19/02/2021
LGG® vs. Saccharomyces boulardii

Introdução

Os probióticos fazem parte de uma área de pesquisa crescente nas ciências médicas, uma vez que tais produtos unem saúde e nutrição. A sua aplicação foi avaliada em vários contextos, incluindo numerosos processos patológicos gastrointestinais (síndrome do intestino irritável, intolerância alérgica, alergias alimentares), doenças da cavidade oral (cárie, doença periodontal, halitose), certos processos infecciosos (especialmente síndrome diarreica aguda) e outras condições, como dermatite atópica, fibrose cística e até mesmo otimização de vacinas orais.1

Figura 1. Probióticos: conceito e exemplos

Adaptada de: Domingo JJS. Gastroenterol Hepatol; 20172

No entanto nem todos os probióticos disponíveis são semelhantes, uma vez que as evidências nos permitem reconhecer a especificidade das diferentes cepas para cada condição.3 O Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®) está entre os probióticos mais avaliados em estudos pré-clínicos e clínicos. Todo o seu genoma foi caracterizado em 2009, e sua ação se dá pela alta adesão à mucosa digestiva, pela sua capacidade de sintetizar uma grande quantidade de proteínas – mesmo em meio com pH ácido – e por sua alta atividade em relação ao sistema imunológico do hospedeiro.4

Comparação com Saccharomyces boulardii

O S. boulardii é uma levedura não patogênica usada como probiótico,2 com base em vários mecanismos de ação.5

Colite ulcerativa

Embora uma revisão sistemática de 2011 tenha relatado que evidências suficientes não estavam disponíveis para recomendar o uso de probióticos para induzir ou manter a remissão dessa doença inflamatória intestinal,6 foi descrita a eficácia do LGG® para esses pacientes. Em um estudo com 187 adultos com colite ulcerativa, os participantes foram divididos para receber tratamento com mesalazina, LGG® (18 x 109 microrganismos viáveis ​​por dia) ou a combinação de ambas as estratégias. Verificou-se que o LGG® é significativamente mais eficaz na manutenção do tempo de remissão do que a terapia convencional.7 Esse efeito não foi descrito para o S. boulardii.

Diarreia por antibióticos

O S. boulardii foi proposto para sintetizar uma protease que poderia impedir o efeito das toxinas produzidas pelo Clostridium difficile. Todavia os estudos sobre o papel dessa levedura na prevenção secundária da diarreia por C. difficile foram contraditórios, e até um estudo com 477 pacientes teve que ser interrompido precocemente devido à falta de resultados.8 Enquanto isso, em uma metanálise de 11 estudos (n = 1.308), o tratamento com LGG® reduziu o risco de diarreia associada a antibióticos de 22,4% para 12,3%, em comparação com o placebo; essa diferença atingiu níveis significativos para a população pediátrica.9

Segurança

De acordo com os dados coletados em metanálises de estudos randomizados e controlados, os probióticos são considerados um tratamento seguro e bem tolerado, não associado a um risco aumentado de eventos adversos em curto prazo.10

Contudo foram relatadas algumas diferenças entre os principais probióticos disponíveis e o risco potencial de infecções secundárias.

Em uma revisão sistemática de 72 artigos que incluíram estudos controlados e randomizados, casos clínicos e ensaios de segurança com pacientes recebendo suporte nutricional parenteral ou enteral, foi analisada a proporção de eventos adversos relacionados ao uso de probióticos. Foram descritos cinco casos de bacteremia causada por LGG® contra 27 casos de fungemia por S. boulardii; essas complicações foram diagnosticadas com base nos achados clínicos e na confirmação do isolamento do agente causador em meios de cultura ou por técnicas moleculares.11

Conclusões

O LGG® e o S. boulardii estão entre os agentes probióticos mais amplamente prescritos e conhecidos.2 Embora ambas as cepas sejam consideradas úteis nos contextos apropriados, há evidências claras de benefícios para o LGG® e um perfil de segurança que pode ser interessante especialmente na administração de probióticos nos pacientes mais críticos.

Referências

[1] Singh VP, Sharma J, Babu S, Rizwanulla, Singla A. Role of probiotics in health and disease: a review. J Pak Med Assoc. 2013 Feb;63(2):253-7. [2] Domingo JJS. Revisión del papel de los probióticos en la patología gastrointestinal del adulto. Gastroenterol Hepatol. 2017;40(6):417-29. [3] Cruchet S, Furnes R, Maruy A, Hebel E, Palacios J, Medina F, et al. The Use of Probiotics in Pediatric Gastroenterology: A Review of the Literature and Recommendations by Latin-American Experts. Pediatric Drugs. 2015;17(3):199-216. [4] Capurso L. Thirty years of Lactobacillus rhamnosus GG. A review. J Clin Gastroenterol. 2019;53:S1–S41. [5] Pais P, Almeida V, Yılmaz M, Teixeira MC. Saccharomyces boulardii: What Makes It Tick as Successful Probiotic? J Fungi (Basel). 2020 Jun 4;6(2):78. [6] Do VT, Baird BG, Kockler DR. Probiotics for maintaining remission of ulcerative colitis in adults. Ann Pharmacother. 2010;44:565-71. [7] Zocco MA, dal Verme LZ, Cremonini F, Piscaglia AC, Nista EC, Candelli M, et al. Efficacy of Lactobacillus GG in maintaining remission of ulcerative colitis. Aliment Pharmacol Ther. 2006;23:1567-74. [8] Goldstein EJC, Johnson SJ, Maziade PJ, Evans CT, Sniffen JC, Millette M, McFarland LV. Probiotics and prevention of Clostridium difficile infection. Anaerobe. 2017 Jun;45:114-9. [9] Szajewska H, Kołodziej M. Systematic review with meta-analysis: Lactobacillus rhamnosus GG in the prevention of antibiotic-associated diarrhoea in children and adults. Aliment Pharmacol Ther. 2015;42(10):1149-57. [10] Wilkins T, Sequoia J. Probiotics for Gastrointestinal Conditions: A Summary of the Evidence. Am Fam Physician. 2017;96(3):170-8. [11] Whelan K, Myers CE. Safety of probiotics in patients receiving nutritional support: a systematic review of case reports, randomized controlled trials, and nonrandomized trials. Am J Clin Nutr. 2010;91:687-703.

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