Comunicado
12/06/2019
Miastenia Gravis: Doença de difícil diagnóstico

*Por Dr. Eduardo Estephan

Em diversos países, no dia 2 de junho foi comemorado o dia da conscientização da Miastenia Gravis, uma doença neurológica de difícil diagnóstico que leva fadiga e fraqueza, podendo surgir em qualquer idade e sexo.

Estima-se haver cerca de 40 mil miastênicos no Brasil, de acordo com estimativas mundiais. A causa é a produção de autoanticorpos (anticorpos que atacam o próprio organismo que os produz), cujo alvo é o ponto de comunicação entre nervo e músculo, a “junção neuromuscular”.

O resultado é um nervo intacto que não consegue fazer o músculo (também sadio) se contrair adequadamente. Ou seja, o cérebro manda o comando, a informação viaja pela medula, passa pelos nervos, mas não consegue atingir todas a fibras musculares necessárias e o músculo se contrai com menos força.

Classicamente, há fraqueza nos músculos voluntários que piora com a atividade deles e melhora com repouso. Na maioria dos casos, os primeiros sintomas começam nos músculos que movimentam os olhos e pálpebras. Consequentemente, as queixas mais frequentes são dificuldade para abrir os olhos e visão dupla (por causa do desalinhamento nos movimentos oculares).

A fadiga excessiva também está quase sempre presente. Com a evolução da doença pode aparecer fraqueza dos músculos mastigatórios, da deglutição, do rosto, da respiração e/ou dos membros. Dessa forma, existem apresentações variadas entre os pacientes, com diferentes combinações de músculos acometidos. Aliás, no mesmo paciente, a doença pode variar de um dia para outro.

Como não se vê alterações óbvias nos doentes, frequentemente, pessoas com miastenia são taxadas de preguiçosas (pela fadiga e por fraqueza induzida por exercício) ou de sonolentas (pelos olhos mais fechados resultado da fraqueza das pálpebras) em seus meios de convívio.

Hoje, com terapia apropriada, a maioria dos casos vive uma vida normal ou quase normal. No entanto, como a doença é muito heterogênea e bastante incomum, poucos médicos estão familiarizados com todas as suas variações, o que torna difícil o seu pronto reconhecimento.

Além disso, a miastenia é completamente desconhecida pelo público leigo e, por isso, os pacientes demoram a procurar um especialista, aumentando o tempo até o diagnóstico. Daí a importância de se divulgar essa doença, principalmente, para médicos não especialistas, mas também para a população geral.

Desde 1984, a ABRAMI (Associação Brasileira de Miastenia) tem desenvolvido importante papel na conscientização da doença e no apoio a pacientes e familiares, inclusive com a presença em eventos importantes como a Atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Miastenia Gravis, realizada pelo Ministério da Saúde no último 22 de maio. É também da ABRAMI a iniciativa de estabelecer nacionalmente o Dia da Miastenia Gravis no país.

* Dr. Eduardo Estephan

Neurologista do Ambulatório de Miastenia do Hospital das Clínicas (SP), do Ambulatório de doenças neuromusculares do Hospital Santa Marcelina (SP) e do Centro de Cérebro e Coluna (São José do Rio Preto). Atualmente, diretor científico da ABRAMI.