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Setembro Amarelo e a importância da saúde mental

Michael Emme era um jovem americano, que ajudava quem precisasse e parecia sempre estar de bom-humor. Também era apaixonado por mecânica. Tanto que pegou um carro Ford Mustang, de 1968, em muito mal estado e o restaurou totalmente. E pintou o Mustang de amarelo brilhante. O garoto, então, passou a ser chamado de Mike Mustang por todos que o conheciam.

Algum tempo depois, às 11h52 da noite do dia 8 de setembro de 1974, Dale e Darlene Emme chegam em casa e encontram o filho, então com apenas 17 anos, morto dentro do Mustang. 

“Não se culpem, mamãe e papai, eu amo vocês. Com amor, Mike 11:45 pm” era o que estava escrito num bilhete ao seu lado.

Apesar de estar um pouco triste com o fim do seu namoro, Mike não deu qualquer pista de que precisava de ajuda, deixando a família e amigos com os corações destroçados. 

Para que sua morte não fosse em vão, eles confeccionaram 500 cartões com fitinhas amarelas, a cor do Mustang que Mike tanto adorava, que foram colocados numa cesta em seu funeral. Neles, estava escrito: “Se você está pensando em suicídio, entregue este cartão a alguém e peça ajuda!”. Não sobrou nenhum na cesta.

Assim foi plantada a semente do programa Yellow Ribbon (Fita Amarela, na tradução em português), criado em 1994 pelos pais de Mike, que se dedicam até hoje à causa. 

Quase 20 mil cartões foram distribuídos até agora e perto de 115 mil vidas foram salvas pelo programa de prevenção, números que são atualizados em tempo real no site da organização.

Movimento mundial

Inspirado na tragédia de Mike e na trajetória e dedicação de seus pais que o dia 10 de setembro foi escolhido, em 2003, como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Na sequência veio o Setembro Amarelo (amarelo em referência à cor do Mustang de Mike).

Setembro Amarelo é um movimento mundial, estimulado pela Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio, que tem como principal objetivo conscientizar a população sobre a realidade do tema. Segundo o movimento, mais de 90% dos casos podem ser evitados de forma preventiva.

A campanha do Setembro Amarelo surgiu no Brasil em 2015. Considerado um problema de saúde pública, o suicídio é a causa da morte de um brasileiro a cada 45 minutos – em nível mundial uma pessoa se suicida a cada 40 segundos. 

O Setembro Amarelo na pandemia

Diferente e ainda mais urgente! Segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV), “o aumento das pressões emocionais no isolamento social, o medo da doença e as perdas decorrentes da Covid-19 são alguns dos desafios. Falar de saúde mental é mais urgente que nunca. A conscientização é essencial para reduzir os índices de suicídio no país”.

Para não parar com sua missão, o CVV programou para este mês de setembro palestras e debates online, além de vasto material informativo em seu site e suas redes sociais. 

Depois de se adaptar ao distanciamento social, ele já está com sua capacidade de atendimento de ligações do 188 normalizado. São cerca de 250 mil ligações por mês.

O CVV defende que todos podem ter atitudes para acolher um parente, um amigo ou um colega de trabalho que precisa ser escutado. E dá as dicas: “Acolher sem criticar, conversar sem julgar, compreender os sentimentos daqueles que passam por momentos de tristeza, ansiedade, medo ou sensação de solidão”.

Período pós-pandemia

Enquanto há essa fragilidade mental mais acentuada neste momento em que todos os esforços estão voltados para o desenvolvimento de vacina contra o novo coronavírus, engana-se quem pensa que a saúde mental da população, como um todo, vai melhorar na pós-pandemia. 

O Well Being Trust, fundação de promoção à saúde mental dos Estados Unidos, publicou o Projected Deaths Of Despair From Covid-19, em que faz uma projeção do impacto sem precedentes da pandemia. 

O documento diz que o desemprego, o isolamento social e as incertezas decorrentes do período de Covid-19 podem elevar o número do que a fundação chama de  “mortes por desespero” (que inclui suicídio e o consumo de drogas e de bebidas alcóolicas) nos EUA em 27,6 mil a até 154 mil casos a mais nos próximos dez anos.

O que está por trás do suicídio?

A tristeza de Mike Emme por ter levado o fora da namorada, por si só, dificilmente o levaria a cometer suicídio. Muito provavelmente, ele sofria de algum transtorno mental, como depressão. 

O sofrimento calado, sem buscar ajuda junto a parentes ou amigos, ou mesmo um profissional, acaba amplificando a dor e pode parecer não haver uma luz no fim do túnel. Então, num momento, a pessoa vê que a única saída é por fim a sua vida.

Depressão, dependência de álcool e de outras drogas, transtorno bipolar são os problemas de saúde mental mais associados ao suicídio. O CVV destaca que falar com alguém, quando a pessoa sente que está sentindo uma elevada pressão interna, no sentido de pedir ajuda, é uma estratégia eficiente para prevenir o suicídio.

A campanha Setembro Amarelo defende a necessidade de se quebrar os tabus relacionados ao suicídio. Ainda há muito receio e vergonha em falar sobre o tema, assim como sobre a saúde mental como um todo.

Recorrer a um médico psiquiatra ou a um psicólogo não deve ser considerado como uma fraqueza. Os sofrimentos provenientes de transtornos mentais podem ser aliviados – e muitas vezes cessam – com o tratamento correto. Aqui o que vale é buscar o bem-estar e uma vida mais feliz.

Então, aceite o convite da Cellera: neste mês de setembro, vista-se de amarelo!

Fontes:

www.yellowribbon.org/who-we-are/our-story.html

www.setembroamarelo.org.br/

www.graham-center.org/content/dam/rgc/documents/publications-reports/reports/Projected-Deaths-Despair-COVID-19.pdf

www.cvv.org.br/blog/setembro-amarelo-mes-de-prevencao-do-suicidio/