A terapia cognitivo comportamental envolve o uso de técnicas para enfrentamento dos sintomas do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Ela busca promover mudanças de padrões de pensamentos e comportamentos, assim como o desenvolvimento de habilidades e uma nova visão sobre si mesmo. A abordagem psicoterápica se mostra eficiente para adultos e crianças e em cerca de 12 a 15 sessões já é possível observar melhorias. Para saber mais, confira:
- O que é o TDAH e como ele afeta a vida das pessoas?
- O que é a terapia cognitivo comportamental e como ela pode ajudar no tratamento do TDAH?
- Como funciona a terapia cognitivo comportamental para o TDAH? (princípios, objetivos e técnicas)
- Que tipo de táticas da terapia cognitivo comportamental podem ajudar pessoas com TDAH?
- Quais são os benefícios da terapia cognitivo comportamental para as pessoas com TDAH?
O que é o TDAH e como ele afeta a vida das pessoas?
O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é um distúrbio do neurodesenvolvimento marcado, especialmente, por três características: a desatenção, a impulsividade e a agitação. A disfunção costuma afetar pessoas em todas as idades. No Brasil, cerca de 7,6% das crianças e adolescentes, com idades entre 6 e 17 anos, possuem o diagnóstico. Na faixa dos 18 aos 44 anos, a prevalência é de 5,2% e, acima dessa marca, a estimativa fica em 6,1%.
A maior parte dos diagnósticos ocorre no início da vida escolar, quando as crianças são submetidas a novas responsabilidades e maior autonomia. Nesse contexto ficam evidentes problemas de cognição e instabilidades de humor, características comuns em pessoas com TDAH.
Os sintomas do transtorno podem prejudicar o processo de aprendizagem e, por consequência, o desempenho escolar. São crianças com muita dificuldade em solucionar problemas, planejar, seguir orientações e reter informação. Além disso, estão constantemente em busca de compensações para se sentirem motivadas nos estudos. No caso dos adultos, os prejuízos podem ser ainda maiores como:
- Propensão a comportamentos sexuais de alto risco
- Instabilidade profissional
- Abuso de drogas como o álcool
- Maior probabilidade a acidentes
- Isolamento Social
A disfunção pode estar associada a outros problemas de saúde mentaal, como transtornos de humor, depressão, ansiedade, distúrbios de personalidade e outras condições psicóticas. Esse combo piora ainda mais a qualidade de vida da pessoa com TDAH.
O que é a terapia cognitivo comportamental e como ela pode ajudar no tratamento do TDAH?
A terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é uma modalidade da psicoterapia voltada para mudança de padrões do comportamento e pensamentos. Aborda a visão do paciente sobre si mesmo, suas habilidades e expectativas para o futuro. Nesse sentido, a pessoa é estimulada a entrar em contato com os sentimentos e pensamentos para compreender os gatilhos/motivos dos problemas. A TCC é indicada para o tratamento de diversas condições psíquicas de saúde, como:
- TDAH;
- Depressão;
- Ansiedade;
- Fobias;
- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC);
- Esquizofrenia;
- Transtornos bipolares.
As técnicas utilizadas pelos profissionais nesse tipo de terapia ajudam a:
- Diminuir a ocorrência de sintomas;
- Tratar problemas psíquicos em que remédios não fazem efeito ou são recomendados;
- Desenvolver técnicas para lidar com o estresse;
- Superar traumas emocionais, como violências na infância;
- Gerenciar sintomas físicos e emocionais;
- Lidar com perdas;
- Identificar gatilhos emocionais;
- Ajudar na comunicação e relacionamento com outras pessoas.
Como funciona a terapia cognitivo comportamental para o TDAH?
A terapia cognitivo comportamental varia de acordo com o profissional e os principais desafios enfrentados pelo paciente. Nos primeiros encontros, o terapeuta explica as práticas e aprofunda o conhecimento sobre o paciente para, depois, iniciar as táticas necessárias.
