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Síndrome de Burnout: conheça a doença ocupacional da exaustão

A síndrome de Burnout é um adoecimento mental relacionado ao excesso de trabalho e estresse no ambiente profissional, que pode levar a casos clínicos de ansiedade e depressão. No início de 2022, a síndrome foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doença ocupacional após ser incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID). Isso significa que trabalhadores agora estão assegurados dos mesmos direitos trabalhistas e previdenciários que em outras doenças relacionadas ao emprego.

De acordo com a OMS, a síndrome de Burnout chega a trazer uma perda anual de um trilhão de dólares por causar uma diminuição na produtividade dos funcionários. Um estudo de 2016, realizado pela Escola de Economia de Londres mostrou que o Brasil é o segundo país que mais sofre com afastamentos relacionados à saúde mental do trabalhador, perdendo apenas para os Estados Unidos.

O que é Síndrome de Burnout e quais são as causas?

Conhecida também como síndrome do esgotamento profissional, a síndrome de Burnout é um distúrbio emocional causado pelo excesso de trabalho e por situações desgastantes no ambiente empregatício. Atingindo principalmente profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades abundantes, o mal também pode acontecer quando o trabalhador tem objetivos e metas inalcançáveis.

Além disso, gestores abusivos e uma cultura empresarial tóxica podem contribuir para o desenvolvimento da síndrome de Burnout, levando à exaustão física e mental do funcionário.

Principais causas da síndrome de Burnout:

  • Sobrecarga de atividades;
  • Pressão exacerbada;
  • Falta de capacitação para realizar tarefas;
  • Falta de reconhecimento pelo trabalho desempenhado;
  • Competitividade exagerada no ambiente de trabalho;
  • Estresse crônico.

Quais são as profissões mais afetadas pela Síndrome de Burnout?

Todas as profissões estão sujeitas ao desenvolvimento da síndrome de Burnout, mas alguns profissionais costumam sofrer mais com esse mal devido à natureza do trabalho que desempenham, seja por acúmulo de horas laborais ou pela grande responsabilidade que as atividades demandam. Os profissionais que mais sofrem com a doença são:

  • Médicos;
  • Enfermeiros;
  • Policiais;
  • Bombeiros;
  • Bancários;
  • Professores;
  • Jornalistas;
  • Profissionais que desempenham jornadas duplas ou triplas.

Quais são os sintomas da síndrome de Burnout?

Os sintomas da síndrome de Burnout são diversos e é preciso ressaltar que não é necessário sentir todos para ser diagnosticado. Os mais comuns são exaustão extrema, tanto física quanto mental, desânimo e dores de cabeça frequentes, mas existem outros muitos que também indicam a doença, tais como:

  • Alterações no apetite;
  • Distúrbios no sono;
  • Dificuldade para se concentrar;
  • Pensamentos negativos;
  • Sentimento de fracasso, insegurança e derrota;
  • Alterações de humor;
  • Dores musculares;
  • Alteração dos batimentos cardíacos;
  • Problemas gastrointestinais;
  • Aumento da pressão arterial;
  • Isolamento;
  • Tontura;
  • Ansiedade;
  • Depressão.

Os quadros de depressão e ansiedade já representam casos mais sérios da síndrome e podem ser um agravamento da doença, que começa com sintomas mais leves e evolui com o tempo.

Grande parte das pessoas costuma ignorar os primeiros sinais por acreditar que são causados apenas pelo cansaço do dia a dia e que são um mal-estar passageiro. No entanto, em alguns casos, os sintomas da síndrome da Burnout podem progredir rapidamente e levar até mesmo ao suicídio. Por isso, caso você esteja se sentindo mal e perceba que o estresse no trabalho está causando danos à saúde mental, é recomendado buscar ajuda médica.

Como é diagnosticada a síndrome de Burnout?

O diagnóstico é feito por um médico psiquiatra após a análise clínica do paciente. Esse profissional está preparado para reconhecer a síndrome de Burnout, a causa dos sintomas apresentados e orientar a melhor forma de tratamento.

