O uso de antibióticos no inverno pode afetar a microbiota intestinal, e é por isso que os probióticos devem ser reforçados nessa estação — o equilíbrio entre probióticos e antibióticos faz toda a diferença para a saúde intestinal
Durante os meses mais frios do ano, o número de atendimentos médicos por infecções respiratórias tende a crescer e muitos desses quadros exigem o uso de antibióticos.
Um dos problemas é que esse tipo de medicamento combate não apenas bactérias agressoras, mas também afetam as bactérias benéficas que habitam o intestino e que compõem a nossa flora intestinal.
O resultado? a diarreia associada ao uso de antibióticos. Mas na realidade, os efeitos vão além. É possível perceber alterações no apetite, distensão abdominal, desconforto gástrico e desequilíbrios intestinais.
Por isso, o uso de probióticos e antibióticos é tão importante. Os suplementos probióticos ajudam na recuperação da flora intestinal. Isso pode aliviar e até mesmo evitar os desconfortos intestinais pelo uso dos antibióticos.
Por que usamos mais antibióticos no inverno?
Durante o inverno, há um aumento importante na circulação de vírus e bactérias que afetam o sistema respiratório.
Com o clima frio, as pessoas permanecem por mais tempo em ambientes fechados e com pouca ventilação, facilitando a disseminação de microrganismos. O ar seco também tende a ressecar as vias aéreas, diminuindo a nossa proteção natural contra infecções.
Entre os quadros mais comuns dessa época estão faringites, laringites, sinusites bacterianas, bronquites e otites médias agudas. Quando essas doenças não melhoram com o tempo ou se agravam, os médicos indicam geralmente o uso de antibióticos, especialmente quando há risco de infecção bacteriana secundária.
Efeitos colaterais do uso frequente de antibióticos
Apesar de cumprirem um papel crucial, os antibióticos não discriminam entre bactérias benéficas e prejudiciais e eles acabam por eliminar a flora intestinal saudável. Isso pode, inclusive, afetar nossa imunidade e favorecer o crescimento desordenado de microrganismos patogênicos.
O resultado mais imediato a ser sentido pode ser a diarreia, como falamos no começo deste texto. Outros efeitos incluem gases excessivos, cólicas abdominais e alteração na consistência das fezes. E é aí que o uso de antibióticos e probióticos pode ser uma sacada importante na proteção do organismo.
Probióticos: o que são e como funcionam no organismo?
Probióticos são microrganismos vivos, como bactérias e leveduras, que, quando consumidos em quantidades adequadas, auxiliam no equilíbrio da flora intestinal.
Os benefícios dos probióticos incluem a melhora da digestão, o fortalecimento da imunidade e a prevenção de desequilíbrios causados por antibióticos.
Entre os mais estudados e utilizados está o Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®), uma cepa com capacidade comprovada de sobreviver ao ambiente ácido do estômago, aderir às células do intestino e repovoar a flora intestinal.
A microbiota intestinal humana tem papel importante em funções digestivas, metabólicas e até comportamentais. A presença dos probióticos ajuda a barrar a proliferação de agentes patogênicos e regula o trânsito intestinal.
O probiótico LGG®, por exemplo, atua formando um biofilme protetor e liberando substâncias com ação antimicrobiana, além de ajudar a manter a integridade da mucosa intestinal.
Em momentos de desequilíbrio da flora intestinal, esse probiótico pode ser consumido junto ao antibiótico com segurança, ajudando a minimizar os impactos do antibiótico no intestino e promover a recomposição da microbiota, reduzindo os desconfortos e acelerando a recuperação.
Como incluir os probióticos na rotina de forma segura
Alimentos fermentados, suplementos e recomendações médicas
Probióticos estão presentes em alimentos fermentados como iogurtes, kombucha, kefir e missô. No entanto, a quantidade e as cepas presentes nesses alimentos variam bastante, e nem sempre atingem os níveis necessários para efeitos benéficos comprovados.
Por isso, especialmente em períodos de uso de antibióticos, a suplementação probiótica é mais indicada.
É sempre importante procurar orientação de um profissional de saúde para avaliar se a suplementação alimentar é adequada ao seu caso, além de verificar se há interações com outros medicamentos ou restrições específicas.
Outra dica prática é buscar suplementos que não precisem de refrigeração e que contenham cápsulas gastro-resistentes, melhorando a sobrevivência das bactérias até o intestino.
Quando é necessário suplementar e quais cuidados ter
A suplementação com probióticos e antibiótico em conjunto pode ocorrer durante o consumo do medicamento e ser mantida por alguns dias após o fim do tratamento. Isso ajuda a minimizar os efeitos colaterais e acelera o processo de recuperação intestinal.
Pessoas com o sistema imunológico comprometido ou que estejam usando outros medicamentos devem consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer suplementação. Vale sempre conferir o rótulo do produto para verificar a quantidade de unidades formadoras de colônia (UFCs) e a presença de cepas confiáveis.
Nessa estação do ano em que o uso de antibióticos se intensifica, cuidar da saúde intestinal é o melhor a ser feito; além de evitar os desconfortos, a suplementação com probióticos comprovadamente ajuda na imunidade e protege o corpo de infecções e inflamações.
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