De acordo com dados epidemiológicos mundiais de distúrbios neuromusculares, a estimativa é 1,5 mil novos casos por ano de Miastenia Gravis no Brasil
A Miastenia Gravis é uma patologia autoimune que afeta a comunicação entre o sistema nervoso e os músculos, a junção muscular. Atualmente, São Paulo representa 28% de pacientes com a doença, de difícil diagnóstico e sem cura, é caracterizada pela fraqueza muscular nos braços e pernas, queda das pálpebras, visão dupla e dificuldade para falar, mastigar e engolir.
De acordo com o Ministério da Saúde, 25% dos miastênicos apresentam somente os sintomas oculares, como ptose (pálpebra caída) e visão dupla. Já os que têm sintomas mais leves e generalizados nos músculos oculares, nas pernas e braços correspondem a 35% dos casos. Os mesmos sintomas em graus moderados e graves, mas acompanhados de fraqueza nos músculos da região bulbar – que afetam a fala e a deglutição – representam 20% dos casos.
“A pandemia de COVID-19 gerou muitas dúvidas sobre a imunização, já que os portadores podem ser considerados do grupo de risco. Apenas os que apresentam sintomas oculares, sem sintomas em outras regiões e que não fazem uso de corticoides e imunossupressores são considerados exceção”, explica o médico neurologista e diretor científico da Associação Brasileira de Miastenia Gravis (ABRAMI), Eduardo Estephan.
O tratamento consiste, na maioria dos casos, no uso de corticoides ou imunossupressores, medicamentos que afetam a imunidade e, consequentemente, a resposta vacinal. Segundo o especialista, “ainda não se sabe o quanto essas medicações podem diminuir o efeito da vacina, já que não há estudos científicos com esse grupo de pacientes. Quanto aos pacientes timectomizados, provavelmente, o sistema imunológico deles não é tão afetado quanto o dos imunossuprimidos, mas também pode haver um efeito menor da vacina. De qualquer forma, a recomendação é que os portadores de Miastenia Gravis tomem a vacina, embora saibamos que nos pacientes imunossuprimidos o efeito dela pode ser menor”, esclarece.
O médico observa ainda que é fundamental prestar atenção no momento certo de tomar a vacina. Algumas pessoas apresentam uma reação vacinal com sintomas leves, como dor de cabeça e na região onde foi feita a aplicação. Essas reações duram de um a dois dias e são transitórias, mas podem levar a piora dos sintomas miastênicos enquanto durarem, como pode acontecer com qualquer inflamação. Por isso, recomenda-se que qualquer vacina seja tomada no momento que o paciente estiver bem compensado da doença, e a abordagem desse tema com o médico que faz o acompanhamento do paciente é muito importante.
Ainda segundo ele, muitos miastênicos têm receio de que o estímulo imunológico piore com a vacina. A Miastenia Gravis ou adquirida é uma doença autoimune, diferente da Miastenia Congênita. Contudo, a maioria das vacinas existentes já é administrada em pessoas com Miastenia Gravis – exceto as que são feitas com vírus vivos para quem usa imunossupressor – e não parece haver frequentes eventos dessa natureza.
“O ideal é conversar com o médico que esteja acompanhando o caso para que se considere o melhor momento de tomar a vacina”, recomenda o Dr. Eduardo. Vale lembrar que os imunossuprimidos fazem parte do terceiro grupo, que inclui pessoas com morbidades, sendo que a vacinação desse grupo será posterior a dos profissionais de saúde, idosos e indígenas.
Sinovac/Butantan ou AstraZeneca/Fiocruz?
As duas vacinas disponíveis no Brasil são as do Laboratório Sinovac/Instituto Butantan e da AstraZeneca/Fiocruz. A vacina da Sinovac/Butantan usa o vírus inativado, ou seja, morto por processos químicos. A vacina da AstraZeneca/Fiocruz usa outro método, um vetor viral (adenovírus) geneticamente modificado que contém uma “mensagem” no código do vírus. Ela é enviada ao sistema imunológico, que a reconhece e começa a produção de proteínas para estimular as defesas.
Sendo assim, ambas não usam vírus vivos como agente imunizante (o vírus contido na vacina da AstraZeneca/Fiocruz é apenas um vetor), portanto podem ser administradas em miastênicos, incluindo os que fazem uso de imunossupressores. Mesmo os que já tiveram a COVID-19 devem ser vacinados para evitar casos de reinfecção, já que ainda não se sabe o tempo de cobertura da imunização. A recomendação dos especialistas para quem foi infectado é que aguarde o período de quatro semanas a partir da data do primeiro sintoma, para que não seja confundido com uma possível reação vacinal.
De acordo com o Dr. Eduardo, menos de 1% dos imunizados apresentou efeitos adversos, como fadiga, febre, coceira, dores no corpo e na região da aplicação. “Dessa forma, mesmo que a fraqueza muscular se manifeste após a primeira dose, vale a pena se imunizar, já que os sintomas são passageiros”, finaliza.
É fundamental lembrar que as duas vacinas devem ser administradas em duas doses para fazer efeito. O intervalo entre uma dose e outra é de 14 a 28 dias no caso da vacina do Butantan e de 12 semanas para a vacina da Fiocruz. Os especialistas recomendam ainda que os pacientes que fazem uso de imunossupressores fiquem em observação por uns 15 minutos após a aplicação da vacina, por precaução.
Dr. Eduardo Estephan – Médico neurologista do Ambulatório de Miastenia do Hospital das Clínicas e do Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital Santa Marcelina, ambos de São Paulo.
Para mais informações sobre miastenia, acesse o site:
https://www.miastenia.com.br/abrami/
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