise com estudos relacionados a DRGE. Houve uma ênfase
para em ensaios clínicos, revisões sistemáticas e guidelines, publicados entre
janeiro de 2015 e setembro de 2020. Ao total foram levantados 114 artigos,
sendo 9 ensaios clínicos, 23 metanálises e 7 guidelines.
Resultados
A prevalência DRGE apesar de variar conforme a região e o
estudo analisado, está em torno de 13,3% nos adultos chegando a 22,1% no sul da
Ásia. Mesmo na população adulta há diferença entre as faixas etárias e nos
estudos que fizeram esta comparação a prevalência nos menores que 50 anos era
de 14% enquanto nos maiores que 50 anos chegava a 17,3%. Alguns estudos
mostraram um discreto predomínio do sexo feminino, porém na análise global não
houve diferença.
A obesidade é um importante fator para desencadear a DRGE,
uma metanálise demostrou 22,1% de DRGE nos obesos e 14,2% dos não obesos.
Diversos são os fatores relacionados a isto e o aumento da pressão
intra-abdominal, além de níveis elevados de estrogênio e também maior
prevalência de hérnia de hiato contribuem em conjunto para este achado.
Uma revisão também associou o uso de tabaco com o
desenvolvimento de DRGE, e na análise foi demostrado que os fumantes possuem
uma razão de chance de 1,26 de possuírem refluxo quando comparada aos não
fumantes. O tabaco aumenta o tempo de clearance de eventuais refluxos
fisiológicos, além de diminuir o tônus do esfíncter inferior.
Por estranho que pareça a infecção por H. pylori é protetora
na questão de desenvolvimento de DRGE, visto que a infecção crônica gera uma
atrofia da mucosa gástrica e com isto diminuição da produção de ácido pelas
células parietais. Dados compilados de 4 estudos demostraram que a erradicação
do H. pylori estava associada a um risco relativo de 1,46 vezes para o
desenvolvimento de DRGE.
Os sintomas de DRGE, apesar de típicos, possuem alguns
diagnósticos diferenciais entre eles e a própria gastrite. Sintomas que surgem
durante a atividade física devem ter especial atenção quanto a doenças
coronarianas.
Consequências da
doença do refluxo gastresofágico
Esofagite é a complicação mais frequente e está presente
entre 18 a 25 % dos pacientes com GERD. Importante ressaltar que alguns
pacientes podem apresentar esofagite e serem assintomáticos. Os casos
confirmados de esofagites devem ser tratados com inibidores de bomba de prótons
(IBP) por longo prazo, visto que a suspensão pode reativar sintomas. A dose
deve ser titulada para a menor dose que alivie sintomas. A esofagite não
tratada acarreta estenoses esofágicas.
Talvez uma das temidas consequências da DRGE é a metaplasia
intestinal no esófago, também chamada de esófago de Barrett, devido a sua
evolução para displasia e correlação direta com adenocarcinoma esofágico.
Dentre os pacientes com DRGE a prevalência é de 7,2% sendo que 13,9% apresentam
displasia. O risco de evolução para adenocarcinoma é baixo em pacientes sem
displasia, porém, elava consideravelmente quando a displasia está presente. Neste
contexto, as endoscopias devem ser realizadas a cada 6 meses naqueles que
apresentam displasia e a cada 3 a 5 anos nos casos sem displasia. Assim como na
esofagite, os pacientes devem manter IBP por longo prazo.
Para levar para casa
A DRGE é bastante frequente e certamente subdiagnosticada,
visto que a automedicação é frequente nesta patologia. Importante lembrar das
consequências danosas que um tratamento inadequado a longo prazo pode acarretar
e toda vez que nos depararmos com um caso de longa duração é fundamental uma
investigação mais profunda, mesmo que os pacientes tenham sintomas controlados.
Fonte: https://pebmed.com.br/doenca-do-refluxo-gastresofagico-revisao-recente/
Autor(a): Felipe
Victer
Cirurgião geral ⦁ Hospital Universitário Pedro
Ernesto ⦁ Hospital Universitário Clementino fraga filho (UFRJ) ⦁ Felllow do
American College of Surgeons ⦁ Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões ⦁
Membro da Sociedade Americana de Cirurgia Gastrointestinal e Endoscópica
(Sages) ⦁ Ex-editor adjunto da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões
(2016 a 2019)
Referências
bibliográficas:
- Maret-Ouda J, Markar SR, Lagergren J. Gastroesophageal
Reflux Disease: A Review. JAMA. 2020;324(24):2536–2547.
doi:1001/jama.2020.21360
- Graham DY, Tansel A. Interchangeable Use of Proton Pump
Inhibitors Based on Relative Potency. Clin Gastroenterol Hepatol.
2018;16(6):800-808.e7. doi:1016/j.cgh.2017.09.033