Há situações em que a pessoa se habitua ao ambiente de trabalho abusivo ou ao estresse crônico e se nega a buscar ajuda ou reconhecer que possui um problema. Por isso, é importante que amigos próximos, familiares e até mesmo colegas de empresa fiquem atentos a mudanças de comportamento, para que possam ajudar a identificar os sinais de alerta e incentivar a busca por acompanhamento médico.

Qual é o tratamento para a síndrome de Burnout?

O tratamento para a síndrome de Burnout depende muito do nível de gravidade da doença, mas, de forma geral, ele envolve:

Psicoterapia – a pessoa desenvolve ferramentas para que consiga lidar melhor com os próprios sentimentos e a relação com o ambiente de trabalho. No entanto, é imprescindível que também haja um esforço para que sejam realizadas mudanças diretas na própria cultura da empresa e nas condições da prestação de serviço.

Medicamentos – como antidepressivos e ansiolíticos. Podem ser necessários principalmente em casos mais graves da síndrome e ajudam a reduzir os sinais e sintomas.

Mudança de hábitos – algumas práticas e alterações na rotina servem como complemento ao tratamento medicamentoso e com psicoterapia, como a inclusão de exercícios físicos no dia a dia e o descanso apropriado.

Algumas vezes, é necessário que o profissional fique afastado do emprego enquanto está em tratamento para que saia do ambiente que o adoeceu e possa focar em sua recuperação.

Atenção: como qualquer outra doença, a falta de tratamento para a síndrome de Burnout pode levar a piora do quadro e as consequências podem ser muito graves. A depressão e ansiedade podem se tornar problemas crônicos e até mesmo levar à internação. A pessoa que enfrenta o Burnout de forma negligente pode também acabar com problemas de lapso de memória e distúrbios gastrointestinais para a vida toda.

Dicas de como evitar a síndrome de Burnout no ambiente de trabalho

Sabemos que nem sempre é possível que o profissional faça mudanças estruturais em seu emprego para que a Síndrome de Burnout não aconteça com ele ou com seus colegas. Mas existem algumas práticas que podem ser aplicadas no dia a dia para evitar o desenvolvimento da doença, tanto a nível pessoal, quanto organizacional. São elas:

  • Estabeleça metas e objetivos profissionais alcançáveis a curto, médio e longo prazo;
  • Faça exercícios físicos por, ao menos, 30 minutos por dia para regular o estresse;
  • Invista em hobbies ou atividades prazerosas fora do trabalho;
  • Converse com pessoas de confiança sobre o que está sentindo;
  • Tenha empatia com os colegas e busque entender as demandas e dificuldades de cada um;
  • Descanse adequadamente, tendo pelo menos 8 horas de sono diárias;
  • Procure formas de se desligar do trabalho após o fim do expediente.

O equilíbrio entre a vida profissional e social é fundamental para evitar a síndrome de Burnout e, caso sinta que a situação não está ideal, busque ajuda de especialistas para se cuidar.

Veja também:

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Referências:


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Ideação suicida entre médicos: burnout ou depressão?

O nono mês do ano é marcado por projetos destinados à conscientização e discussão saudável sobre o suicídio e suas implicações, o “setembro amarelo”. Desta vez, vamos discutir os principais pontos de um artigo publicado no JAMA em dezembro de 2020 e que procurou avaliar a relação entre ideação suicida e erros médicos com a síndrome de burnout e a depressão.

Alguns trabalhos mostram um risco aumentado de ideação suicida entre médicos, com taxas variando entre os anos de formação e de atividade profissional. Várias condições podem estar relacionadas a esse achado, como problemas nas relações interpessoais, uso de substâncias, sentimentos de culpa, tendência a comportamentos autodestrutivos, depressão e problemas ocupacionais. Este último ponto envolve um subgrupo de fatores que merecem destaque, como assédio no local de trabalho, a ausência de figuras de referência durante a formação pós-graduada, o grande volume de trabalho, a escolha por certas especialidades, etc. Não à toa os autores ressaltam que a síndrome de burnout vem alcançando níveis epidêmicos entre os médicos.