Nesse modelo de atendimento, as pessoas com TDAH aprendem a rever padrões de pensamento, que geralmente estão automatizados e se baseiam em interpretações equivocadas. A proposta é utilizar técnicas envolvendo:
- Reestruturação cognitiva;
- Solução de problemas;
- Diálogo interno;
- Treino do autocontrole;
- Autorreforço;
- Sistema de recompensas;
- Autoavaliação e monitoramento;
- Dramatizações;
- Treinamento de comunicação.
Que tipo de táticas da terapia cognitivo comportamental podem ajudar pessoas com TDAH?
As sessões de terapia cognitivo comportamental são estruturadas para tratar aspectos específicos e por isso o paciente com TDAH e seu psicoterapeuta costumam focar primeiro no sintoma com a maior repercussão no dia a dia. Para cada problema, existem técnicas específicas, tais como:
- Planejador diário
Montar uma agenda ou planejador será extremamente benéfico para pessoas com TDAH evitarem esquecimentos, aprenderem a gerenciar o tempo e a se organizar. A proposta é inserir todos os compromissos do dia, incluindo as tarefas mais cotidianas, como passear com o cachorro ou ligar para alguém. A ideia é que o planejador funcione como um guia.
Para que dê certo, é fundamental conferir as tarefas todos os dias, logo depois de acordar, assim como fazer alterações caso algum compromisso seja desmarcado. Vale levar a agenda para o trabalho ou a escola, a fim de consultá-la sempre que necessário. Nesse sentido, pode ser um planejador virtual, como a agenda do smartphone.
- Dividindo as tarefas
Começar um novo projeto é desafiador e quem possui o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade costuma procrastinar esse tipo de empreitada. Mas, com o auxílio da terapia, o paciente aprende que dividir o projeto em etapas torna a realização mais fácil.
Nesse processo, o terapeuta também investiga os motivos de tantos adiamentos, questionado o paciente, por exemplo, sobre: quais pensamentos passam pela mente sobre essa tarefa? O que você sente quando pensa nesta tarefa? A partir das respostas, é possível descobrir gatilhos e reprogramar pensamentos e emoções.
- Longe ou perto do campo de visão
Para evitar distrações, a técnica é muito simples: tirar de vista o que não será usado e deixar aparente o que precisa ser utilizado. Dessa forma, o foco estará voltado ao que realmente precisa ser feito. Nesse sentido, antes de começar a trabalhar ou estudar, é importante observar o espaço para se certificar de que tudo está em ordem e não faltam documentos, cadernos ou livros, por exemplo.
- Matriz de importância da urgência
A ideia é separar as atividades em quatro categorias: importantes; urgentes; não importantes; e não urgentes. A primeira e a última costumam ser mais fáceis, mas as demais se confundem. Isso porque as pessoas com TDAH tendem a esquecer que o “não urgente” significa um prazo maior para execução, mas ainda assim há uma data a ser respeitada.
Quais são os benefícios da terapia cognitivo comportamental para as pessoas com TDAH?
Há diversos benefícios da terapia cognitivo comportamental (TCC) e, entre eles, é possível citar:
- Melhora do autocontrole;
- Maior equilíbrio da atenção;
- Desenvolvimento de habilidades para solucionar problemas;
- Aumento da autoestima;
- Melhora da sensibilidade emocional;
- Diminuição dos atrasos e esquecimentos;
- Maior noção das prioridades.
Problemas associados ao TDAH, como a depressão e ansiedade, também apresentam melhora a partir das técnicas da TCC. No geral, os resultados aparecem depois de 12 a 15 sessões com duração de uma hora cada. Mesmo após a remissão dos sintomas, é importante seguir com as sessões para manutenção e desenvolvimento de outras habilidades.
Inclusive, nos casos de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em que há também a indicação de tratamento medicamentoso, a TCC é eficaz para os pacientes que resistem aos medicamentos prescritos devido à sensibilidade em relação a componentes da fórmula, por exemplo.
Vale ressaltar que o uso de medicamentos, como psicoestimulantes, são comumente indicados para adultos com TDAH, principalmente, quando outras doenças neurológicas estão associadas. Embora, no Brasil, as diretrizes terapêuticas adotadas na rede pública de saúde foquem somente em terapia cognitivo comportamental, orientação tanto para o paciente quanto para a família dele e hábitos alimentares.