Contudo, há ainda uma discussão entre os estudiosos se a síndrome de burnout e a depressão fariam parte de um mesmo construto ou se seriam diagnósticos independentes. Neste trabalho, os autores citam uma metanálise e estudos psicométricos que sugerem tratar-se de entidades distintas, o que também foi encontrado por eles.

Estudo sobre burnout e depressão

Dessa forma, realizaram um estudo transversal entre novembro de 2018 e fevereiro de 2019 com médicos selecionados randomicamente nos registros da American Medical Association Physician Masterfile. De todos os médicos convidados a participar do estudo, apenas 11,4% o fizeram, sendo que 1.354 participantes foram incluídos nas análises. Foi oferecido um incentivo financeiro para que esses médicos preenchessem um inquérito eletrônico composto por: consentimento para a participação na pesquisa, três subescalas para avaliar burnout, uma escala para avaliar depressão, um instrumento com quatro itens para avaliar erros médicos e sua frequência e uma pergunta sobre a presença de pensamentos suicidas nos últimos 12 meses.

A amostra selecionada era composta majoritariamente por homens, indivíduos de etnia branca, com menos de 45 anos, que não trabalhavam nos cuidados de saúde primários e estavam atuando na prática clínica.

Resultados

Dos 1.354 avaliados, 5,5% informaram ter tido pensamentos suicidas nos 12 meses anteriores. Antes de se ajustar para o transtorno depressivo maior, havia sido encontrada uma correlação entre burnout e ideação suicida. Contudo, essa associação não se manteve após o ajuste para depressão. Isso, inclusive, é consistente com a descrição da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a síndrome de burnout, na qual essa síndrome é entendida como ligada a questões ocupacionais; diferentemente dos transtornos mentais, que apresentam alterações em múltiplos domínios. Entretanto, foi encontrada uma correlação entre burnout e erros médicos relatados pelos próprios participantes. Essa associação com os erros médicos não ocorreu com a depressão.

A depressão propriamente dita correlacionou-se com a ideação suicida, mesmo após o ajuste para burnout. Isso se mostra consistente com o que é descrito pela literatura médica.

Dessa forma, é possível que associações anteriores entre burnout e ideação suicida sejam, na verdade, ou um fator de confundimento quando há depressão comórbida; ou fruto de uma associação indireta entre as duas condições; ou tenha ocorrido pela ausência de ajuste para depressão nas análises; ou os instrumentos usados nas pesquisas prévias não possuíam as características apropriadas.

É importante lembrar que a depressão é uma doença responsável por um grande impacto na vida dos pacientes, tornando necessária a avaliação médica e o tratamento correto – seja na forma de psicoterapia ou associada ao uso de psicofármacos e outras terapias biológicas. Já o burnout se relaciona às questões ocupacionais e, no caso dos médicos, pode afetar o atendimento dos pacientes ou, como sugerem os resultados deste trabalho, se relacionar a uma maior quantidade de erros médicos. A melhor forma de abordá-lo seria através de estratégias ocupacionais.

Considerações

Esses resultados devem ser interpretados à luz de limitações inerentes aos trabalhos científicos: estudos transversais não conseguem delimitar relações de causalidade; as questões referentes à seleção da amostra limitam a generalização dos resultados e a presença do viés de participação, uma vez que foram utilizadas escalas respondidas pelos mesmos.

Caso você ou alguém que você conhece tenha tido pensamentos que envolvam o conteúdo de suicídio, não deixe de procurar ajuda profissional.

Para mais informações sobre depressão e síndrome de burnout, acesse o Whitebook.

Fonte: https://pebmed.com.br/ideacao-suicida-entre-medicos-burnout-ou-depressao/

Autor(a): Paula Benevenuto Hartmann

Médica pela Universidade Federal Fluminense (UFF) ⦁ Psiquiatra pelo Hospital Universitário Antônio Pedro/UFF ⦁ Mestranda em Psiquiatria e Saúde Mental pela Universidade do Porto, Portugal.

Referências bibliográficas:

  • Menon NK, Shanafelt TD, Sinsky CA, et al. Association of Physician Burnout With Suicidal Ideation and Medical Errors. JAMA Netw Open. 2020;3(12):e2028780. doi: 10.1001/jamanetworkopen.2020.28780